De produção de frutas a flores: o que o Ceará tem a perder na disputa do território com o Piauí

Segundo estudo, há mais de 1 mil estabelecimentos agropecuários na área de litígio

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
Plantio
Legenda: Em Carnaubal, na Ibiapaba, um plantio de morangos orgânicos
Foto: Kárison Mesquita / Arquivo Diário do Nordeste

O território disputado pelo Ceará e o Piauí abrange mais 1 mil estabelecimentos de produtores rurais que vivem das terras cearenses, segundo mapeamento do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Estado (Ipece).

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Nos 13 municípios com áreas em litígio, há produção de frutas e flores, sobretudo na Serra da Ibiapaba, onde há forte vocação econômica para a agropecuária. O levantamento, no entanto, considera o ano de 2017, com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar da defasagem da estatística, analisar esse retrato do traçado geográfico permite compreender a importância dele para o desenvolvimento regional, como explica o analista de políticas públicas do Ipece, Cléber Nascimento de Medeiros.

"A Serra da Ibiapaba, devido as suas peculiaridades geoambientais, possui vocação econômica natural para a agropecuária, sendo uma área produtora de diversos tipos de cultura, destacando-se: banana, cana-de-açúcar, mamão, manga, maracujá, tomate, entre outros. Na região, também há forte presença da atividade de floricultura", lista Cleyber Nascimento de Medeiros, analista de Políticas Públicas do Ipece e membro do Grupo de Trabalho sobre o litígio CE/PI, coordenado pela Procuradoria Geral do Estado (PGE).

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, a disputa territorial é preocupante.

“A Ibiapaba é o pomar do Ceará, um grande celeiro de produção de verduras e frutas, por exemplo. Perder essa região seria uma catástrofe, nem trabalhamos com essa possibilidade”, diz.
Amílcar Silveira
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec)

Outro ponto, acrescenta, é que a produção abastece o mercado cearense e a região Norte do País, “gerando muito emprego e renda” nesses lugares. 

Conforme dados são do Centro de Inteligência e Inovação da Agropecuária do Ceará (Ciiagro) da Faec, em oito cidades na Serra da Ibiapaba, há 44, mil atividades econômicas de produção de lavouras, incluindo a agricultura familiar. São essas cidades:

  1. Viçosa do Ceará;
  2. Tianguá;
  3. Ubajara;
  4. Ibiapina;
  5. São Benedito;
  6. Carnaubal;
  7. Guaraciaba do Norte;
  8. Croatá. 

Desse total, 23, 8 mil eram lavouras temporárias. Veja os números:

  • 4.474 plantações de Horticultura e floricultura;
  • 9.190 atividades de pecuária e criação de outros animais;
  • 1910 produções florestais - florestas nativas;
  • 10 atividades de Aquicultura. 

Para o levantamento, o Ciiagro também considerou os dados de 2017, do IBGE. 

O que pensa a população dessas cidades?

Os pesquisadores do Ipece visitaram as regiões. Segundo o analista Cléber Nascimento de Medeiros, a maioria da população cearense residente na área de litígio tem um sentimento de pertencimento.

“Devido principalmente à identidade e ao vínculo cultural com o território. Essa identidade abrange a conexão pessoal dos moradores com o Estado onde nasceram, incluindo aspectos culturais, sociais e emocionais”, aponta.

A percepção é a mesma por parte dos produtores rurais. “Também há o receio de perderem serviços públicos ofertados historicamente pelo Ceará e seus municípios, relacionados, por exemplo, à educação, saúde, infraestrutura hídrica e ações de desenvolvimento agrário”, enumera.

 

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