De produção de frutas a flores: o que o Ceará tem a perder na disputa do território com o Piauí
Segundo estudo, há mais de 1 mil estabelecimentos agropecuários na área de litígio
O território disputado pelo Ceará e o Piauí abrange mais 1 mil estabelecimentos de produtores rurais que vivem das terras cearenses, segundo mapeamento do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Estado (Ipece).
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Nos 13 municípios com áreas em litígio, há produção de frutas e flores, sobretudo na Serra da Ibiapaba, onde há forte vocação econômica para a agropecuária. O levantamento, no entanto, considera o ano de 2017, com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar da defasagem da estatística, analisar esse retrato do traçado geográfico permite compreender a importância dele para o desenvolvimento regional, como explica o analista de políticas públicas do Ipece, Cléber Nascimento de Medeiros.
"A Serra da Ibiapaba, devido as suas peculiaridades geoambientais, possui vocação econômica natural para a agropecuária, sendo uma área produtora de diversos tipos de cultura, destacando-se: banana, cana-de-açúcar, mamão, manga, maracujá, tomate, entre outros. Na região, também há forte presença da atividade de floricultura", lista Cleyber Nascimento de Medeiros, analista de Políticas Públicas do Ipece e membro do Grupo de Trabalho sobre o litígio CE/PI, coordenado pela Procuradoria Geral do Estado (PGE).
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, a disputa territorial é preocupante.
“A Ibiapaba é o pomar do Ceará, um grande celeiro de produção de verduras e frutas, por exemplo. Perder essa região seria uma catástrofe, nem trabalhamos com essa possibilidade”, diz.
Outro ponto, acrescenta, é que a produção abastece o mercado cearense e a região Norte do País, “gerando muito emprego e renda” nesses lugares.
Conforme dados são do Centro de Inteligência e Inovação da Agropecuária do Ceará (Ciiagro) da Faec, em oito cidades na Serra da Ibiapaba, há 44, mil atividades econômicas de produção de lavouras, incluindo a agricultura familiar. São essas cidades:
- Viçosa do Ceará;
- Tianguá;
- Ubajara;
- Ibiapina;
- São Benedito;
- Carnaubal;
- Guaraciaba do Norte;
- Croatá.
Desse total, 23, 8 mil eram lavouras temporárias. Veja os números:
- 4.474 plantações de Horticultura e floricultura;
- 9.190 atividades de pecuária e criação de outros animais;
- 1910 produções florestais - florestas nativas;
- 10 atividades de Aquicultura.
Para o levantamento, o Ciiagro também considerou os dados de 2017, do IBGE.
O que pensa a população dessas cidades?
Os pesquisadores do Ipece visitaram as regiões. Segundo o analista Cléber Nascimento de Medeiros, a maioria da população cearense residente na área de litígio tem um sentimento de pertencimento.
“Devido principalmente à identidade e ao vínculo cultural com o território. Essa identidade abrange a conexão pessoal dos moradores com o Estado onde nasceram, incluindo aspectos culturais, sociais e emocionais”, aponta.
A percepção é a mesma por parte dos produtores rurais. “Também há o receio de perderem serviços públicos ofertados historicamente pelo Ceará e seus municípios, relacionados, por exemplo, à educação, saúde, infraestrutura hídrica e ações de desenvolvimento agrário”, enumera.