Consumo de carne vermelha cai 22% nos supermercados cearenses; aves e ovos ganham espaço

Ovos tiveram crescimento de 10% nas vendas em supermercados do Estado no ano de 2021 diante da elevação dos preços e orçamento apertado

Escrito por Ingrid Coelho , ingrid.coelho@svm.com.br
consumo de carne frigorífico
Legenda: Sindicarnes aponta uma redução de 15% no consumo de carne, com queda mais acentuada nos itens de primeira
Foto: Kid Junior

A elevação brutal nos preços da carne vermelha abriu espaço para que o ovo fosse a proteína a marcar presença no prato dos cearenses ao longo de 2021. De acordo com a Associação Cearense de Supermercados (Acesu), o consumo do produto caiu 22% na comparação com o ano de 2020. Paralelamente, o de ovos teve alta de cerca de 10% no período.

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Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 
a produção de ovos de galinha no Estado chegou a 58,3 milhões de dúzias no 3º trimestre de 2021 e alcançou um novo recorde.  

O Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas de Fortaleza (Sindicarnes) também observou uma procura mais tímida pela carne vermelha.

Segundo o presidente da entidade, Everton Silva, houve queda de 15% no ano passado em relação ao anterior. “O consumidor que comprava antes 10kg da picanha, da alcatra, do patinho e do contrafilé passou a comprar só 5kg”, explica.

“Os outros 5kg foram para outras mais baratas, como o lombo, a costelinha, o acém, o músculo”, avalia, acrescentando que isso é fruto da combinação da elevação dos preços da carne com a corrosão na renda provocada pelos efeitos da pandemia e inflação considerável nos outros alimentos.

“As carnes de primeira, como a picanha, a maminha, o filé, foram as que mais sofreram com a queda no consumo. A carne subiu, mas os rendimentos das pessoas não acompanharam essa alta. Toda a alimentação ficou mais cara, então por isso houve essa queda. O poder aquisitivo foi corroído”, diz Everton Silva.

Se nos frigoríficos as carnes de segunda são uma alternativa, nos supermercados o ovo virou a estrela da lista de compras. O presidente da Acesu, Nidovando Pinheiro, explica que nem mesmo os frangos tiveram um desempenho tão bom.

“Os ovos tiveram um acréscimo acima de 10%. Em relação ao frango, como também foi um produto que teve elevação de preços, o consumo em 2021 ficou relativamente equiparado com o de 2020, com um incremento quase imperceptível”, detalha Pinheiro.

Ele acredita que a alta do preço do frango e a consequente estabilidade no consumo está ligada ao aumento de insumos para a produção como o milho. Além disso, ele destaca que outras proteínas também foram procuradas para substituir a carne.

“O cliente também está buscando outras alternativas, como o cará tilápia, que subiu, mas se manteve em um preço mais acessível. A carne suína também teve aumento, mas percebemos também uma elevação no consumo. Há procura”, afirma o presidente da Acesu.

Dados do IBGE também mostram que o Estado registrou o abate de 8,1 milhões de cabeças de frango no terceiro trimestre do ano passado, atingindo um novo recorde. 

"O 3º trimestre superou em 2,9% o recorde passado, isto é, o trimestre anterior. Ao comparar com o mesmo período de 2020, observou-se um incremento de 1,4 milhão de frangos abatidos (22,2%)", informou o IBGE.

Momento desafiador

O diretor executivo da Avine Alimentos, Airton Júnior, corrobora que os insumos vêm desafiando a produção. “Em relação ao consumo, foi um ano positivo, tanto para o ovo quanto para aves de corte. No entanto, o setor vem passando por um momento desafiador com relação aos custos”, diz.

Ele lembra que apesar do aumento no consumo de ovos e de carne de frango observado em todo o País, o setor enfrenta dificuldades diante dos preços do milho e da soja, principais componentes do custo desses produtos.

“Aumentaram em quase 100%. O milho saiu de R$ 51,00/saca para R$ 89,00/saca, enquanto a soja saiu de R$ 85,00/saca para R$ 168,00/saca. Além disso, embalagem, combustível, energia, dentre outros insumos, também tiveram uma forte alta”, lamenta Airton Júnior.

Com isso, ele explica que as empresas acabam não operando na capacidade máxima. “Para manter os resultados, as empresas teriam que ter repassado os custos aumentando o preço em cerca de 40%. No entanto, o repasse médio não chegou a 20%, o que está fazendo com que muitas empresas operem abaixo do ideal”.

Perspectivas para 2022

Apesar das dificuldades vivenciadas em 2021, há a expectativa de que o consumo ganhe certo fôlego com a possibilidade de os preços caírem neste primeiro semestre.

“Eu não acredito que os preços se manterão em alta exatamente porque o bolso do consumidor não suporta. Se subir mais qualquer valor, não vai ter como ele comprar”, analisa Everton Silva. “Esperamos um ano de 2022 com um apetite melhor”, enfatiza.

Já Nidovando Pinheiro visualiza um ano de consumo ainda tímido de carne, conforme presenciado em 2021, com o consumidor seguindo em busca de outras alternativas mais acessíveis.

Airton Júnior acredita que o consumo brasileiro de ovos deve crescer no Brasil em 2022, de 1,5% a 2% - em 2021 ele aponta alta de 1,5%. “Para que isso ocorra, a situação de custos e repasse de preços do setor precisa ser regularizada. Caso contrário, a viabilidade da produção pode ser comprometida, impactando na oferta de ovos para este ano”.

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