Com forte retração do turismo, volume de serviços cai 13,6% no Ceará
Pandemia derrubou índice de atividades dos serviços ao pior patamar da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Turismo despencou 40,9% no ano no Estado e retomada depende de controle da pandemia, avalia presidente da ABIH-CE
Particularmente desafiador para o turismo e para o setor de serviços em geral, o ano de 2020 encerrou com números amargos para a atividade no Ceará. De acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada ontem (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor apresentou retração de 13,6% do volume das atividades e de 12,2% da receita nominal em 2020 na comparação com o ano de 2019 no Estado, puxados pelo forte impacto das atividades turísticas, que retraíram 40,9% no ano.
Foi a maior queda do volume de serviços prestados no Ceará desde o início da série histórica em 2012, segundo o IBGE. Os serviços com maiores recuos no Ceará foram os serviços prestados às famílias, que incluem atividades como alojamento, alimentação, atividades culturais, entre outros, com queda de 38,9%. Em seguida, aparecem os transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (-20,7%). Serviços profissionais, administrativos e complementares também tiveram queda, de 4,8%, bem como os serviços de informação e comunicação (-0,9%). Acumulou alta apenas o grupo de outros serviços (0,5%).
Somente na comparação dos resultados de dezembro de 2020 e de 2019, o volume de serviços prestados no Ceará caiu 6,1%, também puxado pela queda dos serviços prestados às famílias (-30%) e transportes (8,7%).
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Atividades turísticas
A forte retração no volume de serviços prestados no ramo de atividades turísticas sofreu influência, sobretudo, da queda das atividades dos segmentos de restaurantes, transporte aéreo, hotéis, transporte rodoviário coletivo de passageiros, agências de viagem, catering, bufett e outros, como de comida preparada. O turismo foi um dos segmentos da economia mais afetados pelo avanço da pandemia.
Em dezembro de 2020, o índice de atividades turísticas no Ceará apresentou estabilidade pela primeira vez após meses de alta, com variação de -0,1% na comparação com dezembro de 2019. A taxa vinha em uma sequência de quatro resultados positivos seguidos, acumulando ganho de 128,3%. "Mesmo com esse crescimento acumulado no período, o segmento de turismo cearense ainda precisa avançar para retornar ao patamar de fevereiro", aponta o relatório da Unidade Estadual do IBGE no Ceará.
Na comparação entre dezembro de 2020 e de 2019, o índice de volume de atividades turísticas no Estado do Ceará apresentou retração de 30,6%, a décima taxa mensal negativa seguida.
Embora as atividades dos hotéis não tenham sido suspensas pelo Estado durante o lockdown, muitos empreendimentos fecharam por conta da baixa procura no período. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), Régis Medeiros, lembra que, em julho e agosto, os hotéis reabriram com o início do plano de retomada no Ceará, mas as taxas de ocupação ficaram muito aquém dos resultados observados em 2019 por conta da persistência da pandemia.
"Quando abrimos, começamos com ocupações muito aquém do normal. Em setembro, tivemos 30% de ocupação quando o normal é 72%. Em outubro, tivemos 42%, quando o normal é 73%. Em dezembro, tivemos 47% quando era 75%. Em janeiro deste ano, tivemos 55% quando o normal é na faixa dos 80%, que é o que tivemos no ano passado", lista Medeiros.
Apesar dos resultados, o presidente da ABIH-CE revela que as expectativas são de melhora do cenário em 2021, mas lembra que tudo depende de como estará o avanço do coronavírus no Estado e no País.
"Estamos muito longe, muito aquém do que tínhamos antes da pandemia. Mas os números mostram uma melhora mês a mês. Tínhamos uma expectativa de uma pequena retomada no mês de fevereiro, de um Carnaval com ocupação de 45% a 50%. Com todas essas medidas restritivas, porém, provavelmente teremos ocupação na casa dos 30% em Fortaleza e no litoral deve ser um pouco mais alta", diz.
O Governo do Ceará estabeleceu uma série de medidas, com suspensão de festas, restrição do funcionamento de restaurantes e barracas de praia à noite, além de barreiras nos limites da Capital para reduzir o fluxo de pessoas a outras cidades do interior. Outros estados também estão endurecendo as regras de isolamento frente à escalada de casos de Covid-19 e à circulação de novas variantes do vírus.
"Sabemos que há uma demanda reprimida muito grande: há quase um ano, as pessoas não viajam e as viagens internacionais estão praticamente impedidas. As pessoas devem levar um tempo para se sentirem confortáveis para viagens para fora do País. Além disso, o dólar e o euro estão em um patamar alto. Consequentemente, devemos ter uma demanda maior de turismo doméstico. Mas acreditamos que esse primeiro semestre ainda será bem difícil", explica Medeiros.
As expectativas positivas para o setor se concentram, portanto, no segundo semestre deste ano. "É historicamente melhor, sempre foi mais aquecido. Nós esperamos que uma parcela maior da população esteja imunizada, diminuindo a pressão do coronavírus no País. Só devemos voltar ao patamar de antes da Covid-19 em2022", prevê.
Conforme o IBGE, todas as doze Unidades da Federação onde o indicador é investigado mostraram recuo nos serviços voltados ao turismo, com destaque para São Paulo (-37,4%), seguido por Rio de Janeiro (-29,1%), Minas Gerais (-30,4%), Rio Grande do Sul (-37,3%), Paraná (-24,6%) e Santa Catarina (-31,8%).
Brasil
No País, o setor de serviços registrou queda de 7,8% em seu volume no acumulado do ano de 2020, o recuo mais intenso do indicador desde o início da série histórica, em 2012. Considerando apenas o mês de dezembro, o setor também teve quedas na comparação com novembro de 2020 (-0,2%) e em relação a dezembro de 2019 (-3,3%).
As atividades turísticas no País perderam 36,7% em volume de serviços prestados em 2020 ante 2019. A estabilidade do índice em dezembro veio após sete meses seguidos de altas, mas ainda foi insuficiente para apagar as fortes perdas no auge da pandemia. O segmento ainda necessita avançar 42,9% para retornar ao patamar de fevereiro.