Centro de distribuição e navio com 5,5 mil carros: como é a operação da chinesa BYD no Brasil

Ao todo, 5% do total da carga vinda de navio deve abastecer o mercado cearense; empresa amplia centro de distribuição de peças e partes para minimizar problemas de reposição enfrentados por consumidor final

Escrito por
Paloma Vargas paloma.vargas@svm.com.br
(Atualizado às 10:21)
Navio BYD
Legenda: Navio BYD Explorer Nº1 trouxe 5.524 veículos, entre eles a novidade no mercado brasileiro, o SUV Denza B5
Foto: Paloma Vargas

A montadora chinesa BYD tem planos robustos para o Brasil neste ano. Para demonstrar a força que o mercado brasileiro tem para a marca, ela trouxe, de uma só vez, 5.524 veículos híbridos e elétricos das famílias Dolphin, Song e Yuan, no BYD Explorer Nº1, que atracou no final da última semana no Portocel, porto localizado no município de Aracruz, no Espírito Santo.

Deste montante, 5% deve abastecer o mercado do Ceará, segundo Rogério Suzart, gerente nacional de Logística da montadora chinesa. Os veículos são para composição de estoque, já que não há demanda reprimida das concessionárias do Estado, ainda conforme o executivo.

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"Esse volume recebido agora vai para o nosso Centro de Distribuição, aqui no Espírito Santo e saem para todo o País sob demanda das concessionárias, via rodoviário", explica.

Suzart explicou ainda que escolha do Espírito Santo para o desembarque do navio ocorreu em razão do posicionamento geográfico do estado (em área central do País), facilitando o abastecimento das regiões Sul e Nordeste, além da Sudeste onde está localizado, e dos incentivos fiscais que o estado capixaba oferece à importação. 

Descarregamento BYD
Legenda: Carros são descarregados um a um, do navio BYD Explorer Nº1
Foto: Paloma Vargas

Mesmo com previsão de começar a operar na fábrica em Camaçari ainda este ano, a ideia da BYD é continuar importando carros para o Brasil. Essa é a segunda vez que o navio atraca no País, a primeira foi em maio do ano passado, no Porto de Suape, em Pernambuco.

Todos os veículos trazidos desta vez foram levados para pátios da empresa logística GDL, nas cidades de Cariacica e Viana, onde passam pelo processo de alfandegamento e nacionalização.

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Novo Centro de Distribuição de peças

Também no Espírito Santo, na cidade de Cariacica, a montadora chinesa está concentrando a sua distribuição de peças. Após algumas reclamações de clientes quanto à falta de peças de reposição para os modelos que já circulam pelas cidades brasileiras, a BYD anunciou a duplicação do estoque de componentes, passando de 370 mil para 718 mil peças, um aumento de 94%. Ao todo são R$ 140 milhões investidos em peças já disponíveis para os concessionários.

Centro de Peças e Partes BYD
Legenda: Centro de Peças e Partes da BYD duplicou estoque e aumentou em mais 400% o espaço físico em Cariacica (ES)
Foto: Paloma Vargas

Além disso, o Centro de Peças e Partes, como é chamado o CD pela chinesa, teve a área física ampliada, passando de 4,5 mil metros quadrados para 24,5 mil m², o que representa uma expansão de 444%. Operada pela empresa GDL, a expedição diária passou de 600 para 2.661 peças, um aumento de 343%.

Das peças mais requisitadas estão os filtros trocados nas revisões dos veículos e componentes de lataria, como para-choques, capôs e portas, necessários quando ocorrem acidentes. Atualmente, todos os componentes são trazidos da China para o Brasil.

Com estas novas medidas, peças pedidas por concessionárias do Ceará têm prazo de 4 a 10 dias para chegar ao destino, dependendo se for feito via transporte aéreo ou rodoviário, respectivamente.

Outra melhoria no setor de pós-venda é a integração dos sistemas com concessionários, que já está em fase final de desenvolvimento e tem previsão de implantação no começo o segundo trimestre. A integração permitirá o processamento automático de pedidos e o rastreamento em tempo real das entregas.

Capô da BYD sendo embalado
Legenda: Peças de troca nas revisões e lataria são principais pedidos recebidos no Centro de Peças e Partes da BYD
Foto: Paloma Vargas

De forma geral, o Nordeste representa 25% da demanda do Centro de Peças e Partes da BYD e a empresa não especificou números por estado, por ser uma "operação muito dinâmica".

Assim que a fábrica na Bahia estiver funcionando, é possível que se tenha um centro de distribuição de peças no local, o que pode otimizar o abastecimento aqui na região.

São Paulo, por ser o seu maior centro consumidor atual, também ganhará um novo Centro de Distribuição. O local será inaugurado no segundo semestre deste ano, em Araçariguama, interior do estado, também buscando maior agilidade no atendimento ao consumidor final.

Números da montadora

No ano passado, segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o Dolphin GS 180EV foi o elétrico mais vendido no Ceará. No Brasil, a BYD emplacou 76.811 veículos no mesmo período, sendo responsável por 7 a cada 10 veículos elétricos vendidos e 1 a cada 4 híbridos. Para este ano, a meta é passar dos 100 mil carros.

Ainda no ano passado, no mundo, a montadora se tornou a terceira marca mais vendida. Ao todo, foram 4,3 milhões de unidades comercializadas, um crescimento de 41% em relação ao ano anterior.

Produção nacional vai atrasar

A produção da BYD na unidade de Camaçari (antiga fábrica da Ford) deve iniciar no segundo semestre deste ano. O complexo na Bahia será o maior fora da China e terá capacidade para produzir 150 mil veículos por ano na primeira etapa e até 300 mil numa segunda etapa.

Navio BYD
Legenda: Enquanto produção na fábrica da Bahia não começa, mercado é abastecido por cargas de navio vindos direto da China
Foto: Paloma Vargas

Houve um atraso no início da operação — que deveria ocorrer no próximo mês de março, principalmente por conta das denúncias de condições análogas à escravidão e o resgate feito pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e outros órgãos federais, de empregados da Jinjiang Construction Brazil Ltda, empresa terceirizada contratada para construção da fábrica.

O caso foi registrado no final do ano passado e fez com que a montadora chinesa encerrasse o contrato com a empreiteira chinesa e ajustasse o cronograma de início da operação no Brasil.

A estratégia de montagem industrial que será utilizada no início é o formato SKD (Semi Knocked Down), em que o produto chega parcialmente desmontado, com partes pré-montadas em sub-conjuntos, ou seja, a marca apenas finaliza o processo de montagem localmente.

Com o tempo, a BYD prevê uma transição para o formato CKD (Completely Knocked Down), quando o produto está completamente desmontado no país de origem e é enviado para o país de destino, requerendo uma estrutura maior de montagem, até a fabricação completa dos veículos em solo nacional.

Vale lembrar que nenhum automóvel no Brasil é 100% nacional, já que diversos componentes, principalmente, os sistemas de conectividade, entre outros, são importados.

Denza B5 BYD
Legenda: BYD traz primeiros exemplares do Denza B5, SUV 4x4 que deve ter preço em torno de R$ 500 mil
Foto: Paloma Vargas

Embarcação trouxe primeiras unidades do SUV Denza B5

Entre os milhares de veículos que desembarcaram no País, estão algumas unidades do SUV Denza B5, que chegará oficialmente ao Brasil ainda em 2025. O veículo é da submarca da BYD, Fang Cheng Bao, e na China tem o nome de Leopard 5. Porém, no Brasil, o modelo será comercializado como Denza, marca de automóveis premium da BYD.

O preço é estimado na casa dos R$ 500 mil e ele deve fazer frente para modelos das marcas Jeep e Land Rover, que variam de R$ 499.990 até R$ 900 mil. No país de origem, o B5 custa até 353 mil yuans, o que seria cerca de R$ 250 mil na conversão direta. 

Na China, o Denza B5 possui motor 1.5 turbo a gasolina e dois propulsores elétricos. No conjunto, são oferecidos 686 cv de potência e 760 Nm de torque combinados. A autonomia é um dos pontos fortes do veículo: são 1.200 quilômetros se somadas as capacidades elétrica e de combustão. A autonomia rodando apenas com os motores elétricos é de 125 quilômetros.

Denza B5 interior
Legenda: Interior do Denza B5 conta com três telas e console de carro de luxo
Foto: Paloma Vargas

No interior, o B5 possui três telas: um painel digital de 12,3", uma central multimídia de 15,6" e uma terceira tela de 12,3" para o passageiro. Já a suspensão é reforçada e a tração é 4x4, porém, a BYD não revelou outros detalhes sobre o modelo, apenas mostrou duas unidades para a imprensa que acompanhou o desembarque de veículos no Espírito Santo, pouco antes do Carnaval.

Curiosidades do navio BYD

O Explorer BYD Nº 1 tem cerca de 200 metros de comprimento e 38 metros de largura. Ele é o primeiro de um total de oito navios que a empresa chinesa quer ter em dois anos.

Navio BYD
Legenda: Navio da BYD atracou no Espírito Santo, na última quinta-feira (27)
Foto: Divulgação/BYD

A embarcação conta com 12 andares e tem capacidade para transportar até 7 mil veículos. Nesta viagem, que demorou um mês, eles vieram ocupados por carros das famílias Dolphin (mais vendida no Brasil), Song e Yuan. 

Por ser uma embarcação exclusiva, o retorno para a China ocorre com ela vazia. Sua tripulação é composta por 22 profissionais oriundos da Índia, Filipinas, Ucrânia e Bulgária.

Os carros foram retirados um a um da embarcação, andando, guiados por uma equipe de motoristas. A estimativa de toda a operação de desembarque no porto de Aracruz era de 60 horas.

*A repórter viajou ao Espírito Santo a convite da BYD.

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