Indústria: Fiec elogia o Ceará, que cresce mais do que o Brasil
Governador Elmano de Freitas junta-se a Ricardo Cavalcante na crítica à falta de Linhas de Transmissão de Energia. Festa da Indústria tem emoção e lágrimas.
No ano em que completa 75 anos de intensa atividade, a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) fez ontem, no Centro de Eventos, uma festa digna do nome para celebrar o Dia da Indústria e para homenagear quatro empresários que têm tudo a ver com o desenvolvimento econômico e social do estado. E sob o aplauso de 1.200 convidados, entre os quais o governador Elmano de Freitas, o presidente da entidade, Ricardo Cavalcante, não deixou por menos e começou exibindo seu lado bairrista, comparando números da economia cearense com os da economia nacional:
“Ao longo do último ano, enquanto a economia nacional cresceu 3,4%, a economia do estado do Ceará alcançou 6,5%. E quando olhamos especificamente para o setor industrial, um detalhe salta aos olhos: enquanto a indústria cearense cresceu 10,7%, a nacional cresceu 3,3%. Crescemos mais do que o triplo”, disse ele, cutucando com vara curta o Sul e o Sudeste, e no melhor estilo mata a cobra e mostra o pau, Ricardo Cavalcante acrescentou:
“Somos hoje mais de 19 mil indústrias classificadas entre micros, pequenas, médias e grandes espalhadas por todo o território cearense. Nelas, 370 mil trabalhadores formais – o que representa 30,8% de todas as carteiras assinadas da iniciativa privada do Ceará – estão cotidianamente produzindo riqueza, melhorando a qualidade de vida de suas famílias e promovendo desenvolvimento.”
Como nem tudo são flores, o presidente da Fiec apontou os desafios pela frente:
"Mas também temos desafios. Ontem a taxa básica de juros no Brasil foi elevada ao patamar de 14,75%, colocando o país na quarta posição global em juros nominais. Esses níveis elevados dificultam o acesso ao crédito e inibem investimentos na atividade produtiva.
"Como se não bastasse, ainda não conseguimos enxergar, em um horizonte próximo, uma indicação clara de controle das contas públicas. Falta uma política fiscal consistente e comprometida com a busca do equilíbrio. Para além disso, há também o sério problema da falta de mão de obra. Dados da Sondagem Industrial da CNI nos mostram que mais de 40% das indústrias brasileiras estão com dificuldades de contratar trabalhadores qualificados.”
Dirigindo-se ao governador Elmano de Freitas e aos demais políticos presentes à festa, Ricardo Cavalcante acentuou o seu bairrismo, dizendo:
“Em nosso estado, nós temos algo que nos diferencia do resto do país. Há tempos mantemos uma relação virtuosa entre o Governo, a Academia e o Setor Produtivo, com foco no desenvolvimento sustentável do Ceará. Os avanços que temos alcançado no âmbito da transição energética e tecnológica são frutos dessa relação. E ela não pode parar. Nos últimos quinze anos o Nordeste brasileiro passou da quarta posição nacional em produção de eletricidade, para a segunda, com energia essencialmente renovável. Como demonstração desse avanço na transição energética, em 2024 o Nordeste brasileiro produziu 96% de sua energia oriunda de fontes renováveis. Não foi por acaso que conseguimos atrair os projetos de hidrogênio verde e dos data centers para o Ceará e o Nordeste. Eles existem porque evoluímos significativamente em energia limpa, renovável e de menor custo de produção no mundo.
“Apesar desses avanços, a infraestrutura de linhas de transmissão ainda é um gargalo no Ceará e no Nordeste, condição essencial para viabilizar esses investimentos. Nos causa indignação ver como a questão das linhas de transmissão tem sido tratada. Em 2022, a Câmara Setorial de Energia do Ceará, presidida pela Fiec, encaminhou junto ao Ministério de Minas e Energia um documento indicando as necessidades, ano a ano, de capacidade de conexão energética para atender esses novos investimentos no Pecém.
“E a indignação aumenta, ao vermos que os investimentos necessários nas linhas de transmissão representam menos de 2% do valor dos projetos que podem ser viabilizados no Pecém. Relembro que esses investimentos serão feitos pela iniciativa privada, necessitando apenas de ações do governo federal. Tem algo errado na forma como está sendo discutida essa questão, meu caro governador, e nós precisamos atentar para isso. O senhor tem trabalhado diuturnamente para dar ao nosso estado as condições necessárias para que possamos avançar. Devemos estar todos juntos nessa luta!”
Em seguida, o presidente da Fiec fez, digamos assim, uma pormenorizada prestação de contas do que tem feito a Fiec, focando especialmente na performance do Senai e do Sesi. Ele lembrou:
“Recentemente, a Confederação Nacional da Indústria concedeu o prêmio de primeiro lugar ao Senai Ceará, na categoria Desempenho em Gestão, entre as demais unidades do país. Hoje o Sesi Ceará, em suas seis escolas de referência, conta com mais de 6.500 alunos que recebem uma educação de altíssima qualidade. E a nossa sétima escola já está em construção, no município de Horizonte, com capacidade para atender mais 1.200 alunos, que entregaremos em 2025.”
Depois, Ricardo Cavalcante puxou brasa para a sardinha de outro equipamento de ponta tecnológica da Fiec, ao revelar que o Observatório da Indústria – uma plataforma digital que dispõe de 8 trilhões de informações sobre a economia do Ceará, do Nordeste, do Brasil e do mundo, “tem se transformado em um verdadeiro ecossistema de inteligência colaborativa, sendo também referência nacional em análise e conexão de dados, tecnologia, pessoas e negócios”, e informando que, nos últimos anos, ele se consolidou “como um pilar estratégico para o fortalecimento do setor produtivo como um todo, ultrapassando os limites da indústria e abraçando o comércio, os serviços e a academia, tanto em âmbito local, quanto nacional.”
Depois, referiu-se a cada um dos homenageados da noite – Edmilson Lima Júnior, fundador do Grupo Regina; Erick Torres, CE) da ArcelorMittal Pecém; e João Fiúza, fundador e CEO da Diagonal Engenharia, que receberam a Medalha do Mérito Industrial; e Pedro Grendene, sócio com seu irmão Alexandre do Grupo Grendene, que recebeu a Ordem do Mérito Industrial da CNI.
Para cada um dos homenageados, Ricardo Cavalcante teve uma palavra de carinho, destacando suas virtudes pessoais e profissionais e citando-os como impulsionadores do progresso econômico, social, cultural e tecnológico do Ceará.
E O HOMEM DO AÇO DERRETEU-SE EM LÁGRIMAS
Quando a solenidade começou às 21 horas, Erick Torres, CEO da ArcelorMittal e um dos homenageados da noite, ainda voava de São Paulo para Fortaleza. Ele e seus 1,90 m de altura entraram no salão da festa no exato momento em que o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, enaltecia as virtudes que o levaram a conquistar a Medalha do Mérito Industrial. No seu lugar, no palco, estava o seu pai, Gilmar, que ouviu o orador dizer o seguinte:
“Meu amigo Erick Torres: a tua história de vida é um exemplo de que a educação é o maior instrumento de transformação social criado pelo homem. Nascido carioca, em berço simples, fruto do amor de Seu Gilmar e Dona Letice, você se fez cidadão do mundo a partir do estudo. (...) A tua trajetória como engenheiro é virtuosa. Pouco mais de vinte anos depois daqueles primeiros passos dados como trainee da Companhia Siderúrgica de Tubarão, no Espírito Santo, tu chegas ao Ceará e marcas a transformação da AcelorMittal Pecém numa das maiores, mais modernas e sustentáveis indústrias siderúrgicas da América Latina e do mundo. Onde hoje, o Ceará representa 9,5% da produção de aço do País. Os teus filhos, Arthur e Vitória, tão bem-criados e educados por ti e pela tua amada esposa Erika, ao mesmo tempo em que te inspiram a seguir lutando, certamente têm o pai com símbolo de resiliência e liderança. E isso os orgulha muito.”
Neste momento, Erick Torres é chamado a trocar de lugar com o pai, que o beija sob aplausos. Ricardo Cavalcante saúda o homenageado e repete o discurso, levando-o às lágrimas. Quando chegou a sua vez de receber a Medalha do Mérito Industrial, entregue pelo governador Elmano de Freitas e pelo presidente da Fiec, o CEO da ArcelorMittal não conteve a emoção e, em lágrimas, disse que era a primeira vez que recebia, na sua vida, uma homenagem pelo seu trabalho profissional. E encerrou sua fala assim:
“Sou fruto do amor e da educação que meus pais me deram”.
O auditório prorrompeu em aplausos.
Cada um dos homenageados falou por dois minutos. O discurso de João Fiúza foi suscinto. Ele disse que a Medalha do Mérito Industrial que lhe conferiu a Fiec é fruto de muito trabalho.
Edmilson Lima Júnior, por sua vez, à moda Roberto Carlos, começou dizendo: “São muitas as emoções!”. Em seguida agradeceu a Deus, à sua esposa Sara, aos seus filhos e aos seus colaboradores pelo êxito do Grupo Regina.
Pedro Grendene, tendo no peito a Comenda da Ordem do Mérito Industrial, outorgada pela CNI, recordou que o Grupo Grendene chegou ao Ceará no fim dos anos 80 do século passado, e aqui “desenvolveu uma trajetória cheia de paixão”, traduzida por várias fábricas de calçados, que empregam cerca de 25 mil cearenses.
ELMANO TROCA O ESCRITO PELA EMOÇÃO DO IMPROVISO
Último a falar, encerrando a cerimônia, o governador Elmano de Freitas enfiou a mão direita no bolso interno do paletó, mas logo desistiu:
“Eu trouxe um discurso escrito, mas o bom senso sugere que, a esta hora, eu fale sob a emoção do improviso” – e iniciou com uma frase forte, falando em alto e bom som, dirigindo-se aos quatro homenageados nos seguintes termos:
“Milhares de vidas, no Ceará, dependem de Vossas Senhorias, que, nos últimos anos, fizeram o Ceará crescer em níveis semelhantes aos da China, gerando emprego e renda para uma multidão de cearenses.”
Em seguida, pondo mais força na voz, o governador tonificou a queixa do presidente da Fiec, ao referir-se ao problema que a falta de Linhas de Transmissão de energia está causando hoje à economia do Ceará, cujos projetos de produção de hidrogênio verde e de construção do maior data center da América Latina – que consumirão cerca de US$ 50 bilhões em investimentos – correm risco pela falta das LTs que escoarão a energia limpa e renovável gerada aqui e no Nordeste pela força dos ventos e pelos raios solares, abundantes na geografia nordestina.
Mas Elmano de Freitas transmitiu uma boa notícia:
“Na próxima semana, deveremos ter uma solução para esse problema.”
Ele adiantou que o Ceará e seu Complexo Industrial e Portuário do Pecém precisarão, até 2030, de mais 4 GW (gigawatts) de energia, ou seja, mais do que o dobro dos 1,6 GW que o estado consome hoje, “e para isto precisamos dessas LTs”.
Depois, o governador falou de sua gestão e disse que, pela primeira vez na história, o Ceará tem do Banco Central a “Nota A” de Capacidade de Pagamento, “o que é fruto de uma austera e eficiente política fiscal”.