Fundos emergenciais levam socorro a microempreendedores negros e mulheres

De acordo com o levantamento do Fundo Emergências Econômicas, por exemplo, 82% dos empreendedores negros não têm CNPJ no Brasil

Escrito por
Rosane Queiroz/Folhapress producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 15:50)
Legenda: Maior parte dos negócios em favelas e periferias impactadas pelo coronavírus são de trabalhadores informais
Foto: Foto: José Leomar

Fundos emergenciais e editais voltados para microempreendedores negros e mulheres tentam levar socorro econômico a negócios em favelas e periferias impactadas pelo coronavírus. "Os micro e nano empreendedores negros e as mulheres estão na base da base da pirâmide social. É a parte da população que já estava mal financeiramente antes da pandemia. Portanto, os mais vulneráveis nesse momento", diz Rosenildo Ferreira, cofundador da aceleradora Vale do Dendê, que desde 2017 atua na periferia de Salvador.

A aceleradora é uma das integrantes da coalizão Éditodos, que reúne vários atores do ecossistema de empreendedorismo negro no Brasil. Para fazer frente a esse momento, a Éditodos criou o Fundo Emergências Econômicas para arrecadar R$ 1 milhão com empresas privadas, para fornecer apoio financeiro a estes nano empreendedores.

Itaú Unibanco, Assaí Atacadista, Instituto C&A e Fundação Arymax são as primeiras empresas e instituições a aderirem ao fundo emergencial. "Captamos cerca de 50% e não queremos parar por aqui", diz Ferreira.

A emergência também econômica deve afetar milhões de empreendedores em comunidades de todo o Brasil. "É um contingente que não tem acesso à rede bancária e vive do dia a dia de seu negócio", diz Ferreira.

A meta é apoiar com até R$ 2.000 cerca de 500 empreendedores ligados ao Vale do Dendê, em Salvador; à Agência Solano Trindade, Afrobusiness e Feira Preta, em São Paulo; à FA.VELA , em Belo Horizonte; e ao Instituto Afrolatinas, no Distrito Federal.

Perfis

É a quituteira que tem um núcleo de marmitas, o micromercado familiar cuidado por pai e filho, a pizzaria caseira, que faz entrega. Pequenos negócios que geram emprego e renda nas comunidades. De acordo com o levantamento do Fundo Emergências Econômicas, 82% dos empreendedores negros não têm CNPJ. "Esses micro e nano empresários são ricos demais para o Bolsa Família e pobres demais para o Sebrae. A maior parte deles são 'desbancarizados'", diz Ferreira.

O valor de R$ 2.000 vai ajudar a criar um fluxo mínimo de caixa, pagar aluguel e segurar a sustentabilidade do negócio na crise. O socorro para contas emergenciais será distribuído a partir de critérios definidos por uma comissão.

"O recurso será destinado para os mais vulneráveis da rede das organizações que somam quase mil empreendedores. A ideia é apoiar emergencialmente aqueles com mais dificuldade nesse momento por meio dessa seleção interna", explica Adriana Barbosa, CEO da Feira Preta/Preta Hub e uma das líderes da Éditodos.

Integrante da Rede Folha de Empreendedores Sociais, Adriana acredita que, por mais que as cestas básicas sejam essenciais nesse momento, é importante não perder de vista o apoio financeiro, para manter a dignidade das pessoas.

"Muitas vezes a desmonetização deixa efeitos residuais que precisam ser mitigados. Tudo o que essas pessoas não precisam é ter mais uma dívida para pagar", diz. A ajuda também gera renda dentro das comunidades. "Se a pizzaria local está aberta, o cara que recebeu os R$ 600 do governo vai gastar ali mesmo", diz Ferreira.

Segunda etapa

Em uma segunda etapa, também está prevista uma série de ações educacionais e de orientação pelas organizações que fazem parte da coalização, por meio de lives, e-books e WhatsApp, com informações e dicas para melhorar a sustentabilidade desses negócios.

"Vamos levar a caixa de ferramentas da classe média alta para as periferias", afirma Ferreira. Os recursos para o Éditodos estão sendo captados por meio do Fundo Baobá que mobiliza pessoas e financiamentos para o apoio a projetos de promoção da equidade racial para a população negra no Brasil.

O Fundo Baobá acaba de lançar também um edital voltado para comunidades no combate ao coronavírus. A ideia é captar até R$ 2 milhões, dos quais R$ 600 mil já estão disponíveis. Cada projeto selecionado receberá até R$ 2.500.

"É um edital que vai além da filantropia tradicional, pois não se trata apenas de doações, mas de contribuir para a resiliência das comunidades e de fortalecer suas lideranças", diz Selma Moreira, diretora do Fundo Baobá.

Atenção especial

Em meio à pandemia do coronavírus, ela reforça que a população negra precisa de atenção especial. "É uma crise que poderá agravar ainda mais a desigualdade racial no Brasil, em suas vertentes individual, sociocultural, ambiental e econômica."

Em outra iniciativa, focada no empreendedorismo feminino, a Visa e Instituto Rede Mulher Empreendedora anunciaram o projeto de eventos digitais Elas Prosperam. Nesta terça-feira (14), acontecerá a segunda live do projeto. A transmissão poderá ser acompanhada a partir das 17h pelo Instagram da Rede Mulher Empreendedora.

O objetivo é fomentar a criação de redes empreendedoras locais e capacitar gratuitamente mulheres de todo o país, levando lições de empreendedorismo e educação financeira. O "Elas Prosperam" faz parte do programa Cidades do Futuro, da Visa, que desenvolve ativações para gerar impactos econômicos positivos em meio à crise gerada pela Covid-19.

"O conteúdo será focado em dicas de empreendedorismo e educação financeira, fundamentais para quem precisa administrar seu próprio negócio", diz Sabrina Sciama, diretora de Comunicação Corporativa da Visa do Brasil.

As empreendedoras poderão se inscrever em seis grupos online nas cidades de São Paulo, Manaus, Teresina, Anápolis, Cascavel e Caruaru. "Para o Instituto RME é gratificante ter parceiros estratégicos, com o propósito de auxiliar a jornada das mulheres empreendedoras, oferecendo capacitação para conquistarem autonomia financeira e mudarem suas vidas e de todos à sua volta", afirma Ana Fontes, presidente da Rede Mulher Empreendedora.

Com 750 mil empreendedoras conectadas, a organização conta com um programa de aceleração, o RME Acelera, com cursos intensivos e trilhas de conhecimento online e gratuita para quem quer empreender.

Serviço
Éditodos

Para mais informações sobre o Fundo Emergências Econômicas ou como as empresas podem doar acesse www.editodos.com.br 

Fundo Baobá
Para ter acesso às regras do edital acesse: www.baoba.org.br

Rede Mulher Empreendedora
Para saber mais sobre o projeto Elas Prosperam e se inscrever, acesse: www.rme.net.br
 

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