Dólar dispara, fecha R$ 5,83 com recuo da Selic e deve aumentar mais
Novo patamar da taxa de juros, na mínima histórica, e redução da nota de crédito do Brasil pela agência Fitch impulsionaram mais uma alavancagem da moeda. Perspectiva é que o câmbio continue avançando nos próximos meses
Após o Banco Central (BC) cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, na última quarta-feira (6), superando as expectativas do mercado, o dólar abriu a sessão de quinta (8) em forte alta, chegando a ser cotado a R$ 5,87 ainda nas primeiras horas de negociação. Fechou com avanço de 2,3%, a R$ 5,8359, novo recorde nominal (sem contar a inflação).
O movimento se deu, dentre outros fatores, à reação de investidores ao novo patamar da Selic, que atingiu a mínima histórica de 3% ao ano após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciar corte de 0,75 ponto percentual. O mercado esperava um corte de 0,5%.
Além disso, o Copom indicou ainda a possibilidade de novo corte em mesma proporção, levando a taxa à 2,25%, na próxima reunião do colegiado, que ocorrerá nos dias 16 e 17 de junho.
"A forte redução da taxa Selic diminui a perspectiva de remuneração por meio dos juros da dívida pública, fazendo com que parte daqueles investimentos estrangeiros que vieram para cá em função dessa remuneração saiam do País e que outros não venham para cá", diz o economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE). "Então você tem uma tendência de menor fluxo de entrada de dólares e de um fluxo maior de saída da divisa do Brasil".
De acordo com os economistas consultados pelo Relatório Focus, do BC, a expectativa é de que novos cortes sejam feitos ao longo do ano. O cenário de juros baixo deixa o Brasil menos atrativo para o investidor internacional, que busca aplicar em outros países com taxas mais elevadas. Esse movimento provoca fuga de dólares do País, elevando sua cotação ante o real.
Cenário de instabilidade
Para o economista Ricardo Eleutério, professor de mercado de capitais da Universidade de Fortaleza e vice-presidente do Corecon-CE, diante do atual cenário de crise na saúde por conta do coronavírus e de instabilidades políticas e econômicas, a tendência é de que o dólar continue a ser pressionado para cima nos próximos meses.
Eleutério destaca ainda que a expectativa de investimento produtivo estrangeiro no Brasil caiu de US$ 80 bilhões para US$ 75 bilhões.
"Mesmo antes dessa pandemia, na medida em que o Banco Central vinha cortando a Selic, tirando a rentabilidade das aplicações em renda fixa, o câmbio já estava sendo pressionado", aponta. "Mês a mês, o investidor estrangeiro vinha saindo do nosso mercado. E o desempenho das exportações também tem ficado aquém do desejado na medida em que o preço das commodities declinaram no mercado, contribuindo para escassez de dólar".
Nota de crédito
Outro fator que contribuiu para a desvalorização do real foi o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch, na quarta-feira (6), de estável para negativa.
No ano, o real é a moeda que mais perde valor ante o dólar, com queda de 42%. No entanto, a moeda americana ainda está longe de seu recorde real. Em 2002, entre o primeiro e o segundo turno das eleições que levaram Lula à Presidência, a moeda dos EUA foi ao recorde de R$ 4 durante o pregão, fechando a R$ 3,99. Hoje, corrigido pela inflação brasileira e americana, esse valor equivale a aproximadamente R$ 7,86.