Com agravamento da crise, BC corta Selic em 0,75 ponto, a 3% ao ano

Redução é importante para a retomada da atividade econômica, avalia o economista Ricardo Coimbra. Banco Central reage de forma agressiva diante das críticas sobre a demora em tomar medidas de estímulo à economia

Escrito por Redação ,
Legenda: Decisão do Banco Central levou em conta maior deterioração do mercado
Foto: Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

Com a atividade econômica em forte retração no Brasil, o Banco Central surpreendeu boa parte do mercado financeiro e anunciou ontem (6) um corte de juros maior que o esperado. Em decisão unânime, os dirigentes da autarquia cortaram em 0,75 ponto porcentual a Selic (a taxa básica de juros), de 3,75% para 3% ao ano. Esta foi a sétima redução consecutiva e a taxa atingiu o menor patamar da história.

A decisão do BC foi motivada pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus, que colocou em isolamento social uma parcela considerável da população brasileira, com reflexos sobre a economia.

No comunicado que acompanhou a decisão de ontem, o BC avaliou que a contração econômica no Brasil será "significativamente superior" à prevista pela instituição na decisão anterior, em março. Para o BC, a atual conjuntura prescreve juros "extraordinariamente" baixos.

O economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), avalia que o BC tomou uma decisão "agressiva" e que a redução é importante para ajudar no processo de retomada da atividade econômica neste momento.

"Para estimular a perspectiva de que, com uma taxa de juros menor, você tem uma redução não só daquilo que se paga da dívida pública, mas também a possibilidade de que o custo do crédito fique mais barato", aponta.

Antes do anúncio da medida, os agentes do mercado financeiro esperavam por uma redução de 0,5% (50 pontos base). Mas já havia a expectativa de que o BC iria, nesse momento, ser agressivo diante do cenário de forte retração econômica. De acordo com o relatório Focus do BC, o PIB no País, em 2020, pode sofrer uma queda de até 3,76%.

"Temos também um patamar de perspectiva de inflação muito abaixo da meta do Governo. Provavelmente, a inflação, neste ano, anda em um direcionamento de ficar abaixo de 2%. Isso e a expectativa de reduzir juros para estimular a economia são duas variáveis que ajudaram o BC na tomada de decisão", analisa Ricardo Coimbra.

Novo corte

Além de citar perspectiva de retração econômica ainda maior este ano, o BC já sinalizou que em seu próximo encontro de política monetária, entre 16 e 17 de junho, a Selic deve sofrer novo corte, de até 0,75 ponto porcentual "para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19". Se isso ocorrer, a taxa atingirá o piso recorde de 2,25% ao ano.

As preocupações dentro do BC com o mergulho da atividade ficaram claras. Isso porque dois dos oito dirigentes que tomaram a decisão sobre a Selic chegaram a defender que o corte previsto para junho fosse feito ontem, de uma só vez. Assim, a Selic já ficaria abaixo dos 3% ao ano. Mas, por cautela, a decisão final foi por voltar a reduzir a Selic mais à frente.

Reação

Esse é o sétimo corte consecutivo da taxa no atual ciclo, após um período de 16 meses de estabilidade. A cada 45 dias, o Copom se reúne para decidir a meta da taxa Selic. Desde dezembro de 2017, os juros renovam as mínimas históricas da instituição.

Com o movimento considerado "agressivo" de redução da Selic, o BC, na atual gestão de Roberto Campos Neto reage às críticas quanto à lentidão para a instituição tomar medidas na direção do estímulo à economia.

Coimbra lembra que, desde o início do governo Jair Bolsonaro, o BC foi conservador diante de cenário que já dava perspectiva para a redução significativa dos juros. Agora, a reação do banco pode situar o País, segundo o economista, em um patamar similar ao de países mais desenvolvidos.

"Ou seja, com taxas bem baixas para estimular a médio, longo prazo, a atividade daqueles que captam, né? O BC mostra aos agentes financeiros que eles também devem reduzir o spread bancário, para melhorar as condições da atividade econômica no pós-crise", atesta Coimbra.

Com a deterioração do cenário econômico no último mês por causa do avanço do novo coronavírus no País, o Copom decidiu cortar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, a 3% ao ano, nova mínima histórica.

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