Namorados na adolescência no Interior do Ceará, idosos se reencontram após 62 anos separados
Com relacionamento interrompido pela família, Antônia e Olavo voltaram a se encontrar e puderam recomeçar o amor antigo
"Parece um sonho. Me pergunto: 'aconteceu mesmo?', 'será que é ele mesmo?'". Assim Antônia Mineiro descreve o reencontro com o amor da adolescência, Olavo Oliveira, após 62 anos longe um do outro.
Com uma história digna de um roteiro de filme romântico, os dois foram separados após os pais de Antônia não aprovarem a proposta de casamento de Olavo. Mesmo tendo vivido outros relacionamentos, a lembrança do amor da juventude floresceu nos dois após seis décadas.
Paixão no primeiro encontro
Foi amor à primeira vista. Os dois se conheceram na igreja durante uma novena realizada no município de Mombaça, em 1958. Olavo, aos 22 anos, se apaixonou pela jovem Antônia, que, na época, tinha 15 anos.
"Ele disse para o irmão dele: 'olha, conheci uma morena e vou namorar com ela'. 'Como assim?', o irmão dele falou. 'É, porque eu olhei para ela e ela olhou para mim. Eu sei, eu vou namorar com ela'", relembra dona Antônia sobre o relato de Olavo após conhecê-la.
Poucos dias depois do primeiro encontro, o jovem rapaz usou a desculpa de ser amigo do irmão mais velho de Antônia para se aproximar dela. "A moça que trabalhava lá em casa disse: 'imagina, se esse moço quer saber do [seu irmão] Antônio, ele quer é namorar você'. Eu disse 'imagina'! Mas era mesmo, né?! Ela estava certa", conta.
Dias depois, o pedido de namoro veio e Antônia aceitou. E assim se seguiram os quatro meses de relacionamento, que, como ela frisa, era diferente dos de hoje em dia.
"Os namoros naquele tempo eram em casa, sentados lado a lado e com um monte de 'segura vela'. Os irmãos mais velhos, mais novos, todos ali em volta", detalha, rindo.
Então veio a proposta de casamento, mas ela não foi aceita pelo pai de Antônia, que justificou dizendo que a filha era "uma criança ainda" e que primeiro tinha que "estudar". A recusa do pai causou uma desilusão na jovem, que, em protesto, disse que não casaria com mais ninguém, e assim fez.
Vidas separadas
Após os pais negarem o pedido de casamento, Antônia foi morar em São Paulo, onde viveu boa parte da vida. Ela se apaixonou novamente e viveu uma união estável, mas não chegou a casar. Após o companheiro falecer, decidiu continuar sozinha e foi morar no Maranhão com a sobrinha.
Enquanto isso, no Ceará, Olavo se casou e teve seis filhos. Mas o relacionamento chegou ao fim há dez anos e, desde então, também aproveitava a vida sem uma companheira.
Após 62 anos separados, a lembrança do amor da juventude floresceu nos dois. Com a chegada da pandemia da Covid-19, em março de 2020, Antônia começou a passar mais tempo nas redes sociais, onde reencontrou uma conterrânea de Mombaça, a quem pediu fotos do antigo amor. Mas foi outra amiga da adolescência, que tinha acompanhando o romance, quem intermediou o contato entre os dois após encontrar Olavo morando no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza.
“Ela mandou um recado para mim pela filha dela. ‘A mamãe conversou com ele e ele perguntou se ela tinha notícias suas. Aí falei: ‘se ele quiser conversar comigo, eu converso. Não tem problema’”, relembra.
Então, depois de seis décadas sem se falar, os dois puderam conversar. ‘Nessa época, eu nem tinha celular, por que eu não gostava de ficar ligando ou recebendo ligações. Então minha sobrinha falou: ‘tia, dá meu telefone para ele’. Então, aconteceu”.
Logo na segunda ligação, Olavo já decidiu retomar o tempo perdido e fez uma proposta: “’você quer recomeçar de onde nós paramos?’ Falei ‘quero’. E ele falou: ‘quer casar comigo?’ e eu concordei. Então ele falou: ‘espera passar essa pandemia, que vou aí te buscar’, mas disse ‘não, não venha não. Eu vou para aí”, relembra Antônia.
Reencontro após 62 anos
Em setembro de 2020, após seis meses de muitas ligações, conversas sobre o cotidiano e planos sobre o futuro juntos, Antônia viajou para o Ceará com a sobrinha, Isabel Cristina. Olavo foi esperá-las no Aeroporto de Fortaleza.
“Voltou no tempo. A gente se olhou e pareceu que a gente nunca se separou. Parecia que uma aura brotou entre nós. Ele olhou para mim e eu olhei para ele... E falei assim: ‘nossa, demorou’”, relembra o momento de reencontro.
“Meus irmãos ficaram radiantes ao saberem da novidade. Os familiares dele [Olavo] também gostaram muito. Estão todos felizes”, revela.
Rotina a dois
Nos primeiros meses juntos, eles moraram em um sítio em Mombaça, emprestado por um amigo de Olavo, até que decidiram se mudar para morar em uma casa no município de Pentecoste.
No local, os dois dividem a nova vida. Olavo, que é marceneiro, realizou o sonho de construir um galpão para exercer o dom com a madeira. Ele está construindo os próprios móveis da residência, enquanto Antônia realiza as tarefas domésticas, além de se divertir navegando nas redes sociais.
A casa será cenário para a futura celebração oficial da união, que, segundo Antônia, será feita conforme os princípios da religião de origem japonesa conhecida como Seicho-no-ie, que se caracteriza pelo não-sectarismo, pelo estímulo ao aperfeiçoamento e pelo cuidado ambiental.