UFC reformula distribuição de bolsas e alunos veteranos reclamam da perda de auxílios
Instituição afirma que ações assistenciais foram alteradas para ampliar a quantidade de estudantes atendidos
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Integrar-se e permanecer no ambiente universitário é meta e desafio para jovens, principalmente os de baixa renda. Obter auxílios na graduação ou pós, então, é fundamental: acesso que, segundo estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC), está comprometido por mudanças na oferta de bolsas acadêmicas.
O Diretório Central de Estudantes (DCE/UFC) de Fortaleza aponta que as Bolsas de Iniciação Acadêmica (BIA) “tiveram vagas reduzidas em relação ao ano passado, com o remanejamento do orçamento destinado à assistência estudantil para alguns outros auxílios”.
A entidade contabiliza que, em 2023, foram ofertadas 1.800 bolsas BIA pela UFC, das quais 1.460 eram reservadas aos campi de Fortaleza. “Agora em 2024, temos apenas 900 vagas ao todo, com 560 para a Capital”, complementa o diretório.
Ao Diário do Nordeste, a Universidade negou a redução da assistência e afirmou que as ações foram reformuladas para ampliar a quantidade de alunos atendidos em relação a 2023.
Bruno Rocha, pró-reitor de Assuntos Estudantis da UFC, destaca que o orçamento de 2023 “foi da ordem de R$ 17,6 milhões, e teve aumento para R$ 29,1 milhões em 2024”. O gestor pontua, porém, que a quantidade de vagas para bolsas BIA foi adaptada devido à criação de um novo benefício: o Auxílio Ingressante.
Até o ano passado, como explica o pró-reitor, estudantes de baixa renda que ingressavam na UFC tinham à disposição apenas as Bolsas de Iniciação Acadêmica, às quais concorriam junto aos veteranos. Já neste ano, os recém-chegados e os alunos de 2º semestre terão acesso “automático” ao novo auxílio estudantil, sem precisarem concorrer a bolsas.
“Neste ano, tivemos 1.045 ingressantes de baixa renda, e todos concorreriam às BIA. O que fizemos foi criar o Auxílio Ingressante, de R$ 500, que eles já recebem sem concorrer. Com isso, reduzimos a concorrência entre os alunos de 3º até o 6º semestre por vaga de BIA”, detalha Bruno, informando que “apenas 300 ingressantes” deixaram de ser contemplados.
“O programa foi readequado para atender mais pessoas. Em vez de atender apenas 1.800 bolsas BIA, atendemos 900 bolsas BIA, mais 1.045 ingressantes no 1º semestre e 400 no 2º. É um número bem maior de atendidos”, contabiliza o pró-reitor.
De acordo com o DCE, a redução das vagas BIA fez com que alguns estudantes não conseguissem renovar a bolsa. Foi o caso de Mauro Vinicius, 23, que cursa o 10º semestre do curso de Geografia e teve vínculo com o programa interrompido após as mudanças.
“Eu era bolsista BIA desde 2023 e já tinha acertado com meu laboratório a renovação, porém não sobraram vagas. Graças à minha bolsa eu pude parar de trabalhar e consegui me dedicar mais aos meus estudos, fazer mais cadeiras e participar mais ativamente da universidade”, pontua o jovem.
“Isso ameaça a permanência de diversos estudantes veteranos que, assim como eu, se asseguram nas bolsas mesmo ganhando pouco, para conseguirem se manter na universidade”, complementa Mauro.
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Questionado sobre as bolsas não renovadas, o pró-reitor Bruno Rocha afirmou que “a renovação foi criada na gestão anterior para suprir as vagas, porque havia mais bolsas do que estudantes”. Segundo ele, “houve uma flexibilização das regras da bolsa, e estudantes no final do curso estavam sendo atendidos”.
“Mas a bolsa BIA é de iniciação acadêmica, para estudantes até o 5º semestre, e só pode ser usada por dois anos. Nos relatórios, vimos estudantes com 5 anos de uso da bolsa BIA. Os pré-requisitos estavam sendo quebrados, fazendo com que a gente não usasse cerca de R$ 1,2 milhão na assistência estudantil”, destaca.
“Boa parte dos estudantes que ficaram de fora do processo seletivo neste ano estava do 6º semestre em diante ou tinha tido a bolsa mais de duas vezes, o que pela característica dela não poderia acontecer”, justifica o pró-reitor.
Garantia de permanência

De acordo com edital da PRAE, os critérios para concorrer a uma bolsa do PBIA são:
- Estar em situação de vulnerabilidade socioeconômica comprovada que dificulte a permanência do estudante no curso. Assim, o estudante não pode possuir renda familiar maior que um salário mínimo e meio por pessoa.
- Estar frequentando e regularmente matriculado em um dos cursos de graduação presenciais da UFC, sem ser concludente no semestre em que a bolsa inicia;
- Disponibilizar 12 (doze) horas semanais, de segunda-feira a sexta-feira, para cumprimento das atividades da bolsa, em três dias de 4 (quatro) horas ou quatro dias de 3 (três) horas;
- Não ter renda própria formal ou estágio remunerado, nem ser beneficiário de qualquer bolsa, seja concedida pela UFC ou por órgão ou agência de fomento, ou até mesmo bolsa-estágio concedida por outras instituições.
Para Marina Lopes, 23, estudante de Psicologia e secretária-geral do DCE da UFC, as mudanças que vieram com o processo de criação do Auxílio Ingressante não ficaram claras para a comunidade acadêmica.
“Temos nos reunido incessantemente com a PRAE para pensar em possibilidades. Temos um diálogo próximo com a gestão, mas quando o Auxílio Ingressante foi colocado, os estudantes não foram consultados. Ele é muito importante, mas não tivemos um diálogo amplo sobre como se daria esse orçamento e que seria tirado de outro tipo de bolsa”, diz.
Marina é bolsista de outro programa, o de Iniciação Científica (PIBIC), e reforça a importância do auxílio. “É a partir da bolsa que consigo pagar o restaurante universitário, o ônibus, viagens para eventos da universidade”, frisa.
“As bolsas BIA são extremamente importantes e indispensáveis para a permanência e incentivo às atividades de ensino, pesquisa e extensão e é urgente que o destino do orçamento para a assistência estudantil tenha a participação e efetivo conhecimento dos estudantes”, frisou o DCE, em nota oficial.
Um estudante da UFC em Fortaleza, que preferiu não ser identificado, relata que a não inclusão de estudantes veteranos nos programas assistenciais “ameaça a permanência de muitos deles nas salas de aula”.
“Os mais veteranos terão que largar projetos, pois não conseguiram os benefícios e correm o risco de largar o curso, podendo levar a UFC a ter o maior número de evasão dos últimos anos”, lamenta.
O professor Bruno Rocha, pró-reitor de Assuntos Estudantis, reconhece que, aos moldes do que foi feito em relação aos estudantes ingressantes, “a Universidade precisa de estratégias para atender os estudantes que estão concluindo o curso”; e reforçou o diálogo com o alunado como parte essencial dessa construção.
“Desde a primeira semana que o DCE tomou posse, temos reuniões sistemáticas. Foi uma proposta da nossa PRAE um Fórum Consultivo para que se apropriassem da gestão orçamentária, em agosto de 2023”, conclui Bruno.