Queda de avião marcou tragicamente inauguração de avenida de Fortaleza há 47 anos; saiba detalhes

Na entrega da Leste Oeste, na década de 1970, o acidente com uma aeronave acabou provocando a morte de, ao menos, 15 pessoas

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com
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Legenda: Uma multidão assistiu a apresentação de quatro aviões AT-26 Xavante do 4º Esquadrão Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira (FAB)
Foto: Arquivo Nirez

O dia era para ser de comemoração. Após um período de obras, Fortaleza inaugurou, na década de 1970, a Av. Presidente Castelo Branco, a famosa Leste Oeste, que corta a cidade do Centro à Barra do Ceará, e com isso mudou a conexão do lado Oeste com a área central e o porto. Mas, a celebração deu lugar ao desespero. Uma apresentação aérea acabou em tragédia. Um dos quatro aviões caiu e a entrega da via ficou marcada pelo acidente que provocou a morte de, ao menos, 15 pessoas no bairro Pirambu

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Na manhã do dia  20 de outubro de 1973, o palanque das autoridades já estava montado na área em que hoje está localizado o hotel Marina Park, próximo ao Moura Brasil. O local já tinha uma grande concentração do público que esperava para inaugurar o primeiro trecho da recém criada Av. Leste Oeste, que vai da Av. Dom Manuel à Barra do Ceará. 

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A obra ocorreu na administração do prefeito engenheiro Vicente Fialho, na época do governo militar, que tinha o general Emílio Garrastazu Médici à frente. Na ocasião da inauguração, o governo federal era representado, em Fortaleza, pelo Ministro do Interior, Costa Cavalcanti. Ele e o prefeito estavam no local junto à multidão. 

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Legenda: Com a ocorrência, houve uma correria generalizada, sobretudo, porque quem estava no local sabia que a queda foi em uma área bastante residencial.
Foto: Arquivo Nirez

Quatro aviões AT-26 Xavante do 4º Esquadrão Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira (FAB), da Base Aérea de Fortaleza, registra a imprensa da época, sobrevoaram a baixa altitude a área onde estava instalado o palanque das autoridades.

Às 10 horas e 20 minutos um dos quatro aviões caiu na área do Pirambu e teve início um grande incêndio. Na tragédia, três casas da Rua Gomes Parente, localizada a cerca de 2 km,  foram afetadas. 

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Com o acidente, informa a imprensa da época, além do piloto, o tenente identificado como Pedro Rangel Molinos, de apenas 24 anos, houve registro de, pelo menos, outras 14 pessoas mortas. Jornais informaram que várias vítimas eram crianças e adolescentes. 

No local, muita fumaça preta. O trabalho dos bombeiros começou de forma imediata. Atuaram na operação 40 bombeiros e foram usados 4 caminhões-pipas e duas ambulâncias.

O trabalho foi intenso e situação desesperadora para vítimas, famílias e vizinhos. O grupo de feridos, salvo por bombeiros, foi levado ao Instituto Dr. José Frota (IJF).

O Xavante, noticiaram os jornais, era um avião produzido no Brasil desde 1972 pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). A ocorrência em Fortaleza foi a primeira do tipo envolvendo esse tipo de avião em solo brasileiro. O equipamento era um aparelho de treinamento e apoio para 2 tripulantes e duplo comando. 

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Legenda: Uma das funções da Leste Oeste era tornar mais rápida a ligação da zona industrial, como áreas da Avenida Francisco Sá, com o Porto do Mucuripe.
Foto: Kid Jr

Testemunha da tragédia

“Apesar da pouca idade na época, eu lembro da construção da avenida que rasgou o Pirambu ao meio e mudou totalmente. No dia da inauguração, tinha muita gente. Fui com minha mãe e meu irmão. Eu tinha sete anos e ele 11. Nós estávamos perto da Escola de Aprendizes de Marinheiros”, conta o juiz federal Marcos Mairton, testemunha da ocorrência quando era criança. 

Ele recorda que era morador da Rua Pedro Artur, conhecida, segundo ele, como 7 de Setembro.

"Esses aviões passaram em um voo rasante como quem vem do Marina em direção à Barra do Ceará. Eu ouvi o barulho e eles passaram voando bem baixo e logo que passaram eles começaram a subir. E nessa  subida um deles perdeu força e começou a rodopiar e desapareceu por detrás das casas”. 
Marcos Mairton
Juiz federal, testemunha da ocorrência quando era criança

Depois disso, reitera Mairton, foi uma correria generalizada, sobretudo, porque quem estava no local sabia que a queda ocorreu em uma área bastante residencial. “Nesse momento, minha mãe pegou um táxi, que nem era coisa tão fácil na época, e minha mãe nos colocou dentro para voltarmos para casa. Ela nos deixou na casa de uma amiga dela na Theberge e foi olhar o que havia ocorrido”. 

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Legenda: A construção da Leste Oeste na década de 1970 veio junto à estruturação de outras vias importantes de Fortaleza.
Foto: Arquivo Nirez

À noite, Mairton voltou para a casa. No dia seguinte, no domingo, foi ao local do acidente.

“Tinha uma cratera bem grande. E eu lembro muito bem que do chão ainda saía uma fumaça. Eu até achei um pé de um ser humano, mostrei para o meu pai e os bombeiros recolheram”. 
Marcos Mairton
Juiz federal, , testemunha da ocorrência quando era criança

De acordo com ele, foi a maior tragédia que já testemunhou. Em 1987, Mairton mudou-se do Pirambu, mas a memória da trágica ocorrência o acompanha.  

Conforme registro da imprensa da época,  a ocorrência teve repercussão nacional. No dia, o prefeito Vicente Fialho suspendeu todas as festividades da inauguração da nova estrada. Jornais noticiaram também que houve falha técnica na operação do Xavante, o que teria provocado a queda. 

Abertura da Leste Oeste

A construção da Leste Oeste na década de 1970 veio junto à estruturação de outras vias importantes de Fortaleza. Foi na gestão de Vicente Fialho que avenidas como a Borges de Melo, Aguanambi, José Bastos também foram estruturadas. 

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Legenda: A Av. Leste Oeste vai da Av. Dom Manuel à Barra do Ceará.
Foto: Kid Jr

Uma das funções da Leste Oeste que tem cerca de  era tornar mais rápida a ligação da zona industrial, como áreas da Avenida Francisco Sá com o Porto do Mucuripe. Além disso, a estruturação da via melhorou o acesso ao litoral oeste de Fortaleza. 

“A Leste Oeste fez uma transformação muito grande na área. Na época, a rua na qual passava ônibus, era a rua em que eu morava. E nossa casa ficava no fim da linha. Para a gente que era criança, o mundo terminava ali. A gente não sabia o que vinha depois. Com a abertura fez-se a conexão da Barra do Ceará ao Mucuripe. Ampliou o nosso horizonte”, reforça Mairton. 

 

 

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