Fortaleza segue tendência mundial ao reduzir velocidade nas vias a 50km/h; mudança deve ser gradual
Grandes cidades do mundo já adotaram velocidades menores, de até 32 km/h
Andar mais rápido ou andar seguro? Com o aumento do número de vias com limite de velocidade até 50 km/h em Fortaleza, especialistas indicam: a segurança de condutores e pedestres deve ser prioridade.
A capital cearense já tem 25 ruas e avenidas com velocidade máxima permitida de 50 km/h (veja lista abaixo). Outras têm tolerância ainda menor, de 30 km/h, como nas áreas de trânsito calmo, reforça a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC).
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Vias de Fortaleza com 50 km/h
- Av. Pres. Castelo Branco
- Av. Gal. Osório de Paiva
- Av. Francisco Sá
- Av. Augusto dos Anjos
- Av. Duque de Caxias
- Av. Frei Cirilo
- Av. Cel. Carvalho
- Av. Gomes de Matos
- R. Alberto Magno
- Av. Dom Luís
- Av. José Leon
- R. Vereador Pedro Paulo
- Av. João de Araújo Lima
- Av. Monsenhor Tabosa
- Av. Abolição
- Av. Santos Dumont
- Av. Imperador
- Av. Antônio Sales
- R. Dr. Justa Araújo
- R. Gov. João Carlos
- R. Marechal Bittencourt
- Av. Borges de Melo
- Av. Bernardo Manuel
- Av. Bezerra de Menezes
- Av. Jovita Feitosa
O entregador por aplicativo Tiago Fernandes, 33, diz entender os motivos da redução do limite de velocidade, mas confessa que, ainda assim, “não concorda” com ela.
“Pra gente que trabalha dirigindo, com tempo contado, não é tão bom. A gente precisa chegar mais rápido nos locais, depende disso pra ganhar, mas pode levar multa se correr mais, né?”, reconhece.
Mais vias com menor velocidade
Apesar das reclamações constantes de condutores, é preciso que se acostumem: a tendência é de que Fortaleza tenha mais vias com limite de velocidade reduzido até o fim de 2021.
A capital cearense tem seguido uma tendência já praticada por grandes cidades do mundo, que apostam em limites cada vez menores para aumentar a segurança viária, evitar lesões e óbitos.
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Londres, capital britânica, adota o limite de 32 km/h; assim como Nova York, nos EUA, que permite velocidade máxima entre 32 e 40 km/h, a depender da via. Paris e Tóquio são outros dois exemplos: na cidade francesa, o limite é de 40 km/h; na japonesa, varia de 30 a 50 km/h.
A velocidade é o principal fator de risco no trânsito, aumentando a probabilidade dos sinistros e a gravidade das lesões. Com velocidade mais baixa, você reage a tempo e evita acidentes.
Beatriz Rodrigues, coordenadora de mobilidade e desenho urbano da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, garante que “há comprovações científicas a nível mundial sobre o impacto positivo da redução de velocidade para a segurança no trânsito”.
Como exemplo local, a especialista cita a Avenida Leste Oeste, primeira via de Fortaleza onde o limite de 50 km/h foi implementado, em 2018. De lá para cá, segundo a AMC, os atropelamentos diminuíram em 64%.
A medida é orientada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a qual os veículos não devem trafegar em áreas urbanas com velocidade acima de 50 km/h em nenhuma situação.
Menor velocidade, mais assaltos?
Adotar a redução do limite de velocidade como política de segurança viária é medida impopular, questionada pelos condutores cearenses. A desinformação em torno dos impactos práticos é comum. Mas o que é verdade e o que é mito nisso tudo?
Trabalho educativo é fundamental
Para Beatriz, as intervenções viárias não são suficientes: é preciso atualizar uma legislação ainda muito permissiva. “A velocidade não está completamente amparada na legislação brasileira, que ainda permite limites acima de 60 km/h. É importante que a lei acompanhe esse movimento de adequação às boas práticas”, pondera.
A crença dos condutores em alguns mitos também torna “indispensável educar e conscientizar a população” sobre a importância das políticas públicas.
É importante trazer dados, mostrar os impactos às pessoas. Fortaleza é referência mundial em segurança viária por causa dessas intervenções, e não está fazendo mais do que sua lição de casa.
Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (DET/UFC), aponta que “tudo é questão de costume: se nos acostumamos a andar a 60 km/h, será igual com 50 km/h”.
“Nas grandes cidades, a velocidade média com que conseguimos andar durante o dia já é bem mais baixa que 50 km/h, então não faz muita diferença pro condutor. E o objetivo é segurança, então é válido”, observa.
Além de trabalho educativo, o professor reforça que uma fiscalização mais atuante é fundamental para as medidas serem cumpridas. “Por melhor que sejam a engenharia das vias e a educação, sempre alguém vai sair do que é certo”, lamenta.
Estacionou num lugar proibido. Pode gerar acidente? Sim, pode, o pedestre vai ter que passar pela rua e pode ser atropelado. Tem que ter uma fiscalização em tudo.
“Multar não é o objetivo”
A AMC ressalta que “toda e qualquer mudança só acontece mediante estudo técnico que justifique a necessidade”, e que “os motoristas têm seis meses de período educativo para se adaptarem”. Multar não é o objetivo, como pontua a superintendente do órgão, Juliana Coelho.
“De todos os veículos que circulam em Fortaleza, apenas 20% são infratores, os que infelizmente se envolvem em sinistros. Cumprir regra não é impossível, é pra ser o normal e habitual. Se não investirmos em fiscalização, vamos baixar a guarda e retroceder. De forma nenhuma o objetivo é autuar”, garante.
é a extensão aproximada de vias com velocidade reduzida a 50 km/h em Fortaleza
A gestora explica que a escolha das vias é feita por meio de planejamento mensal, a partir da análise de dados de acidentes. “Sempre que morre alguém no trânsito, a gente se reúne para analisar as causas e solucionar. Todo ser humano é passível ao erro, mas se tiver ambiente de vias seguras, ele consegue reagir e evitar acidentes”.