Oito cidades do CE registram mais que o dobro de chuvas previstas para março; entenda causas

A intensidade das precipitações tem impactado famílias que vivem em áreas de risco e acumulam perdas no período chuvoso

Escrito por Theyse Viana e Samuel Quintela , theyse.viana@svm.com.br
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Legenda: As precipitações registradas até o momento já ultrapassam o total previsto para todo o mês
Foto: Marciel Bezerra/Arquivo

Com o cenário de chuvas intensas no Ceará, 8 cidades já registram o dobro do volume de precipitações previsto para o mês de março inteiro. Em Porteiras, por exemplo, o acumulado já supera a média histórica em 172%.

Os dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), coletados pelo Diário do Nordeste às 15h dessa segunda-feira (27).

No Ceará como um todo, o volume esperado para março também já foi ultrapassado. A “normal pluviométrica”, que corresponde à média histórica, é de 203.4 milímetros – mas até ontem (27), o mês já registrava 252.3 mm de chuvas (24% acima).

Chuvas já eram esperadas

O volume de precipitações pode impressionar, principalmente diante dos efeitos estruturais, mas já era esperado, como aponta Lucas Fumagalli, meteorologista da Funceme. “Já aconteceram chuvas mais intensas no passado”, contextualiza.

O acumulado de 230 mm em 24h em Deputado Irapuan Pinheiro, por exemplo, é a 17ª chuva mais intensa desde 1970, segundo Lucas. “Mas, mesmo assim, chama atenção pelo volume”, frisa.

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O meteorologista explica que os rastros deixados pela água nas cidades do interior têm relação com fatores naturais. “Temos o relevo, altas temperaturas durante o dia, e a Zona de Convergência Intertropical, que está mais próxima da zona litorânea, mas vem causando impactos no interior”, pontua.

"Um alto volume de chuva traz consequências para o solo e danos de infraestrutura, como em rodovias, claro. Mas os elementos que caracterizam essas chuvas intensas são comuns, e já estávamos com essa previsão"
Lucas Fumagalli
Meteorologista

Mas já que as precipitações eram previstas, a Funceme alertou os órgãos de proteção, como a Defesa Civil, por exemplo. “Nós emitimos avisos nos grupos, mas como as instituições vão usar a gente não pode prever. Não podemos falar como eles vão reagir”, destaca Lucas.

Estragos nas cidades

Porteiras, chuva
Legenda: Em Porteiras, um paredão de sustentação rompeu e levou parte de casas
Foto: Raony Pinheiro/Arquivo Pessoal

Uma semana após Uruburetama, Itapajé e Itapipoca contabilizarem perdas causadas pelas fortes chuvas, os municípios de Porteiras, Senador Pompeu, Milhã e Deputado Irapuan Pinheiro entraram na lista de populações prejudicadas.

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Em Porteiras, a prefeitura decretou situação de emergência após as chuvas deixarem um rastro de destruição na cidade. Além de alagamentos, casas chegaram a ter desabamento parcial e famílias ficaram desalojadas.

Primeiro, caiu a caixa d'água, o banheiro afundou, a parede da cozinha caiu e caíram móveis dentro do rio. Comecei a escutar o pessoal gritando pedindo ajuda e saí para socorrer. Foi aquele nervosismo, pânico pavoroso
Francisco Erivan Amorim
Morador de Porteiras

Já em Senador Pompeu, uma rodovia que liga o município a uma cidade vizinha foi invadida pela enxurrada e precisou ser interditada. Um distrito ficou isolado, e o prefeito Maurício Pinheiro decretou estado de calamidade.

“Estamos com dois grandes açudes públicos com imagens muito preocupantes: o açude do Poço Grande e o Riacho do Meio, que está prestes a arrombar. Se isso acontecer, Senador Pompeu ficará debaixo d'água”, afirmou, em entrevista sobre o cenário.

Milhã, chuva
Legenda: Em Milhã, a chuva inundou casas e danificou móveis e eletrodomésticos de moradores
Foto: Wandenberg Belém

No município de Deputado Irapuan Pinheiro, que faz divisa com Milhã e Senador Pompeu e registrou a maior chuva do ano no Ceará (230 milímetros), as aulas foram suspensas pela prefeitura, diante dos riscos de locomoção “em estradas intransitáveis”. 

Sedes de órgãos públicos também ficaram sem funcionar. O prefeito da cidade, Gildecarlos Pinheiro, solicitou cautela aos moradores e orientou que permanecessem em casa. A gestão informou que não houve danos maiores pelas precipitações.

Em Milhã, por outro lado, famílias ficaram desalojadas após móveis e até o próprio teto sucumbirem às enchentes.

A população precisou receber apoio na creche municipal, localizada na sede da prefeitura, de acordo com a Defesa Civil. Moradores relataram que a velocidade com que a água transbordada de um rio próximo invadiu as residências foi “surpreendente”.

“Saí de casa e quando voltei a enchente já tinha invadido tudo, umas 8 horas da manhã. Foi ligeiro demais, com mais de 1 metro de altura. Perdi tudo: fogão, televisão, geladeira, sofá, armário”, descreveu o agricultor Carlos Vandik da Silva.

10 maiores chuvas acumuladas por posto no mês

  1. Maranguape - 709 mm
  2. Ibiapina - 669.6 mm
  3. Itapipoca - 581.6 mm
  4. Uruburetama - 562.5 mm
  5. Granja - 547 mm
  6. Camocim - 540 mm
  7. Ubajara - 531.3 mm
  8. Milhã - 517 mm
  9. Itapajé - 511.5 mm
  10. Cariré - 503 mm

Previsão para próximos meses

O meteorologista da Funceme observa que, para abril, “o cenário indica que as chuvas devem ficar acima da média”. A normal histórica para o mês no Ceará é de 203.4 mm. “Mas é um resultado preliminar, então isso pode mudar”, pondera o especialista.

“Isso deve contribuir para fecharmos com a quadra chuvosa com o patamar de normalidade ou acima da média. Mas primeiro tem de se concretizar o mês de abril, então ainda temos um bom período”, complementa.

Para Lucas, o cenário é “otimista”, uma vez que as chuvas “podem ajudar a encher os reservatórios no Estado”, embora “eventualmente possamos ter chuvas intensas que causam danos”.

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