Monkeypox: sem previsão de receber vacina, Ceará confirma 380 casos em 3 meses

Imunizante pode ser uma estratégia importante para conter a doença, principalmente, em contatos de pacientes com infecção viral

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Sintomas
Legenda: Sintomas mais comuns da monkeypox, conhecida como varíola dos macacos, são erupções na pele e febre
Foto: Freepik

O Ceará tem 380 casos confirmados de monkeypox, conhecida como varíola dos macacos, até esta quarta-feira (12) – pouco mais de 3 meses desde a primeira infecção no Estado. Mesmo com a chegada do primeiro lote de vacinas, não há previsão divulgada para distribuição de doses contra a doença no País.

Os dados dos casos da doença no Ceará estão no portal IntegraSus, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), e foram atualizados na terça-feira (11).

Isso porque o primeiro lote com 9,8 mil doses, recebido no último dia 4, deve ser usado para um estudo sobre a efetividade do imunizante. Centros de pesquisa serão selecionados no País, porém não foi informado como isso deve acontecer.

O Diário do Nordeste procurou o Ministério da Saúde em duas ocasiões com questionamentos sobre o recebimento de imunizantes e a distribuição para os estados, mas não obteve esse detalhamento. Até o fim do ano, o Ministério da Saúde diz receber 50 mil doses.

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Sobre o assunto, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou, por meio de nota, que “aguarda comunicação do Ministério da Saúde (MS) em relação ao envio de vacinas contra a monkeypox”.

Em publicação, o Ministério da Saúde divulgou que o lote será para realização de estudo, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa será coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e apoiada pela OMS.

É importante ressaltar que as vacinas são seguras e atualmente são utilizadas contra a varíola humana ou varíola comum. Por isso, o estudo pretende gerar evidências sobre efetividade, imunogenicidade e segurança da vacina contra a varíola dos macacos e, assim, orientar a decisão dos gestores
Ministério da Saúde

Nesse caso, a população geral e nem mesmo os profissionais da saúde devem receber o imunizante nesse primeiro momento. Apenas pessoas identificadas como expostas ao vírus, como contatos de casos confirmados, e pessoas em tratamento antirretroviral para HIV participam do estudo. 

A escolha dos centros de pesquisa, conforme o Ministério da Saúde, considera as cidades com elevados números de casos confirmados da doença e a infraestrutura disponível para a condução do estudo.

E qual o impacto da demora para o acesso à vacina? “Se a gente já tivesse a vacina disponível, a chance de um contato evoluir para a doença diminuiria, mas por enquanto não temos essa opção de contenção do problema. Esse seria o melhor cenário”, resume o infectologista Robério Leite.

A gente fica com essa pendência e, obviamente, a estratégia de contenção têm mais risco de falhas na ausência de vacinas
Robério Leite
Infectologista

Isso porque a vacina pode ser aplicada de forma estratégica: quem tem contato com um caso de monkeypox, recebe o imunizante e diminui o risco de ter e transmitir a doença. Esse tipo de aplicação acontece para outras doenças, como exemplifica Robério, como sarampo e catapora.

Na ausência desse recurso, a identificação rápida dos casos e o isolamento dos pacientes devem ganhar maior importância. A vacinação para a população geral, no entanto, ainda não é recomendada. 

“Como ainda não é uma doença que tenha uma repercussão muito grande na população, não há uma perspectiva de uma vacinação universal, como foi no tempo da varíola, porque o cenário é diferente”, explica Robério Leite.

 

Como a monkeypox atinge o CE

O Ceará permanece como o estado do Nordeste com o maior número de casos confirmados de monkeypox, com 380 casos. Na sequência, aparecem Pernambuco (164) e Bahia (116). O Ceará também aparece em 5º lugar no País.

Casos confirmados de monkeypox no Brasil

O último boletim do Ministério da Saúde, ainda sem a última atualização do Ceará, mostra os seguintes dados da doença: 

  • São Paulo: 3.847
  • Rio de Janeiro: 1.137
  • Minas Gerais: 527
  • Goiás: 509 
  • Ceará: 377

A doença atinge, na maioria dos casos, pessoas entre 20 e 29 anos que somam 416 diagnósticos positivos. Nessa faixa etária, os homens (272) também são mais atingidos do que as mulheres (144).

Já são 148 crianças entre 0 e 9 anos com infecção por monkeypox nesse período. Os idosos, por outro lado, são menos afetados: 53 pessoas acima de 60 anos tiveram a doença.

Além dos casos confirmados, o Estado tem 200 pacientes que aguardam o resultado do exame para verificar se há infecção pela monkeypox. Fortaleza desponta como o local que concentra as confirmações da doença com 290 infecções.

Entre os sinais e sintomas mais comuns da doença na população cearense, as erupções cutâneas foram relatadas por 282 pacientes. Na sequência, aparecem febre (231) e lesão genital/perianal (176).

Como deve funcionar a pesquisa

Esse primeiro lote de vacinas contra a monkeypox deve ser usado em estudo para testar a efetividade da vacina Jynneos/MVA-BN®️ na população brasileira. São analisados dois fatores: se a vacina reduz a incidência da doença e a progressão à doença grave.

Os profissionais de saúde não estão incluídos como grupo prioritário para a aplicação da vacina. Conforme o Ministério da Saúde, os dados epidemiológicos no Brasil e no mundo não demonstram maior exposição desse grupo à doença.

Quem deve receber o imunizante

  • Pessoas em pós-exposição, ou seja, que tiveram contato prolongado com caso confirmado de monkeypox
  • Pessoas em pré-exposição, que fazem uso de profilaxia pré-exposição (PrEP) ou em tratamento com antirretroviral para HIV

“Esses profissionais realizam coleta e atendimento aos pacientes com equipamento de proteção individual. Caso haja algum contato prolongado e sem proteção com algum paciente, esse profissional poderá ser recrutado”, informou o Ministério da Saúde.

Quais os sintomas da monkeypox?

Dentre os casos notificados no Ceará, segundo a Sesa, os sintomas mais apresentados pelos pacientes foram lesões de pele, febre e ínguas (adenomegalia).

Os sinais e sintomas da monkeypox duram de 2 a 4 semanas, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), e desaparecem por conta própria, geralmente sem complicações. 

O período de incubação do vírus monkeypox é “tipicamente de 6 a 16 dias”, mas pode chegar a 21 dias, como explica o Ministério da Saúde. Ou seja, esse é o período que o paciente pode manter sem sintomas após ter contraído o vírus.

Como ocorre a transmissão da monkeypox?

Entre humanos, o vírus é transmitido por contato pessoal com secreções respiratórias, lesões de pele de infectados, fluidos corporais ou objetos recentemente contaminados. 

“Quando a crosta desaparece e há reepitelização, a pessoa deixa de infectar outras e, na maioria dos casos, os sinais e sintomas desaparecem em poucas semanas”, aponta a Sesa.

De acordo com o Ministério da Saúde, a monkeypox “é uma doença que exige contato muito próximo e prolongado para transmissão de pessoa a pessoa, não sendo característica a rápida disseminação”. Apesar disso, o vírus tem potencial epidêmico.

Como prevenir a varíola dos macacos?

  • Evitar contato com pacientes suspeitos ou infectados;
  • Higienizar as mãos com frequência, com água e sabão ou álcool;
  • Usar máscaras de proteção.

As medidas também valem para roupas, roupas de cama, talheres, objetos e superfícies utilizadas por pessoas com suspeita ou confirmação da doença. Esses itens devem ser limpos da forma adequada.

O que fazer se tiver sintomas da monkeypox?

As autoridades de saúde recomendam que o paciente que apresentar sintomas da varíola dos macacos procure uma unidade de saúde, para atendimento médico. E não entre em contato com outras pessoas.

Qual é o tratamento da monkeypox?

O tratamento dos casos suspeitos de varíola dos macacos tem se baseado, conforme boletim da Secretaria da Saúde, “no manejo da dor e do prurido, cuidados de higiene na área afetada e manutenção do balanço hidroeletrolítico”.

A maioria dos casos, observam as autoridades de saúde, apresenta sintomas leves e moderados. “Na presença de infecções bacterianas secundárias às lesões de pele, deve-se considerar antibioticoterapia”, acrescenta a Sesa.

Até o momento, não há medicamento aprovado especificamente para monkeypox, embora alguns antivirais tenham demonstrado alguma atividade contra o MPXV.

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