'Meu filho não é bandido', diz mãe que espera cearense deportado dos EUA no Aeroporto de Fortaleza
A última vez que mãe e filho se falaram foi há uma semana

Durante toda a última semana, Maria* (nome fictício) esteve “uma pilha”. Na tarde desta sexta-feira (7), ela foi ao Aeroporto de Fortaleza para esperar o filho João* (nome fictício), que voltou à terra natal no segundo voo com brasileiros deportados dos Estados Unidos. Enquanto ela aguardava o filho no saguão do Aeroporto, conversou com a reportagem do Diário do Nordeste.
Os nomes de mãe e filho não serão identificados a pedido da entrevistada, por receio. Cearense, João saiu do Brasil para morar no Canadá, mas há três anos morava nos Estados Unidos. No dia 2 de janeiro, ele avisou para a mãe que tinha sido detido. Ao longo dos últimos anos, ele viveu em New Jersey e na Flórida, foi motorista e atuou na construção civil. Era um “faz-tudo”, conta ela.
“Meu filho não é bandido”, disse a mãe. “Ele tinha vontade de morar fora, aqui a pessoa é muito desvalorizada. Era o sonho dele. (...) Por mim, ele não teria ido para lá, porque eu acho que aqui a gente também sobrevive. O mesmo Deus daqui é o Deus de lá.”
A última vez que mãe e filho se falaram foi há uma semana, e ele mesmo disse para ela que seria enviado para o Brasil. Hoje, ele chega a Fortaleza em um voo que traz, ao todo, 111 pessoas, entre homens, mulheres, crianças e adolescentes.
O defensor-geral da União, Leonardo Magalhães, explicou ao Diário do Nordeste que, assim que chegarem, alguns dos deportados poderão precisar regularizar o Cadastro de Pessoa Física (CPF), emitir carteira de trabalho ou solicitar algum benefício previdenciário, por exemplo.
“Essas questões iniciais, de acesso à Justiça, assistência jurídica e regularização de documentos para permitir a reintegração ao Brasil” serão esclarecidas pela Defensoria Pública da União (DPU), disse.
Deportação em massa
O avião pousou em Fortaleza pouco depois das 16 horas desta sexta-feira (7). O voo partiu do Aeroporto Internacional Rafael Hernández, em Aguadilla, Porto Rico, e a capital cearense foi escolhida para a chegada dos deportados para evitar o uso prolongado de algemas pelos passageiros em território nacional.
Esse é o segundo voo que chega ao País. Na primeira leva, um avião pousou em Manaus no dia 24 de janeiro com 88 brasileiros que foram mantidos aprisionados. O Ministério da Justiça e Segurança Pública classificou o caso como “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”.
As operações de deportação em massa começaram poucos dias após a posse de Donald Trump como presente dos Estados Unidos. Ao longo da campanha presidencial, ele prometeu conter a imigração ilegal nos EUA. Logo no primeiro dia de governo ele assinou ordens destinadas a impedir a entrada de imigrantes ilegais.
Acolhimento no Brasil
Os brasileiros serão acolhidos inicialmente pela Polícia Federal, que fará a conferência da lista com os nomes e o controle migratório. Depois, eles receberão assistência do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), por meio da Operação Acolhida.
A Secretaria dos Direitos Humanos do Ceará (Sedih), por meio do Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM), também deve apoiar a operação.
Como 80% dos deportados são mineiros, o plano inicial do Governo Federal era de que o avião aterrissasse em Belo Horizonte, Minas Gerais, assim como ocorreu no primeiro voo, no último 24 de janeiro, que teve 88 pessoas deportadas.
Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) está de prontidão para o deslocamento de Fortaleza a Belo Horizonte. No entanto, não se sabe ainda como o restante do grupo será levado aos seus estados de origem.
Quantos brasileiros serão deportados?
Segundo um documento do Immigration and Customs Enforcement (ICE), o Serviço de Imigração americano, referente a novembro de 2024, quase 1,5 milhão de pessoas já tinham sentença de deportação nos Estados Unidos. Destas, 38.677 eram brasileiras. A lista ainda poderá ser atualizada.
Os dados abrangem cidadãos não americanos que não estão presos, mas que feriram as leis de imigração do país e já tiveram o processo avaliado por um juiz.
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