Metade das cidades no Ceará não alcançam metas de assistência a pacientes com diabetes e hipertensão

Programa do Governo Federal indica consultas semestrais para evitar casos graves das doenças

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Consultas médicas podem prevenir que as doenças causem consequências graves ou a morte de pacientes
Foto: Shutterstock

Ainda é um desafio monitorar a hipertensão e a diabetes na população cearense. Devido à oferta inferior diante da demanda, de consultas e exames periódicos na rede pública, 53% das cidades do Estado ficaram com suas metas assistenciais abaixo do adequado - que é ter pelo menos uma consulta e um exame a cada seis meses - no controle da diabetes, e 48,4% dos municípios não alcançaram esse mesmo índice em relação aos cuidados com a hipertensão.   

Essas metas são determinadas pelo Ministério da Saúde. Isso significa que moradores de 99 cidades do Ceará não estão sendo acompanhados devidamente em relação à primeira doença e que 89 municípios estão descobertos dos cuidados ideais com a segunda.

Os dados são da plataforma ImpulsoGov, uma organização sem fins lucrativos, com base nos registros do programa do Governo Federal "Previne Brasil", que vincula parte dos recursos financeiros da Atenção Primária à Saúde ao cumprimento de metas assistenciais.

O balanço mais recente avalia os últimos 4 meses de 2023 e a análise do contexto cearense foi feita a pedido do Diário do Nordeste.

No caso da assistência aos diabéticos, o objetivo é identificar o contato entre o paciente e o serviço de saúde, para atendimento e solicitação do exame de hemoglobina glicada. Esse acompanhamento deve acontecer pelo menos uma vez a cada 6 meses e a meta é alcançar 50% do público.

Já no controle à hipertensão, a ideia é realizar o procedimento de aferição da pressão arterial, que permite avaliar se a condição está controlada, para prevenir os danos mais extremos da doença. As consultas também devem ser realizadas semestralmente para 50% da população.

O Ministério da Saúde estabelece uma nota de 0 a 10 pelo desempenho dos municípios, recebendo nota máxima aquelas que cumprem as metas estabelecidas, ou seja, quem não alcança 10 está fora da meta.

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As notas mais baixas no acompanhamento da diabetes são de Baturité (2,6), no Maciço de Baturité; Abaiara (3,2), no Cariri; e Paracuru (3,4), na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Já Baixio (2), no Centro-Sul; Crateús (4,6), no Sertão de Crateús; e Campos Sales (4,6), no Cariri, ficaram com os menores desempenhos na assistência contra a hipertensão.

Confira quem não alcançou os objetivos relacionados a diabetes:

  • Baturité: 2,6
  • Abaiara: 3,2
  • Paracuru: 3,4
  • Campos Sales: 3,6
  • Pacajus: 3,6
  • Crateús: 4,2
  • Acarape: 4,2
  • Barro: 4,2
  • General Sampaio: 4,4
  • Barreira: 4,6
  • Aquiraz: 4,6
  • Canindé: 4,6
  • Tianguá: 5
  • São Benedito: 5,2
  • Maranguape: 5,2
  • Hidrolândia: 5,2
  • Baixio: 5,4
  • Icapuí: 5,4
  • Mauriti: 5,4
  • Boa Viagem: 5,4
  • Trairi: 5,4
  • Redenção: 5,6
  • Caucaia: 5,6
  • Saboeiro: 5,8
  • Quixelô: 5,8
  • Paraipaba: 6
  • Tururu: 6,2
  • Aracati: 6,2
  • Arneiroz: 6,2
  • Poranga: 6,2
  • Acopiara: 6,2
  • Itaiçaba: 6,2
  • Potiretama: 6,4
  • Monsenhor Tabosa: 6,6
  • Chorozinho: 6,6
  • Granjeiro: 6,8
  • Apuiarés: 7
  • Guaraciaba do Norte: 7
  • Barbalha: 7
  • Ocara: 7
  • Itapipoca: 7,2
  • Ipu: 7,2
  • Fortaleza: 7,4
  • Itapiúna: 7,4
  • Beberibe: 7,4
  • Guaiúba: 7,4
  • Pacatuba: 7,4
  • Pacoti: 7,6
  • Tarrafas: 7,6
  • Potengi: 7,6
  • São Luís do Curu: 7,6
  • São Gonçalo do Amarante: 7,8
  • Mucambo: 7,8
  • Caririaçu: 8
  • Tejuçuoca: 8
  • Cariré: 8,2
  • Massapê: 8,2
  • Cariús: 8,2
  • Chaval: 8,2
  • Croatá: 8,2
  • Viçosa do Ceará: 8,2
  • Quixeramobim: 8,4
  • Meruoca: 8,6
  • Uruburetama: 8,6
  • Forquilha: 8,6
  • Umirim: 8,6
  • Mulungu: 8,6
  • Aurora: 8,6
  • Groaíras: 8,8
  • Ipaumirim: 8,8
  • Caridade: 8,8
  • Jardim: 8,8
  • Iracema: 8,8
  • Itapagé: 8,8
  • Quixadá: 8,8
  • Aratuba: 8,8
  • Tabuleiro do Norte: 8,8
  • Aiuaba: 8,8
  • Várzea Alegre: 8,8
  • Juazeiro do Norte: 9
  • Independência: 9
  • Santa Quitéria: 9,2
  • Itaitinga: 9,2
  • Capistrano: 9,2
  • Pereiro : 9,2
  • Solonópole: 9,2
  • Jaguaretama: 9,2
  • Aracoiaba: 9,4
  • Umari: 9,4
  • Moraújo: 9,4
  • Cascavel: 9,4
  • Iguatu: 9,6
  • Banabuiú: 9,6
  • Lavras da Mangabeira: 9,6
  • Irauçuba: 9,6
  • Ubajara: 9,8
  • Jijoca de Jericoacoara: 9,8
  • Missão Velha: 9,8
  • Quixeré: 9,8

Saiba quais municípios não alcançaram as metas de assistência aos pacientes com hipertensão:

  • Baixio: 2
  • Crateús: 4,6
  • Campos Sales: 4,6
  • Abaiara: 5
  • Acarape: 5,4
  • Barreira: 5,6
  • Paracuru: 5,8
  • Barro: 5,8
  • Aquiraz: 6
  • General Sampaio: 6
  • Groaíras: 6
  • Pacajus: 6,2
  • Tianguá: 6,2
  • Baturité: 6,2
  • Tururu: 6,4
  • Canindé: 6,4
  • Icapuí: 6,4
  • Meruoca: 6,6
  • Aracati: 6,8
  • São Benedito: 6,8
  • Redenção: 6,8
  • Mauriti: 6,8
  • Boa Viagem: 6,8
  • Arneiroz: 7
  • Ipaumirim: 7
  • Poranga: 7,2
  • Apuiarés: 7,2
  • Cariré: 7,2
  • Caucaia: 7,4
  • Acopiara: 7,4
  • Monsenhor Tabosa: 7,4
  • Fortaleza: 7,8
  • Caridade: 7,8
  • Saboeiro: 7,8
  • Itapipoca: 7,8
  • Maranguape: 7,8
  • Pacoti: 7,8
  • Guaraciaba do Norte: 8
  • Quixelô: 8
  • Ipu: 8
  • Barbalha: 8,2
  • Trairi: 8,2
  • Potiretama: 8,2
  • Granjeiro: 8,2
  • Ocara: 8,4
  • Caririaçu: 8,4
  • Jardim: 8,4
  • Paraipaba: 8,6
  • Tarrafas: 8,6
  • Chorozinho: 8,6
  • Uruburetama: 8,6
  • Potengi: 8,6
  • Iracema: 8,6
  • Itapiúna: 8,8
  • Itapagé: 8,8
  • Beberibe: 8,8
  • Santa Quitéria: 8,8
  • Tejuçuoca: 8,8
  • São Gonçalo do Amarante: 9
  • Quixadá: 9
  • Massapê: 9
  • Aratuba: 9
  • Ubajara: 9
  • Marco: 9
  • São Luís do Curu: 9,2
  • Forquilha: 9,2
  • Itaitinga: 9,2
  • Umirim: 9,2
  • Tabuleiro do Norte: 9,2
  • Aracoiaba: 9,2
  • Mulungu: 9,4
  • Guaiúba: 9,4
  • Pentecoste: 9,4
  • Mucambo: 9,4
  • Umari: 9,4
  • Juazeiro do Norte: 9,6
  • Iguatu: 9,6
  • Jucás: 9,6
  • Itaiçaba: 9,6
  • Capistrano: 9,6
  • Moraújo: 9,6
  • Jijoca de Jericoacoara: 9,6
  • Pacatuba: 9,8
  • Barroquinha: 9,8
  • Missão Velha: 9,8
  • Quixeramobim: 9,8
  • Aiuaba: 9,8
  • Cariús: 9,8

Embora esse tipo de assistência seja de responsabilidade de cada uma das prefeituras, o Diário do Nordeste entrou em contato com a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), durante a manhã da quinta-feira (28), para entender como a Pasta acompanha os municípios no Estado. A reportagem aguarda resposta.

O Ceará conseguiu bons resultados nos indicadores de desempenho do pré-natal com 6 consultas (97,8%), pré-natal em pacientes com sífilis e HIV (97,8%)e no atendimento bucal em gestantes (95,7%).

Riscos com a falta de assistência

O médico cardiologista Gentil Barreira, presidente da Sociedade Norte-Nordeste de Cardiologia, explica que a hipertensão arterial é uma doença crônica definida por níveis comumente elevados na conhecida “pressão”. A doença acontece tanto por fatores ligados aos hábitos, como má alimentação, e questões genéticas.

“A prevalência de hipertensão arterial é maior entre homens, aumentando com a idade, chegando a mais de 70% nos indivíduos acima de 70 anos. Os pacientes são frequentemente assintomáticos, podendo evoluir com alterações estruturais e funcionais”, detalha.

Com isso, há prejuízos para coração, rins e cérebro, “o que acarreta um impacto significativo nos custos médicos e socioeconômicos relacionados, principalmente, às complicações fatais e não fatais”, acrescenta o especialista.

A falta de assistência para acompanhar a doença pode levar a arritmias cardíacas, infarto agudo do miocárdio, doença arterial coronária, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, insuficiência renal, doença vascular periférica e até morte súbita.

“A dificuldade de acesso aos profissionais da saúde, principalmente ao médico, relacionadas às condições socioeconômicas pode dificultar o diagnóstico e tratamento dos pacientes hipertensos”, conclui.

Por isso, o tratamento e controle adequado da hipertensão deve ser feito com o uso regular de medicação, estilo de vida saudável e práticas de atividade física. “Controle adequado do peso, moderação no consumo do álcool e cessação do tabagismo”, acrescenta Gentil.

Onde buscar ajuda

A rede pública de Fortaleza oferece acompanhamento de quem tem diabetes por meio da Atenção Primária à Saúde. Nos casos de suspeita ou confirmados de diabetes, os pacientes podem buscar os postos de saúde, onde são classificados quanto ao seu risco e terão seu plano de cuidado definido.

Dependendo do risco, os usuários podem ser acompanhados em um dos sete dos Centros Especializados de Atenção ao Diabético e Hipertenso (CEADH). Atualmente, o projeto atende 34 mil pessoas com diabetes. O serviço é realizado por especialistas endocrinologistas, cardiologistas, oftalmologistas, cirurgiões vasculares e enfermeiras capacitadas em pé diabético.

O que é o Previne Brasil

O Previne Brasil é um programa instituído pelo Governo Federal, em 2019, com um modelo de financiamento para aumentar o acesso da população aos serviços da Atenção Primária, como os postos de saúde. Um dos objetivos é fortalecer o vínculo entre a população e as equipes de saúde.

Para isso, são usados mecanismos que induzem à responsabilização dos gestores e dos profissionais pelo público acompanhado.

O repasse de recursos financeiros feito pelo Ministério da Saúde considera três critérios:

  • Captação ponderada;
  • Pagamento por desempenho;
  • Incentivo para ações estratégicas. 

Essa iniciativa busca equilibrar valores financeiros per capita referentes à população efetivamente cadastrada nas equipes de Saúde da Família e de Atenção Primária, com o grau de desempenho assistencial das equipes somado a incentivos específicos.

Nesse sentido, é feita a ampliação do horário de atendimento, como o Programa Saúde na Hora, a informatização dos processos, formação de equipes de saúde bucal, de Consultório na Rua, e de formação de residentes na APS, por exemplo.

Análise dos dados

João Abreu, co-fundador e diretor-executivo da ImpulsoGov, contextualiza que é possível mostrar quem são as pessoas que o Sistema Único de Saúde ainda não consegue atender.

"Os municípios parceiros têm acesso gratuito a ferramentas de gestão de listas nominais relativas a cada um dos 7 indicadores, que indicam, por exemplo, quem são as mulheres que ainda não fizeram o exame preventivo de câncer de colo de útero e quem é a equipe de saúde responsável por identificá-la e oferecer o exame", completa.

Ao analisar os indicadores referentes ao acompanhamento de pessoas com hipertensão e diabetes, João aponta que os indicadores têm os maiores percentuais de municípios brasileiros abaixo da meta. 

"Esse é um problema multifatorial, que pode envolver o crescimento da população com doenças crônicas não transmissíveis, o envelhecimento da população brasileira, fatores relacionados à cobertura dos usuários do SUS por médicos e enfermeiros, e a qualificação dos registros dos atendimentos realizados", conclui.

Os acompanhamentos dos resultados e outros dados referentes a esses indicadores da Atenção Primária à Saúde permitem que os profissionais do SUS identifiquem onde focar seus esforços, facilitando a tomada de decisões para que possam aprimorar os serviços oferecidos à população.
João Abreu
Diretor-executivo da ImpulsoGov

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