Mata Galinha, Pirocaia, Km 8: saiba os nomes antigos de 22 bairros de Fortaleza

Localidades eram nomeadas a partir de características naturais ou fatos marcantes

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
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Legenda: Bairros de Fortaleza tinha nomes originais relacionados às características do lugar
Foto: Arquivo/DN

Como dar nome para um bairro? Em Fortaleza, as características físicas, hábitos da população e marcos históricos batizaram espaços como Mata Galinha, Pirocaia e Quilômetro 8. Num processo de homenagens a personalidades, no entanto, parte dessa originalidade se perdeu.

Foi assim que surgiram as substituições Dias Macedo, Montese e Couto Fernandes. Nesse processo, se perde uma parte do contexto histórico do local. O peculiar nome Mata Galinha, por exemplo, vem de um costume da população.

Naquela região, próxima à Arena Castelão, vivia a família Dantas. Um membro conhecido como Quincas colocou as aves como um prato de destaque nas reuniões comunitárias, como explica o memorialista Miguel Nirez de Azevedo.

Legenda: Fortaleza passou por intensas mudanças nas últimas décadas em relação à ocupação dos bairros
Foto: Thiago Gadelha

“Todo domingo faziam uma festa, chamavam as pessoas para recitar versos, cantar e tocar violão. Ele matava muitas galinhas e povo dizia 'vamos para o Mata Galinha' e assim ficou. O nome se estendeu até para onde hoje é o Castelão, que agora se chama Boa Vista".

Os processos de criação e de mudança dos nomes acontecem na Câmara Municipal de Vereadores e são motivados, muitas vezes, para homenagear políticos e empresários, como acrescenta Nirez.

"Têm um excesso de nome de pessoas nos bairros. Nós tínhamos o bairro Floresta, que de um lado ficou Padre Andrade e do outro ficou Álvaro Weyne. Como reclamaram muito, acharam um trechinho e colocaram o nome de Floresta", contextualiza.

Nomes antigos dos bairros de Fortaleza

  • Dias Macedo: Mata Galinha
  • Montese: Pirocaia
  • Couto Fernandes: Quilômetro 8
  • Rodolfo Teófilo: Porangabussu
  • Edson Queiroz: Água Fria
  • Dionísio Torres: Estância 
  • Luciano Cavalcante: Salina do Cocó
  • Dom Lustosa: Parque Santa Lúcia
  • Padre Andrade: Cachoeirinha
  • Demócrito Rocha: Marupiara
  • Planalto Ayrton Senna: Pantanal
  • Álvaro Weyne: Floresta
  • Amadeu Furtado: Coqueirinho 
  • Antônio Bezerra: Barro Vermelho
  • Henrique Jorge: Casa Popular
  • Parquelândia: Coqueirinho/Campo do Pio
  • Aldeota: Outeiro
  • Carlito Pamplona: Brasil Oiticica
  • Monte Castelo: Açude João Lopes
  • Parangaba: Arronches 
  • Messejana: Paupina
  • São Gerardo: Alagadiço

Já o termo Pirocaia tem origem indígena e significa algo como “Aldeia dos Peles Vermelhas”, em tupi. O nome foi mudado quando o dentista Raimundo Nonato Ximenes, que havia servido ao Exército, chegou no lugar.

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Legenda: Montese já foi chamado de Pirocaia devido à origem indígena
Foto: Arquivo/DN

Ele conseguiu emplacar “Montese”, em 1946, como homenagem aos brasileiros que lutaram na Batalha de Montese, na Itália, na 2ª Guerra Mundial.

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Antes de receber o nome do engenheiro Couto Fernandes, o bairro era conhecido mesmo pela estrutura viária do local, de acordo com o memorialista.

"Tinha as paradas e as estações e, no 8º quilômetro ficava a estação da linha do trem, que era muito movimentada porque naquela época a região tinha uma fábrica", completa Nirez.

Em alguns casos, o que deu nome ao bairro foi uma característica física, como o solo do lugar hoje conhecido como Antônio Bezerra.

Legenda: Hoje Dias Macedo, o "Mata Galinha" tinha esse nome devido às festas populares
Foto: Camila Lima

"Fortaleza foi construída em cima de um tabuleiro, essa areia de praia. Lá era barro vermelho e isso conta das características geográficas. Essa mudança fere um pouco da história", analisa Nirez.

Já imaginou se mudasse o nome do Mucuripe para botar o nome de um pescador? Ou da Praia de Iracema?
Miguel Nirez de Azevedo
Memorialista

Na mesma perspectiva do Bairro Vermelho foi nomeado o Alagadiço, que passou a ser São Gerardo. Isso está registrado no livro “Royal Briar: a Fortaleza dos anos 40”, de Marciano Lopes, consultado pelo Diário do Nordeste.

“Era o mais distante dos bairros, possuindo três seções na linha de bondes. Possuía bonitas e vastas moradias, quase todas com enormes quintas, muitos deles, inclusive, com pequenos riachos, que a região era de muita água e de muito verde”, contextualiza.

A obra faz parte do acervo do Núcleo de Documentação e Laboratório de Pesquisa Histórica (Nudoc) da Universidade Federal do Ceará (UFC), que permitiu a pesquisa. Como não há uma publicação com todas as mudanças de nomes dos bairros, as informações do livro e do memorialista foram usadas para a produção da lista.

“Pequenina e tranquila, com seus 200 mil habitantes, Fortaleza era singela, com seus poucos bairros que dependiam do centro, para praticamente tudo, pois nenhum bairro possuía ainda vida própria”, descreve o livro.

Como era Fortaleza há 80 anos?

Talvez seja difícil imaginar, mas o Mucuripe, uma das regiões mais nobres da capital cearense, era quase isolado da cidade, porque não tinha acesso de veículos devido às dunas e outros entraves, conforme Marciano Lopes.

“Na primeira metade dos anos quarenta, os distritos de Mucuripe, Messejana, Parangaba e Antônio Bezerra eram como pequenas cidades do Interior. De acesso difícil, por causa das péssimas estradas e dos transportes escassos”, detalha o livro.

O Meireles estava surgindo naquele período devido à construção da nova sede do Clube do Náutico. Nos anos de 1940, a Aldeota terminava no final da linha de bondes, entre as ruas Silva Paulet e José Vilar.

Legenda: Clube do Náutico era um dos espaços com maior evidência na Fortaleza da década de 1940
Foto: Arquivo do Nirez

O Joaquim Távora compreendia apenas a Avenida Visconde do Rio Branco e tinha também alguns moradores ilustres. No Bairro Damas, as muitas chácaras serviam para os fins de semana de quem tinha maior poder aquisitivo. 

Na Jacarecanga tinham palacetes, mansões e solares. No Benfica também estavam residências de destaque, algumas assinadas pelo arquiteto Rodolpho Silva, “que dotou Fortaleza dos prédios mais rebuscados e de maior beleza”, detalha Marciano.

Do lado da Jacarecanga, um dos bairros que manteve o mesmo nome desde a fundação, surgiu o Brasil Oiticica.

“Em consequência da implantação da fábrica da Brasil Oiticica, começou a surgir o bairro do mesmo nome, o atual Carlito Pamplona, na Avenida Francisco Sá, a partir da primeira linha de trem”, completa o livro.

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