Marina Alves diz que estava com a fé abalada e descoberta de irmã doadora renovou a esperança
A médula de Lumara Sousa mostrou ser 50% compatível com a da jornalista
Antes de descobrir ter uma irmã, a jornalista Marina Alves revelou, nesta terça-feira (29), que chegou a ter a fé abalada e estava desacreditada de que conseguiria encontrar um doador de medula óssea compatível. Ela foi diagnosticada com linfoma, tipo raro de câncer, em agosto do ano passado e, desde então, vive uma batalha contra a condição, que atualmente está em estado de remissão.
“Me senti surpresa, feliz ao descobrir a existência dela. Eu estava num momento difícil, por conta da evolução da doença, um pouco desacreditada, até com a fé assim, digamos, abalada. E aí, quando a gente recebeu o resultado, ficou sabendo de tudo, isso renovou a minha fé, a minha esperança de que poderia dar certo.”
A medula da técnica de enfermagem Lumara Sousa mostrou ser 50% compatível com a da comunicadora, exatamente o percentual correspondente ao pai das duas. O transplante está previsto para acontecer no próximo dia 5 de abril.
“Apesar de a felicidade de ter encontrado a doadora, de ter muita gente ao meu lado me apoiando, fiquei muito ansiosa nesses últimos dias. Com medinho do novo, do desconhecido. Vou tomar medicações que ainda não tomei, então dá sim, essa angústia. Passei algumas noites sem conseguir dormir direito, só pensando nisso”, detalha.
Marina e a irmã não tinham contato antes, mas descobriram o laço sanguíneo ao longo do processo de busca por um doador compatível para a jornalista. Antes, a repórter da TV Verdes Mares acreditava ser filha única.
“A minha família já é grande, todo mundo é muito próximo, e saber que tem mais uma pessoa fazendo parte dessa sua vida. [Descobrir] que tenho uma irmã, duas sobrinhas e um cunhado, isso foi incrível".
Ao Diário do Nordeste, a comunicadora disse que encontrar Lumara a deixou mais confiante na cura da doença, apesar de ainda temer as próximas etapas do tratamento.
“Quando vem o medo e vem a ansiedade, penso dessa forma: ‘Deus caprichou tanto, fez tudo de forma tão maravilhosa, trazendo a minha irmã nesse momento, então Ele não vai me deixar cair ou desistir’, e isso me traz uma confiança maior.”
Como funciona o transplante de medula óssea
O processo de transplante de medula óssea é realizado como uma transfusão de sangue, esclarece o hematologista Paulo Roberto Souza, responsável pelo tratamento do câncer na jornalista.
“Transplante de medula óssea é muito mais como se o paciente recebesse uma transfusão de sangue, do que como se o paciente a recebesse durante uma cirurgia. Na verdade, o ato do recebimento das células do doador, que é o transplante em si, o paciente recebe pela veia, através de um cateter.”
Nessa segunda-feira (28), Marina se internou no hospital onde deve realizar o procedimento. Até a data marcada para o ato ela será submetida a novas sessões de quimioterapia.
“A finalidade é de como se a gente fosse resetar, zerar a medula da Marina, tentando também pegar, através dessa quimioterapia forte, alguma célula do tumor sobrando, que esteja indetectável nos exames”, explica o médico.
A doadora também será internada na unidade, momento em que terá que tomar medicações que aumentem a produção de células-tronco, que serão coletadas e inseridas na paciente.
“Apesar do medo e da ansiedade, estou muito confiante. Já passei por momentos bem difíceis de quimioterapia, tive algumas reações que não esperava, cheguei a ir para a UTI, então acho que isso vai deixando a gente mais forte, mais corajosa, e confiante de que se acontecer alguma coisa, a gente está amparada e que tudo vai ser contornado, se Deus quiser”, revela Marina sobre as expectativas para os próximos dias.
Atualmente, o linfoma da jornalista está em estado de remissão — não é detectada em exames —, no entanto, como esclarece o especialista, as estatísticas demonstram, que devido à gravidade do tipo da doença, os pacientes que receberam uma nova medula tiveram mais chances de cura a longo prazo.
“É necessário, no caso da Marina, haver um transplante porque o tipo de linfoma que ela tem é considerado bastante agressivo. Se a gente não fizesse o transplante, haveria um risco maior da doença voltar, do que ela não voltar.”
Após o transplante ser realizado, a repórter continuará no hospital por alguns dias, período em que os profissionais de saúde devem analisar se a nova medula foi integrada ao corpo da paciente. Com a evolução positiva do caso, ela poderá retornar para casa, mas, por pelo menos um ano após o procedimento, terá que ser acompanhada de perto pelos médicos e usar medicação específica.
“Como ela está recebendo material genético de outra pessoa, apesar da compatibilidade que foi detectada e que permitiu o transplante, Marina precisará usar medicações imunossupressoras, por cerca de 12 meses. Essas substâncias visam que o corpo dela e as células novas entrem em equilíbrio, para que nenhum rejeite o outro”, explica o médico.
‘Renascimento’ da jornalista
Devido ao quadro de imunossupressão, Marina terá que redobrar os cuidados para evitar contrair doenças infecciosas, como gripes e a própria Covid-19, já que o sistema imunológico estará fragilizado. Na verdade, como esclarece Paulo Roberto Souza, todos os anticorpos acumulados ao longo da vida serão perdidos, logo Marina terá que receber todas as vacinas anteriormente tomadas por ela, desde quando era bebê.
“O transplante de medula zera, 'reseta', é como se [o paciente] voltasse a ser um recém-nascido, como se fosse um computador que você formatou e o HD está vazio. Então, se a Marina já teve catapora, teve caxumba, isso foi com a outra medula. Agora, nessa fase nova, [com a medula doada] ela precisa ser revacinada e isso acontece de maneira gradativa".
O hematologista ainda explica que, após o transplante, a repórter ainda não poderá ser considerada curada da doença, algo que só deve acontecer com a evolução do quadro clínico após a infusão das novas células. “É com o tempo, com o andamento do transplante e também a resposta sustentada ao procedimento, que definirá se ela estará curada”, detalha.