Hospital César Cals tem quase 100 anos e fazia mais de 300 partos por mês
A unidade, que sofreu incêndio e desocupou todos os leitos, tem média de 1.420 atendimentos de emergência mensais.
Com 97 anos de funcionamento, o Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), no Centro de Fortaleza, atravessa um momento incerto na história. A unidade referência em obstetrícia e neonatologia sofreu os efeitos de um incêndio nas instalações na manhã desta quinta-feira (13) e precisou transferir todos os pacientes para outros hospitais - em meio a um processo de possível transferência para um novo local.
Atualmente, o Hospital possui mais de 290 leitos. Até ontem, era destaque em partos na Capital cearense, com mais de 3 mil nascimentos de janeiro a setembro deste ano - uma média de 338 por mês. Além disso, possui diversos serviços especializados, como o Banco de Leite Humano e a assistência a gestantes de alto risco.
Por meio do Método Canguru, o HGCC ainda fornece suporte integral a bebês prematuros (nascidos antes das 37 semanas de gestação), que enfrentam desafios como dificuldades respiratórias e vulnerabilidade a infecções. Dos 3.043 partos realizados neste ano, 1.119 foram de prematuros (36% do total).
De acordo com a plataforma IntegraSUS, a unidade tem média de 1.420 atendimentos de emergência mensais, somando todos os serviços ofertados.
Incêndio há 66 anos
A origem do César Cals remonta à antiga Maternidade Dr. João Moreira, criada por iniciativa de médicos e filantropos locais, sob liderança do obstetra Manuelito Moreira. Em 31 de outubro de 1928, a unidade foi inaugurada na Praça da Lagoinha, com uma maternidade no térreo e casa de saúde no andar superior. O objetivo era atender gestantes e recém-nascidos num período em que o parto hospitalar ainda era incomum.
Nas décadas seguintes, o hospital se consolidou como referência em atendimento materno-infantil, formando profissionais e abrindo espaço para a pesquisa e a residência médica.
Há 66 anos, em agosto de 1959, um incêndio de grandes proporções atingiu a então Casa de Saúde Dr. César Cals, provocada pela explosão de um tanque de éter. Em meio ao caos, um estudante se tornou herói: João Nogueira Jucá teve 80% queimado durante o resgate de vítimas e faleceu devido aos ferimentos. Ao todo, mais de 25 pessoas faleceram no sinistro.
Já em 1973, durante o governo de César Cals de Oliveira Filho, o Estado assumiu a administração da unidade, que passou a integrar a rede pública de saúde. Desde então, o HGCC mantém as portas abertas em uma das áreas mais movimentadas da Capital.
Proposta de mudança reacende temores
Porém, às vésperas do centenário, o futuro do Hospital é incerto. O Governo do Ceará começou a transferir parte dos serviços para o novo Hospital Universitário do Ceará (HUC), que está em fase de estruturação no bairro Itaperi.
A justificativa da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) é modernizar a rede hospitalar e oferecer uma estrutura mais ampla e tecnológica. Por enquanto, as atividades do César Cals seguem com foco em maternidade e neonatologia.
Contudo, servidores ainda relatam falta de clareza se permanecerão mesmo no prédio histórico ou se ele será desativado.
Em março deste ano, funcionários, pacientes e parlamentares realizaram um ato público em frente à unidade para protestar contra o que chamam de “desmonte silencioso” do HGCC.
Veja também
Patrimônio e acesso
Segundo os profissionais que defendem a permanência, por estar no Centro, a unidade permite acesso facilitado a pessoas de baixa renda, que chegam por meio do transporte público.
A mudança para o Itaperi, afirmam eles, pode representar uma barreira de deslocamento para pacientes que dependem do atendimento gratuito.
Em março deste ano, em entrevista ao Diário do Nordeste, a médica e secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, reconheceu que a unidade “já está com a estrutura bastante comprometida” e, por conta disso, havia previsão de obras no local.
Já em maio, o secretário-chefe da Casa Civil, Chagas Vieira, negou que o Governo planeje fechar o HGCC. Ele reforçou que a unidade passará a atender exclusivamente o serviço de obstetrícia e que deve receber, em breve, uma reforma.
Todas as demais especialidades devem ser transferidas gradualmente para o HUC.