Excelsior, Savanah e Palacetes: conheça a história dos prédios históricos na Praça do Ferreira
Hotéis, farmácias e cinemas fazem parte da memória da Capital cearense desde o início do século XX
A Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, existe há mais de 150 anos e é considerada popularmente o coração da Capital cearense. Além de sua importância histórica, seu entorno também possui importantes edifícios que, mais ou menos preservados, também ajudam a construir a memória da cidade.
Originalmente um campo de areia, a praça foi batizada em 1871 numa homenagem ao Boticário Ferreira, prefeito responsável pela primeira reforma que deu o formato retangular ao local. Desde o fim do século XIX, ela foi ponto de encontro para políticos, boêmios e intelectuais cearenses.
A última reforma na praça, responsável por sua configuração atual, ocorreu em 1991. Ao longo das décadas, não foi apenas ela que mudou, mas também prédios que funcionaram como hotéis, comércios e centros de entretenimento.
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O turismólogo Gerson Linhares, idealizador do programa Fortaleza a Pé, destaca a importância dos imóveis que remontam ao início do século XX, mas lamenta que parte deles esteja desativada ou tenha sido desfigurada para receber negócios modernos.
Ele também considera que a Praça nunca deixou de ser movimentada, mas vem sofrendo com o abandono nas últimas décadas e sediando o “problema social gritante” do aumento da população em situação de rua.
Falta vontade do poder público e do empresariado local. Se a praça for limpa e organizada, com certeza vai atrair mais gente. Acredito muito em ocupar a praça porque ela poderia ter mais atividades culturais, sobretudo no período noturno. Infelizmente, o turista que chega hoje não sai com esse referencial.
Entre as sugestões de requalificação para os antigos prédios, ele sugere espaços culturais, museus temáticos, restaurantes panorâmicos e unidades habitacionais.
Confira, abaixo, uma lista de antigos edifícios que circundam a Praça do Ferreira:
Farmácia Oswaldo Cruz
Fundada em 1934, é a primeira farmácia de manipulação do Ceará e foi tombada como Patrimônio Histórico de Fortaleza.
Construída no estilo eclético, pertencia à firma Hortêncio Mota & Cia. Mesmo passando por outros donos nas décadas seguintes, mantém até hoje sua caracterização original.
Cineteatro São Luiz
O Cineteatro São Luiz foi inaugurado em 26 de março de 1958 - 20 anos após o início da construção -, exibindo o filme “Anastácia, uma princesa esquecida”, do ucraniano Anatole Litvak. Por décadas, foi um dos principais espaços de entretenimento da cidade.
Em 1991, também foi tombado pelo Governo do Ceará. Após ser adquirido pelo Estado, foi reinaugurado em 2014. Conta atualmente com 1.050 lugares. Para o turismólogo Gerson Linhares, deve ser a edificação “mais preservada” da área.
Hotel Excelsior
Hospedagem para figuras famosas como a aviadora Amélia Earhart, o cineasta Orson Welles e os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas, o Hotel Excelsior foi o edifício mais alto de Fortaleza à época de sua construção, entre 1928 e 1931, quando foi inaugurado.
No local do prédio, ficava o casarão do comendador português José Antônio Machado, erguido em 1825 com mão de obra de presos da cadeia pública. Era o único da cidade a ter três pavimentos naquele período e abrigou tanto o Hotel Central como o Café Riché, até ser vendido.
O Excelsior é considerado o primeiro “arranha-céu” de Fortaleza, embora tenha sete andares e um terraço - onde a vista privilegiada atraía gente ao American Bar, cenário de recepções de festas da alta sociedade.
De estilo eclético, foi erigido e decorado com materiais importados da Europa. No térreo, funcionava a entrada com elevadores, lojas e comércios. No primeiro andar, restaurante, barbearia, cozinha, adega e depósito de utensílios. Do segundo ao sexto, os apartamentos.
Pertenceu ao comerciante Plácido de Carvalho e à sua esposa, a italiana Pierina Rossi. Eles moravam no Castelo do Outeiro (onde hoje fica a Praça Luíza Távora), mas decidiram se mudar para o Excelsior quando Plácido ficou doente, em 1933. Dois anos depois, ele faleceu.
O hotel funcionou durante 33 anos, até encerrar suas atividades em 1964. Hoje, é ponto conhecido pelo Natal de Luz do Ceará, espetáculo em que um coral de crianças canta hinos de Natal a partir das janelas, além de abrigar o consulado da Hungria.
Hotel Savanah
Inaugurado em abril de 1964, ano em que o Excelsior fechou, o Hotel Savanah foi instalado com dez suítes e 128 apartamentos, distribuídos em 13 andares. Era considerado um dos melhores de Fortaleza.
Apesar do sucesso, o negócio sofreu com a alteração das atividades de lazer e turismo para a orla, sobretudo a Avenida Beira-Mar, na década de 1980. Encerrou as atividades em 1992, quando a gerência informou ao Diário do Nordeste que operava com 28% de ocupação - o ideal para a manutenção seria de 40%.
Em 2016, o prédio do hotel foi adaptado como sede de uma faculdade. No térreo, também funciona uma loja de eletrodomésticos. Hoje, os andares altos estão para aluguel.
Antigamente, no lugar do hotel, funcionava a Casa Albano, aberta em 1952 por José Francisco e Manuel da Silva Albano. Vendia produtos como miudezas, tecidos, vinhos e uísques, além de sediar o consulado da Alemanha.
Como ocupava todo o quarteirão, foi demolida em duas etapas. Uma deu origem ao Edifício Sul América (veja mais abaixo) e, a outra, ao Edifício Jereissati, que abrigou o Savanah.
Palacete Ceará
O Palacete Ceará, arquitetado por João Sabóia Barbosa, data da década de 1920. A edificação pertencia a José Gentil Alves de Carvalho, tendo sido construída por Rodolpho F. da Silva e Filho.
Nos tempos áureos, seus salões abrigaram um restaurante, conhecido como Rôtisserie Sportman, e o Clube Iracema, ponto de encontro da elite fortalezense da época.
Após a Segunda Guerra, na década de 1940. Foi adquirido pela Caixa Econômica Federal em 1945. Em 1982, um incêndio destruiu totalmente seu interior, mas a fachada foi preservada.
Protegido pelo Tombo Estadual desde 1983, hoje funciona como agência bancária.
Sobrado/Palacete do Pastor
Construído para atividades comerciais e aberto em 1914, o Sobrado do Pastor - homenagem ao seu construtor, Eduardo Pastor -, ainda conserva parte da estrutura original em estilo art-nouveau, mas o térreo sofreu mudanças para abrigar negócios mais modernos.
Ao longo das décadas, recebeu o Café Avenida, o Café Globo, o telégrafo e a loja Rosa dos Alpes, que vendia vitrolas, bandeiras e artigos religiosos. Mais recentemente, seu ocupante mais famoso foi o restaurante L’Escale, que anunciou o fechamento em 2021 após 25 anos de operações.
Farmácia Pasteur
O prédio data de 1894, gerido primeiramente pelo Dr. Leopoldo Domingues. À época, era a maior e mais famosa drogaria de Fortaleza. Antigamente, no alto da fachada, havia uma estátua de duas serpentes disputando uma taça (uma releitura do símbolo da farmácia).
Nos anúncios de jornais, afirmava que o estoque vinha da França, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. O prédio permanece de pé, com algumas modificações em relação ao projeto original, e abriga uma loja de variedades.
Cine Majestic
Primeiro cineteatro da cidade, também propriedade do comerciante Plácido de carvalho, o Cine Majestic Palace foi inaugurado em 14 de julho de 1917 e era herança da Fortaleza inspirada em costumes europeus. Sua estreia teve show da transformista italiana Fatima Miris, com orquestra do maestro Arturo Frassinesi.
Apesar do sucesso, foi vítima de dois incêndios. O primeiro foi em 1955. O segundo, em 1968, destruiu a sala de projeção e levou à sua desativação. O espaço deu lugar ao Edifício Lobrás na década de 1970 e hoje é ocupado por lojas, escritórios e consultórios médicos.
Edifício Sul América
Hoje condomínio, o Edifício Sul América foi inaugurado em janeiro de 1953 e pertencia à empresa Sul América Capitalização. Em 1968, foi revendido, mas manteve o uso comercial. Tem dez pavimentos e traços de art déco.