Praça do Ferreira completa 30 anos com atual estrutura arquitetônica; relembre mudanças na história

Em 2001, o espaço no Centro foi declarado Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Coluna da Hora, um dos símbolos da praça, foi reconstruída após ser extinta por mais de duas décadas.
Foto: Kid Júnior

Em 2021, completam-se 150 anos do “batismo” da Praça do Ferreira, apontada como o símbolo mais importante do Centro de Fortaleza. Após sucessivas reformas ao longo do tempo, o local mantém seu desenho arquitetônico atual há 30 anos, quando passou por sua última grande intervenção.

A mudança ocorreu entre agosto e dezembro de 1991, com projeto foi assinado pelos arquitetos Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo, durante a gestão do prefeito Juraci Magalhães. Nela, foi instalada uma nova Coluna da Hora, derrubada duas décadas antes, e recriados jardins do início do século XX.

"Queríamos atingir o público, trabalhar uma comunicação com o fortalezense, criando uma estrutura que trouxesse elementos do passado e inovasse com uma proposta moderna", destacou Fausto Nilo ao Diário do Nordeste, quando da reinauguração do espaço.

Legenda: Reinauguração da praça atraiu milhares de fortalezenses, em 1991.
Foto: Antônio Carlos/Diário do Nordeste

Gerson Linhares, turismólogo e idealizador do projeto Fortaleza a Pé, elogia os principais resgates, sobretudo os quiosques que lembram os antigos cafés, mas lamenta o esquecimento do Abrigo Central da década de 1950, que funcionava como parada de ônibus, centro comercial e espaço de reuniões sociais.

Porém, o guia percebe que “a Praça vem perdendo seu brilho” pela retirada da função original de alguns equipamentos.

“Precisamos de inovação no viés cultural, de um resgate, senão a tendência é a descaracterização total”, alerta.

Para ele, como a praça mais movimentada de Fortaleza, deveria receber núcleos culturais voltados para o artesanato, literatura, cordel e história, e monumentos que relembrem personagens marcantes para o próprio local.

O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-CE), geógrafo Cândido Henrique, também atribui à praça um papel importante como palco de festejos, movimentações políticas e manifestações populares, culturais e religiosas, mas que carece de mais atenção. 

“Hoje, há um acúmulo de pessoas que vem aumentando pelos efeitos da economia e em função da pandemia. A praça é um ícone a ser preservado, conhecido e valorizado”, ressalta.

Segundo o geógrafo, a praça está inserida num estudo do Iphan para o tombamento do conjunto urbano histórico do Centro de Fortaleza. 

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A Praça ao longo do tempo

Segundo o acervo da Prefeitura de Fortaleza, a Praça surgiu como um largo de areia, com alguns cajueiros e rodeada de casebres, no início do Século 19.  

Em 1871, foi batizada em homenagem ao fluminense Antônio Rodrigues Ferreira, o boticário Ferreira, que em 1842 foi eleito presidente da Câmara Municipal da cidade. Ele foi um dos mais destacados políticos da época até falecer, em 1859.

Legenda: Em 1908, movimentação de bondinhos e em cafés do local.
Foto: Arquivo Nirez/Acervo Prefeitura

Durante sua gestão, nos anos 1850, o farmacêutico autorizou a derrubada do “Beco do Cotovelo”, uma estrutura de casebres em formato diagonal, o que permitiu à praça ter um desenho retangular.

No dia 7 de setembro de 1902, ela recebeu sua primeira urbanização, por decisão do intendente Guilherme Rocha. Até a década de 1920, ela abrigava quiosques, cafés, jardim, uma caixa d’água e um catavento.

O turismólogo Gerson Linhares destaca que os cafés instalados na Praça funcionaram como locais de efervescência intelectual, especialmente para os escritores do movimento Padaria Espiritual, em 1892.

Além disso, a Praça também é aliada de fatos do “Ceará Moleque”, ideia de que o humor se integra ao cotidiano social e cultural do cearense, como:

  • a eleição do vereador Bode Ioiô, como forma de protesto à política local;
  • Cajueiro Botador, onde dezenas de pessoas se reuniam para contar causos e mentiras, foi cortado em 1920;
  • Vaia ao Sol: em 30 de janeiro de 1942, um grupo esperava o início de uma chuva enquanto observavam nuvens carregadas de água e, de repente, o sol apareceu.

Legenda: Os jardins da praça foram instalados após reforma na década de 1920.
Foto: Arquivo Nirez/Acervo Prefeitura

Em 1920, a praça passou por nova reforma, na administração Godofredo Maciel, que retirou os quiosques e “mosaicou” toda a praça, fazendo vários jardins e colocando um coreto sem coberta, onde a banda da Polícia realizava apresentações às quintas-feiras.

Decisões polêmicas

Em 1933, Raimundo Girão derrubou o coreto e ergueu a famosa Coluna da Hora. Aquele ano também marcou a inauguração oficial do espaço.

Legenda: Coluna da Hora original, montada em 1933, em registro do início da década de 1960.
Foto: Arquivo Nirez/Acervo Prefeitura

Décadas depois, em 1967, numa decisão impopular, o prefeito José Walter mandou derrubar a Coluna da Hora e o Abrigo Central e instalar várias estruturas de concreto e jardins suspensos, impedindo a visão do lado oposto da praça.

Ele alegou que, como a Coluna foi erguida sobre uma cacimba, estava cedendo e ameaçava transeuntes.

Legenda: Estruturas de concreto colocadas no fim da década de 1960 desagradaram a população.
Foto: Arquivo Nirez/Acervo Prefeitura

Por isso, o projeto de Leon e Nilo foi elogiado por reaver parte dos elementos históricos da Praça sem retirar seu uso social como espaço de encontros e confraternização.

Prova disso é que, em dezembro de 2001, o local também foi oficialmente declarado Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza, “por decisão popular”, através da lei municipal 8.605.

Modernidade

Hoje, a Praça é também mais uma das Praças Conectadas de Fortaleza, onde é possível ter acesso gratuito à internet por meio de sinal Wi-Fi, conforme a Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova).

Também abriga o Cineteatro São Luiz, inaugurado em 1958 e reinaugurado em dezembro de 2014, após obra do Governo do Estado que recuperou seu projeto original como casa de cinema e de espetáculos.

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