Estudantes do CE criam robôs autônomos e vencem competição nacional
Evento, considerado o maior encontro de robótica e inteligência artificial da América Latina, contou com alunos de vário lugares do Brasil.
“Só a nossa equipe sabe o quanto a gente batalhou pra poder trazer resultado. Era um sonho de criança”. É assim que o estudante do ensino médio, Miguel Araruna, resume os sentimentos da conquista do prêmio de 1º lugar na Competição Brasileira de Robótica, que aconteceu na Cidade da Inovação em Vitória (ES) entre 13 e 18 de outubro. A competição compreende as categorias da RoboCup Federation, uma iniciativa científica internacional com o objetivo de promover o desenvolvimento de robôs inteligentes, IA e automação.
Miguel competiu na categoria Rescue Maze, em que os alunos devem desenvolver um robô capaz de identificar vítimas em um labirinto e liberar kits de resgate em suas proximidades. O ambiente simula um cenário contendo obstáculos como detritos, rampas e buracos, que devem ser superados pelo robô. O trabalho foi realizado em equipe, e Miguel conquistou o primeiro lugar da categoria com seus colegas Kaleo Soares, João Vitor Garcia e João Pedro Vieira, todos alunos da Organização Educacional Farias Brito, em Fortaleza.
Ainda que fortalezense de nascença, o adolescente morava em São Luis e retornou este ano ao Ceará pensando na preparação para o vestibular. “Desde o começo do ano, quando eu entrei e descobri a robótica daqui, o pessoal já ‘Ó, esse moleque tem futuro, então vou colocar ele na nossa equipe pra nos ajudar de alguma forma’. Então, foram muitos dias de trabalho, desde a parte elétrica, programação, modelagem… A gente quebrando cabeça pra descobrir as melhores peças pra se colocar no robô”, comenta o jovem que, desde os sete anos, se dedica aos estudos e descobertas na eletrônica.
Eu descobri no guarda-roupa do meu pai um ferro de solda. ‘Pai, o que é isso aí? Para que que serve?’ Então ele me mostrou o que era e, pô, eu sempre fui, eu sempre gostei de tecnologia, então eu fui procurar saber pra que servia e aplicar o uso dele nos eletrônicos em si. Então fiz diversos projetos, já fiz avião já fiz carrinhos, mexi em arduino. Também quebrei muitas coisas, computadores,monitores. Muitas invenções
Miguel, agora com 16 anos, cursa o 1ª ano do ensino médio e sonha em aplicar Ciências da Computação para os centros universitários de maior prestígio internacional, como a Universidade Harvard, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês) ou a Universidade Stanford.
Computação abstrata
Em contrapartida, o jovem cearense Vinícius Ferreira, vencedor da categoria Rescue Simulation, emula o propósito de ver o Brasil como uma referência de tecnologia. Fã de computação abstrata e dos fundamentos teóricos da computação, Vinicius optou este ano por competir na modalidade simulada, transcendendo as limitações físicas para construção do seu robô, criado em ambiente virtual, e explorando o suporte conceitual.
Ao lado de Manuella Autran, Isaac Newton Araújo e Isabella Fernanda Gomes — alunos da Organização Educacional Farias Brito, em Fortaleza —, o estudante de 17 anos elenca a importância do trabalho em equipe. Com atribuições divididas em hardware, software e design, Vinícius fala que “a gente se organizou bem e o entrosamento da equipe foi, realmente, uma experiência muito gostosa de se viver. Foi crucial para a gente desenvolver até coisas mais complexas, como desenvolver inteligência artificial do zero e algoritmos de navegação e mapeamento”.
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O jovem lembra que, apesar da preparação intensa, a tensão tomou conta nos dias da competição. “Eu não vou mentir não, a gente já chegou nervoso, pensando ‘o que vai ser, o que vai ser?’”, conta. Segundo ele, as disputas foram acirradas do começo ao fim. “Em quase todas as rodadas, as pontuações estavam extremamente próximas. Foi uma competição muito difícil, todas as equipes estavam lá pra ganhar mesmo. A gente só comemorou no último segundo, quando saiu o resultado definitivo, porque a menor variação possível poderia dar o título pra outra equipe.”
Vinícius descreve o momento da vitória como uma catarse após dias de dedicação intensa. “A gente teve que ralar todos os dias, todas as madrugadas. No último dia, eu lembro que o professor estava super feliz com o nosso desempenho, mas eu estava tenso. Eu dizia: ‘só vou comemorar quando eu vir o ranking, quando tiver certeza que a gente está em primeiro lugar’. E quando saiu o resultado final... aí sim, foi festa, foi pula-pula, foi gritaria… Até os meninos das outras equipes vieram comemorar com a gente!”
Rodeados de outros estudantes concorrentes, os competidores cearenses perceberam um clima positivo de colaboração, em que eles puderam intercambiar ideias, experiências e conhecimentos. “Eu acho que todas as equipes estavam ali nas melhores intenções, mesmo que no espírito da competição, ajudando e ensinando os iniciantes”, traz Vinícius.
Em relação à preparação para a competição, a equipe de Vinícius tem um viés “antropofágico”. Traçando um paralelo com Oswald de Andrade, um dos primeiros expoentes da Semana de Arte Moderna e autor do Manifesto Antropófago, movimento artístico-cultural que propunha a "deglutição" de influências culturais estrangeiras para criar uma identidade nacional brasileira única e autêntica, Vinícius menciona a prática da comunidade de programação de disponibilizar projetos e experiências passadas, e como eles usaram isso a favor.
“Acho que poder consumir todo esse conhecimento foi um diferencial muito forte. Tanto a nossa capacidade de absorver diferentes ideias e estar sempre aberto para novas ideias; como também de pensar independentemente e tirar o melhor de tudo que já estavam aí nesse mundo”, pontua.
O que é a Competição Brasileira de Robótica
A Competição Brasileira de Robótica Petrobras (CBR Petrobras), maior evento de robótica e inteligência artificial do país, reúne as categorias da RoboCup Federation , uma iniciativa científica internacional dedicada ao avanço de robôs inteligentes, IA e automação. Composta por 16 modalidades que simulam desafios do cotidiano, a competição propõe que robôs autônomos, sem qualquer intervenção humana, executem tarefas de forma precisa. Desde 2024, a CBR conta com o apoio e patrocínio da Petrobras e acontece em paralelo às finais da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), à Mostra Nacional de Robótica (MNR) e aos simpósios científicos SBR, CTDR e WRE, formando em conjunto o maior evento de robótica da América Latina: o Robótica.
O público-alvo são os pesquisadores e estudantes universitários da área de Robótica e Inteligência Artificial; estudantes do ensino técnico, médio e fundamental de todo o país. Para os alunos secundaristas, as provas reproduzem problemas do cotidiano e os robôs autônomos (sem qualquer intervenção humana) devem realizar tarefas corretamente.
As categorias são:
- Soccer
- Rescue Maze
- Rescue Simulation
- Rescue Line (OBR)
- OnStage (Robótica Artística)
*Estagiária supervisionada pela jornalista Dahiana Araújo.