Uece nega inscrição de 7 mil alunos como cotistas no vestibular e gera embate com escolas públicas

Nesta sexta-feira (24), estudantes e professores farão manifestações para tentar reverter decisão.

Escrito por
Theyse Viana theyse.viana@svm.com.br
Imagem mostra fachada do campus da Uece no bairro Itaperi, em Fortaleza. Na frente, estudantes aguardam para realizar vestibular.
Legenda: Mais de 7,4 mil alunos tiveram a inscrição como cotistas indeferida pela Uece para o vestibular de 2026.
Foto: Kid Júnior.

Uma possível falha de comunicação durante o envio de documentos para inscrição no vestibular de 2026 da Universidade Estadual do Ceará (Uece) tem gerado um imbróglio entre a instituição e mais de 7 mil alunos de escolas públicas estaduais. Eles tiveram a condição de cotistas negada pela universidade.

Com o indeferimento, estudantes devem disputar vagas com os de escolas privadas. Em contato com o Diário do Nordeste, um professor e uma aluna explicaram que um dos campos da plataforma de inscrição do certame solicitava o envio da identidade do aluno “ou” de responsável legal.

“Quando coloca ‘ou’, posso escolher, né? Os alunos do Ceará inteiro colocaram só o próprio RG, e deu esse indeferimento. Estamos todos unidos e tristes”, relata Gerlylson Rubens, coordenador da Escola Estadual de Ensino Médio Dr. César Cals, no bairro Farias Brito.

O edital, publicado em agosto, exigia dos alunos cotistas, entre outros registros, o “documento de identidade, em frente e verso, do candidato” e “dos pais ou responsáveis legais, se for o caso”. Em geral, essa exigência se aplica a menores de idade.

Imagem mostra captura de tela da plataforma de inscrição no vestibular da Uece, com pedido de envio de documento por estudantes.
Legenda: Plataforma de inscrição solicitava documento de identidade do candidato ou de membro da família.
Foto: Arquivo pessoal.

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Uma das estudantes afetadas, porém, foi Beatriz Cesário, de 18 anos, que cursa o 3º ano do ensino médio na EEM Dr. César Cals e sonha em ingressar no curso de Psicologia da Uece. Das 50 vagas para a graduação, 26 são reservadas às cotas.

“Todo mundo tava tranquilo, porque a cota é um direito nosso. Ontem saiu o resultado e nos assustamos. Não foi um erro nosso. Se fosse uma, duas pessoas… Mas são 7 mil prejudicados no sonho de entrar na universidade”, desabafa.

Para Beatriz, caso o problema não seja solucionado pela instituição, será uma disputa “desigual”. “A pressão aumenta muito, porque vamos concorrer com pessoas que têm nível muito mais alto do que o nosso. É muita gente pra pouca quantidade de vagas”, observa.

Uma coordenadora escolar relatou que teve todos os alunos indeferidos. Temos alunos de periferias que não sabem escrever texto de recurso e terão que fazer. É perpetuar a injustiça social e a desigualdade.
Gerlylson Rubens
Coord. da EEM Dr. César Cals

Gerlylson afirma que um grupo de coordenadores tentou contato presencial com a Comissão Executiva do Vestibular (CEV) e com a ouvidoria da Uece, nesta quinta-feira (23), mas não obteve sucesso. 

Duas das maiores escolas estaduais cearenses, a EEM Dr. César Cals e a Adauto Bezerra, têm manifestações marcadas para esta sexta-feira (24), para reivindicar atenção da Uece em relação ao problema.

O que diz a Universidade

Em nota, a Uece, por meio da CEV, informa que “muitos indeferimentos relacionados às inscrições de candidatos cotistas no Vestibular 2026.1 ocorreram em razão do envio de documentações incompletas e/ou desatualizadas”.

A CEV esclarece ainda que “não houve qualquer alteração, em relação a vestibulares anteriores, quanto à documentação exigida em edital, ao sistema de envio dos arquivos e à metodologia de análise das cotas”.

Por fim, a instituição reforça que “os candidatos podem solicitar reanálise da documentação encaminhada, por meio de recurso, no período das 8h do dia 23 de outubro às 17h do dia 24 de outubro, no site www.cev.uece.br/vestibular20261”.

Já a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) informou, após questionada elo Diário do Nordeste, que acompanha a apuração conduzida pela Comissão Executiva do Vestibular (CEV) da Uece. "A Seduc mantém diálogo com a universidade e reforça a importância das políticas de cotas como instrumento essencial para a democratização do acesso ao ensino superior", pontuou.

Cotas para escolas públicas

A política de cotas para universidades estaduais cearenses é instituída pela Lei Estadual nº 16.197, de janeiro de 2017, que foi alterada pela Lei nº 18.825, de junho de 2024. 

Alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas situadas no Estado do Ceará têm direito à reserva de parte das vagas para a graduação, pela chamada “cota social”. 

Estudantes autodeclarados pretos, pardos, indígenas e quilombolas e pessoas com deficiência também têm direito à parcela de 50% das vagas.

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