De quadrilhódromo a museu: o que a Prefeitura cogita fazer na antiga Escola Jesus Maria e José

A Secretaria da Cultura de Fortaleza tem apresentando, em reuniões internas, as ideias de uso do bem que é centenário e tombado.

Escrito por
Thatiany Nascimento thatiany.nascimento@svm.com.br
Legenda: O prédio da Escola Jesus Maria e José foi inaugurado em 1905 e integra o primeiro tombamento em conjunto da cidade de Fortaleza.
Foto: Kid Jr

O prédio centenário da antiga Escola Jesus Maria e José, no Centro de Fortaleza, pertencente à Arquidiocese e cedido à Prefeitura em 2009 para ganhar uso público, segue em estado avançado de deterioração. Localizado no encontro das ruas Coronel Ferraz e do Pocinho, o imóvel, que é tombado, teve os acessos vedados por tijolos há alguns anos, e espera por uma nova destinação.

Agora, com o prazo de cessão mais próximo do fim, em 2029, a gestão municipal tem reunido propostas de uso e as apresentado em reuniões ligadas à área cultural. A ideia é, enfim,  recuperar o espaço e definir formas de utilização. 

Em abril deste ano, o Diário do Nordeste publicou que o Governo do Estado desistiu de desapropriar o imóvel que segue em condições de abandono. Um decreto assinado pelo governador Elmano de Freitas (PT) em abril formalizou o recuo da decisão que havia sido tomada em março de 2022, à época, pelo governador Camilo Santana (PT), que era de desapropriação do prédio.

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Agora, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor), apresentou em ao menos duas reuniões uma do Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza (CMPC) e outra do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio histórico-Cultural de Fortaleza (COMPHIC), nos meses de setembro e outubro, respectivamente, possibilidades de readequação do imóvel para um novo uso

Indagada, na semana passada, sobre os encaminhamentos dessas propostas, a Secultfor informou ao Diário do Nordeste que elas “seguem em discussões internas”. Nesses encontros, as ideias foram apresentadas pela pasta a diversos conselheiros e os registros dessas apresentações constam em atas das reuniões dos dois conselhos publicadas no Diário Oficial do Município nos dias 19 e 26 de novembro. 

A ideia principal defendida nos encontros é reformar, restaurar e readequar o imóvel ainda que a nova finalidade ainda não esteja absolutamente definida. 

Propostas de ocupação para a antiga Escola Jesus Maria e José:

  • Museu das Culturas Populares e Museu do Maracatu: criação do Museu das Culturas Populares e destinação de área para abrigar o acervo do Museu do Maracatu, atualmente instalado provisoriamente no Teatro Municipal São José.
  • Quadrilhódromo: implantação de um espaço permanente para ensaios e apresentações de quadrilhas juninas, com a construção do primeiro quadrilhódromo de Fortaleza
  • Acervo de artes visuais: criação de um ambiente dedicado ao acervo de Artes Visuais do município, com espaços para acomodação, preservação e recuperação das obras.
  • Reserva técnica e laboratório de restauro: instituição de uma reserva técnica e de um laboratório voltado ao restauro de obras, atendendo a uma demanda já identificada pela Prefeitura.
  • Apoio à cultura tradicional e fomento à memória: criação de um espaço de valorização e apoio aos diversos grupos e agentes da cultura popular, associado a um novo equipamento voltado à produção, promoção e fruição da cultura e da memória de Fortaleza.

Prós e contra das propostas

Na reunião do CMPC em setembro, a secretária da Cultura, Helena Barbosa, apresentou esse ponto de pauta e o arquiteto e coordenador do Patrimônio Histórico e Cultural da Secultfor (CPHC), Diego Amora, detalhou algumas informações, elencando as diversas ideias. 
 
Após a apresentação, alguns conselheiros se manifestaram sobre os usos propostos para o imóvel. O conselheiro Diêgo Barros, da Mídia Digital, registra a ata, se pronunciou sobre a necessidade de um espaço para “Formação Cultural na área Digital” para oficinas e cursos. 

Legenda: Tombado pelo município em 2007, o imóvel vem sofrendo deterioração ao longo dos anos.
Foto: Kid Jr

Já o conselheiro William Monte, nesse ponto, mencionou a possibilidade de a Prefeitura comprar um “terreno baldio” que fica ao lado da Vila das Artes, pois o referido complexo "está sufocado com as 5 escolas que lá funcionam".

Na reunião do Comphic, Diego Amora também fez a apresentação e os conselheiros apresentaram sugestões para o uso do imóvel. Adson Pinheiro, da Associação Nacional de História (ANPUH), considerou inviável o quadrilhódromo e defendeu um projeto voltado às artes visuais. 

Júlia Jereissati, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), sugeriu um concurso de ideias e Frederico Pontes, da Universidade Federal do Ceará (UFC), destacou a necessidade de estudo de impacto e propôs pensar o espaço também para habitação. 

Outras sugestões foram de Riana Rocha, da Secretaria Municipal do Turismo de Fortaleza (SETFOR), que propôs ações de descentralização e homenagens aos Tesouros Vivos; e a criação de estúdio para cantadores, sugerida por Francisco Damasceno, da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Na ocasião, a secretária, Helena Barbosa, afirmou que o museu não causaria interferências sonoras. 

O encontro também teve como encaminhamento a entrega de laudos de vistorias atualizados na próxima reunião, para discussão de um parecer com diretrizes para a futura intervenção na escola Jesus, Maria e José.

Qual o histórico do imóvel?

O prédio da Escola Jesus Maria e José foi inaugurado em 1905 e integra o primeiro tombamento em conjunto da cidade de Fortaleza, junto com o Colégio da Imaculada Conceição e a Igreja do Pequeno Grande.

Legenda: A escola destinada à educação cristã com a oferta de instrução a crianças pobres funcionou desse modo até 1920
Foto: Kid Jr

De acordo com informações que constam na instrução de tombamento municipal da Escola Jesus Maria e José, o prédio teve a construção iniciada em  "14 de setembro de 1902, sob a atenção de Dom Joaquim José Vieira, 2º Bispo do Ceará, sendo inaugurada em 22 de janeiro de 1905 e dirigida por irmãs de caridade da congregação de São Vicente de Paulo". 

Até 1920, a escola destinada à educação cristã com a oferta de instrução a crianças pobres funcionou com essa finalidade. Mas, no decorrer do tempo, o prédio teve diversos usos que geraram inclusive mudanças na estrutura. Dentre outros, o prédio já sediou

  • Uma Casa Paroquial (já que fica nas proximidades da Igreja do Pequeno Grande)
  • O Auditório da Rádio Assunção Cearense 
  • Uma firma de venda de equipamentos pesados para a agricultura
  • Foi sede da associação "O Berço do Pobre
  • E também foi o Cine Paroquial.

A instrução de tombamento destaca que o prédio é um exemplar significativo da arquitetura eclética em Fortaleza e uma das poucas edificações educacionais remanescentes da cidade.

O documento ressalta a combinação harmoniosa entre elementos decorativos típicos do ecletismo, como as fachadas e varandas em estrutura metálica, e características tradicionais da arquitetura local, como telhas de barro e cobertura em carnaúba.

Tombado pelo município em 2007 (decreto nº 12.303/2007), o imóvel vem sofrendo deterioração ao longo dos anos, chegando a ser ocupado por famílias sem teto em diferentes momentos. Diante da degradação, a Prefeitura em 2021, vedou as entradas do imóvel. 

 

 

 

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