Ceará reduz taxa de alunos com atraso escolar no ensino fundamental e mantém liderança do Nordeste
Censo Escolar referente a 2022, divulgado nesta quarta-feira (8), aponta avanço do Estado no cenário nacional
Estar na escola no tempo certo é um dos primeiros passos para garantir o aprendizado. No Ceará, a taxa de alunos em distorção idade-série – ou seja, com atraso escolar de 2 anos ou mais – no 6º ano do ensino fundamental caiu e se tornou a menor do Nordeste.
Em 2022, a cada 10 alunos cearenses nesse nível de ensino, apenas 1 (10,2%) estava fora da faixa esperada, como apontam dados levantados pelo Diário do Nordeste no Censo Escolar de 2022, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quarta-feira (8).
Entre 2020 e o ano passado, o Ceará avançou uma posição e se tornou o 5º estado do Brasil e 1º do Nordeste com menor proporção de estudantes nesse nível de ensino com atraso.
A taxa teve uma queda expressiva nos últimos dois anos: em 2020, 15,7% dos estudantes cearenses entraram na etapa final do ensino fundamental já com atraso; no ano passado, a distorção atingiu 10,2% dos matriculados.
Para se ter ideia, 10 anos atrás, em 2012, a proporção de alunos que iniciaram o 6º ano com atraso escolar de 2 anos ou mais era de 32,4% – quase 1 a cada 3 estavam atrasados nos estudos, gerando um efeito dominó na trajetória escolar.
Isso aconteceu em meio à pandemia e pode estar relacionado com as estratégias criadas para aproximar a escola dos estudantes e famílias, como analisa a doutora em educação psicopedagoga Ticiana Santiago.
“Eu acredito que as escolas investiram muito no vínculo com as famílias e na estratégia de busca-ativa”, exemplifica sobre o contato com os estudantes por meio de mensagens, ligações e até visitas domiciliares.
Aprender no tempo adequado
O ideal para a formação, no longo prazo, é que as crianças entrem cedo em unidades de ensino, como explica a especialista. Manter o público na escola avançando no tempo adequado depende de alguns fatores.
“Adaptação de currículo, atividades no contraturno, com outras linguagens e recursos, encontrar formas de acessar esses alunos. Antes se falava de um fracasso escolar, mas hoje se entende o contexto e trabalhada as interações escolares ele avança”, frisa Ticiana, que também é professora na Universidade Estadual do Ceará (Uece)
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Além do aprendizado de português e matemática, por exemplo, na escola essas crianças são estimuladas a competências emocionais. Além disso, estão resguardadas de algumas formas de violência.
“Essas crianças tanto estão mais protegidas como conseguem priorizar o desenvolvimento integral, a capacidade de ter um melhor estímulo social, cultural e artístico”, complementa Ticiana Santiago.
Muitas vezes o currículo, o professor e a rotina na escola não tem ferramentas para entender o contexto do estudante. Nós avançamos na legislação, mas os profissionais precisam de tempo e ferramentas para desenvolver isso
Ensino de tempo integral
O Ceará tem a maior proporção de alunos do ensino fundamental matriculados em escolas de tempo integral da rede pública: são 41% dos estudantes. Piauí (38,8%), Maranhão (38) e Tocantins (29,8%) aparecem na sequência.
Essa marca também foi apresentada no Censo Escolar, que funciona como uma espécie de Raio-X da educação brasileira, mostrando a realidade de cada Estado. A pesquisa divulgada apresenta dados sobre escolas, professores, gestores, turmas e estudantes.
Isso tem grande relevância para os gestores, porque evidencia o que precisa ser melhorado em relação aos professores, estudantes e a estrutura das escolas.
“Nenhuma política pública existe com êxito se não for planejada e o planejamento só existe com informações. Portanto, é fundamental para que a gente possa construir isso”, defendeu o ministro da Educação Camilo Santana.
Ticiana aponta a necessidade de ampliar os recursos das escolas e na formação dos professores para proporcionar instituições de ensino do interesse dos estudantes.
"Qualidade é um elemento central, foi muito importante ter colocado como prioridade, mas precisam pensar com equipes, rotinas e recursos para dar vida a isso. Programas e projetos com familias e comunidades, parcerias com os estudantes, entender as necessidades e os interesses desses alunos", propõe.