Cama, geladeira, máquina de lavar: moradores do Passaré acumulam prejuízos causados por alagamentos em Fortaleza
Os danos foram provocados pelas chuvas intensas que caem sobre a Capital desde a noite de quinta-feira (27)

Moradores de regiões desassistidas do Passaré, em Fortaleza, enfrentaram uma madrugada difícil devido às chuvas fortes que caem sobre a Capital desde a noite de quinta-feira (27). Muitos, durante a invasão da água a casas e comércios, perderam móveis, eletrodomésticos, alimentos, documentos e outros pertences.
"Sufoco e muito sofrimento. Não só para nós, como para outras pessoas, também. [...] Haja água. [...] Passou do batente", desabafou a dona de casa Márcia Pinheiro, 54. Ela, que sobrevive da venda de picolés, disse que não dormiu pensando nos prejuízos acumulados: um freezer, onde ela armazena os sorvetes, e um guarda-roupa.
A mulher relatou ainda que a comunidade experimentou momentos de terror, com uma vizinha tendo de salvar o marido — e vice-versa — e ela mesmo salvando um cachorro que ficou submerso. "Minha filha, como dorme [na casa] em cima, não teve como a água subir, mas, em compensação, o corredor dela era só água. As crianças [suas netas] ficaram com medo de dormir lá. A gente passou a noite acordada, não conseguiu dormir", compartilhou.
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Ruas sem acesso a esgotamento sanitário
A água começou a invadir as casas da rua Crisanto Arruda, no Passaré, por volta de 21 horas de quinta-feira, e seguiu durante a madrugada, atingindo móveis, eletrodomésticos, e deixando até mesmo animais domésticos submersos.
Localizada na periferia, a via não tem acesso a esgotamento sanitário ou drenagem pluvial. As residências dela, dispostas ao redor de uma pequena praça, parecem formar uma vila em um nível mais baixo do que as vias laterais. Por isso, quando a água escoa, invade as casas. A situação teria piorado nos últimos anos, conforme moradores.
"Não tem saneamento aqui, uma galeria para a água sair, e cada ano vai aumentando o volume d'água. Não tem como passar a vazão. [...] Não tem como, você pode fazer a barreira que fizer, não tem como", lamentou o empreendedor Francisco Ângelo, 55.
O comerciante relatou que precisou elevar eletrodomésticos, mas não teve prejuízos maiores no estoque. "Bebida não tinha problema, cereais, como estavam na prateleira de cima, perdemos pouca coisa. Perdemos papelada, que molhou... E a sorte é que os garrafões estavam cheios. Agora, sofá, cama, freezer... Ficou boiando", disse ele.
Francisco temeu, inclusive, perder o cão de estimação. "Se a gente tivesse viajado, em cinco minutos o cachorro teria morrido. "Foi a primeira vez que vi esse nível d'água. A proporção que foi e a rapidez", comentou.
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'Agora é tirar o sujo da casa, né?'
A dona de casa Islândia Carla da Silva, 40, contou ao Diário do Nordeste, nesta sexta-feira (28), que a filha estava sozinha em casa quando o imóvel começou a alagar.
"Ela me ligou dizendo que estava entrando água e ficou desesperada, porque ficou sem saber o que fazer. A única coisa que a gente mandou ela fazer foi abrir as portas e deixar a água passar, porque não podia fazer nada", lembrou a mãe.
Agora, é tirar o sujo da casa, né? E ver o que é que tem, o que ainda presta. Entrou água na geladeira e na máquina [de lavar]. Agora, é esperar enxugar tudo para ver o que ainda está funcionando".
Como os vizinhos, Islândia ressaltou não haver estrutura para o escoamento d'água na região, situação que piora devido a construções irregulares. "Essa água da cozinha não tem para onde ir. Do quintal, não tem para onde ir, porque o povo aí de trás tampou, fez um concreto no muro. A água que era daqui do quintal ia para o quintal deles e para outra avenida ali atrás. Só que, como colocaram concreto, a água fica empoçada no meu quintal. No inverno, aumenta muito mais. E a gente não pode fazer nada, né?", disse.
Maior chuva de 2025
Entre as 7 horas de quinta-feira e a manhã desta sexta, Fortaleza registrou a maior chuva de 2025. Segundo o Calendário das Chuvas do Ceará, que monitora a situação, foi registrado um acúmulo de 178,2 milímetros no posto Castelão. Já o segundo posto da Cidade com o maior registro de precipitações foi o Pici, com 152,4 mm.
As duas medições são maiores do que a registrada no dia 15 de janeiro, com 132 mm.
Além disso, em 12 horas, a Defesa Civil da Cidade registrou 118 ocorrências, sendo 115 alagamentos, dois desabamentos, em Messejana e no Passaré, e um risco de desabamento, na Vila Peri.