Buracos e lama em ruas de Aquiraz afetam deslocamento sem pavimentação: 'todo ano é desse jeito'
Falta de drenagem gera acúmulos de água nas vias e atolamento de veículos na região turística
Quando a quadra chuvosa começa, ironicamente, as ruas Sardinha, Aninquim e a Avenida Oceano Índico, em Aquiraz, se tornam exemplos de acúmulo de água e de prejuízo no deslocamento dos moradores da cidade. Situação que se estende há mais de 30 anos devido à falta de drenagem e de pavimentação.
Durante uma manhã na região, o Diário do Nordeste registrou grandes poças de água, lama, vegetação, lixo e entulho nas vias do Porto das Dunas, em Aquiraz. Por causa disso, a aposentada Egídia Rabelo, de 67 anos, nivelou a calçada para evitar mais transtornos.
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"Todos prometem que vão fazer saneamento, mas nada sai. Nosso sofrimento todo ano é desse jeito: entra água em todas as casas", resume sobre o incômodo recorrente nos 10 anos em que vive no lugar.
Entrar e sair de casa de carro é um desafio quando a Rua Sardinha está coberta por lama e vegetação. O perigo também se estende no trajeto feito a pé, porque além da via comprometida, motos e bicicletas usam a calçada para desviar da água.
"Quando eu faço compras o mercantil vem deixar alí (no começo da rua), mas eu tenho que trazer as coisas de sacolinha em sacolinha, porque não para carro aqui. Quem vai entrar em um lamaçal desse?", desabafa.
O questionamento da moradora se amplia ao avaliar o retorno dos impostos pagos pela comunidade. "É um absurdo e não tem mais o que a gente fazer, porque já fizemos apelo, chamamos imprensa, que todo ano vem e nada é resolvido. Mas o IPTU é muito caro, viu?".
Em 2010, por exemplo, o Diário do Nordeste abordou o assunto. Naquela época, foi anunciado R$ 52 milhões destinado ao saneamento básico.
A Prefeitura do Aquiraz reconhece que os alagamentos da rua do Porto das Dunas acontecem há mais de 30 anos em nota enviada à reportagem.
O problema “será resolvido com drenagem e pavimentação. Enquanto isso, a prefeitura tem realizado obras paliativas para reduzir os transtornos da população”, completa em texto.
O projeto de pavimentação foi encaminhado para a Caixa Econômica Federal e a gestão do município tem recurso empenhado por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), conforme a Prefeitura.
No momento, a gestão aguarda a análise do banco para dar início ao processo licitatório de R$ 35 milhões.
Mudança na rotina dos moradores
O professor de tênis Alexandre Assmann, de 49 anos, há 3 anos acompanha de perto a situação no Aquiraz. Morador da Avenida Oceano Índico, o trajeto precisa ser estratégico.
"Aqui é muito problemático, quem não conhece fica trancado. Como eu já moro aqui há um tempo, sei quais as ruas que dá para andar, mas é complicado", frisa.
Isso afeta também o comércio, como acrescenta, devido a dificuldade dos moradores e visitantes acessarem os pontos de venda.
"Sempre o que eu vejo são soluções paliativas, essa rua aqui (Aninquin) era muito ruim. Esse ano deram uma recapeada, mas de terra mesmo”, completa.
Algumas pessoas aqui fazem um sistema motor para escoar a água de condomínios e vão tentando minimizar. A gente tem um grupo (de mensagens) e o pessoal fica (reclamando), mas fica assim
Esse ano, com o registro maior de chuvas, a situação foi agravada. "A própria força da água vai abrindo as crateras e agora está é bom, porque já deu uma maneirada na chuva. Em março mesmo eu nunca vi chover tanto", observa.
Situação afasta visitantes
O Porto das Dunas se tornou a escolha de turistas e moradores de cidades vizinhas, como Fortaleza, pela beleza e mar bom para o banho.
Por isso, a publicitária Vanessa Vigelis, de 36 anos, frequenta o lugar para o lazer. Mas isso deve mudar desde que afundou o carro em um buraco há cerca de duas semanas.
"Não tinha nenhuma sinalização de que tinham escavado valas e a gente acabou caindo em uma. Foi uma situação bem chata, porque entrou água, o carro ficou inclinado a ponto das rodas não encostarem no chão", lembra.
Mesmo observando o acúmulo de água constante durante o período chuvoso, essa foi a primeira vez em que teve problema no deslocamento.
“A gente teve informação de pessoas que trabalham próximo que na semana anterior uma van tinha ficado na mesma situação. Pouco depois da gente, um outro carro atolou mais atrás, caindo no buraco que a Prefeitura fez”, destaca.
Por isso foi necessário acionar o seguro, mas com o apoio de um veículo maior com guincho foi possível retirar o carro, que foi encaminhado para manutenção. "A gente tem costume de ir para a praia todo fim de semana, mas depois desse episódio a gente não vai mais nesse local", conclui.
Planejamento a longo prazo
Soluções paliativas costumam ser mais comuns do que planejamento a longo prazo, como avalia Iuri Bessa, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“Existem soluções para vias urbanas e de baixo volume de tráfego (ou seja, poucos veículos pesados) que não estejam necessariamente ligadas ao uso de asfalto, mas que podem ter um desempenho adequado e com boa durabilidade”, analisa.
A drenagem é um aspecto que não pode ser deixado de lado, pois não adianta ter bons materiais e uma boa execução da via se tudo isso não estiver associado a um projeto de drenagem bem feito
Portanto, o especialista considera que a melhor forma de intervir acontece com análise detalhada do problema nas vias com levantamento da qualidade dos materiais, não só de camadas superiores, mas também inferiores.
“Muitas vezes o problema está nessas outras camadas que são negligenciadas, e algumas das soluções amplamente adotadas tentam melhorar aspectos voltados somente à camada mais superficial”, conclui.