As chuvas registradas em Fortaleza no início do sábado (10) trouxeram uma série de transtornos em várias regiões e moradores da cidade, incluindo as dez famílias afetadas após a abertura de uma cratera no bairro Moura Brasil. A ocorrência, registrada na Rua Adarias de Lima, resultou na retirada temporária das famílias das residências, além do susto pelo risco de desabamento repentino.
"Na hora que aconteceu eu estava dormindo e meu pai estava ajeitando a porta da casa da minha tia e minha mãe estava com minha sobrinha. Eles perceberam que tinha alguma coisa errada e vieram correndo, pedindo para que todo mundo saísse de casa", conta Adriano do Vale Costa, um dos moradores retirados de casa, que definiu a situação como "aterrorizante".
Segundo ele, um dos funcionários da Linha Leste do Metrô de Fortaleza, localizada na região, quase ficou ferido com a abertura da cratera no momento em que tentava checar a gravidade da rachadura. "Ele colocou o pé e quase caía junto no mesmo momento", esclareceu o empresário.
Problema antigo
Adriano, assim como a própria família e outros moradores de outras dez casas, foram encaminhados a um hotel no Centro de Fortaleza, onde têm recebido as refeições desde o ocorrido e devem permanecer no local pelo menos até a próxima quarta-feira (14). A data deve marcar a liberação das casas.
"Moro há 37 anos por lá e meu pai mora desde que nasceu, há 60 anos, já que ele tem 62. Nós até já sabíamos onde era o hotel, já que ficamos no mesmo local há cerca de três anos, quando aconteceu algo semelhante, mas não tão grave assim", explica ele, reforçando o sentimento de impotência diante da situação.
O homem, que tem 37 anos, explica que na época do primeiro ocorrido a promessa foi de que a situação seria resolvida definitivamente com a inserção de cimento no solo. Segundo Adriano, nada disso foi feito, o que teria causado a cratera dessa vez.
A situação no hotel tem sido confortável, ele aponta, mas as famílias têm sentido falta da própria casa, onde deixaram pertences importantes sem olhar para trás por conta do risco de desabamento.
"Colocaram a gente no hotel, mas água temos que pagar e a comida estamos recebendo. Não perguntaram se estávamos precisando de uma roupa, um sabonete, porque eu não tive nem tempo de buscar nada, tivemos que sair correndo da nossa casa. Fora que temos dinheiro em casa e nem podemos entrar", aponta ele.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Adriano lembrou de outra casa nas proximidades que teria desabado em meio às chuvas, o que assustou ainda mais as famílias retiradas. Ele conta que recebeu a previsão de que até quarta poderia retornar para casa, mas não sabe se será seguro.
"A gente aguarda que venham conversar com a gente, dizer o que ocorreu porque não vamos querer entrar nas casas sabendo que elas estão rachadas. Faz tempo que falamos, faz anos que sabemos disso, mas não escutam a gente, não tem diálogo. Teve que acontecer isso", lamenta.
A sensação durante as chuvas foi de medo, ele garante. "Foi tudo muito aterrorizante, ver a nossa casa possivelmente sendo engolida naquela hora. Você nasceu e se criou ali, é muito tenso", finalizou ele.
Análise da Defesa Civil
O secretário da Secretaria de Gestão Regional, Ferruccio Feitosa, o Consórcio FTS, responsável pelas obras do Metrô de Fortaleza, se responsabilizou por realocar os moradores.
"Nós estamos no Moura Brasil neste exato momento, onde a Defesa Civil prontamente identificou uma situação grave devido à obra que está ocorrendo do Metrô de Fortaleza e comprometeu, com as chuvas, mais ou menos dez residências", disse ele, em vídeo publicado na rede social, ao lado do coordenador de proteção e defesa civil Heraldo Maia Pacheco.
Em nota, a Secretaria de Infraestrutura do Ceará apontou que o trabalho está sendo feito para realizar o preenchimento em concreto da cratera. "A Seinfra prestou total apoio junto à Defesa Civil à retirada dos moradores e isolamento dos dois lados da rua Rua Adarias Lima. As famílias foram encaminhadas desde as 15h30, em segurança, para um hotel no Centro de Fortaleza", apontou a secretaria em comunicado ainda no sábado (10).