Quem são os usuários de drogas, qual a rede de assistência e quais os desafios da área na capital cearense? As respostas devem compor a 1ª Pesquisa Diagnóstica Sobre o Uso de Drogas na População de Fortaleza, que será executada com o investimento de R$ 407 mil, oriundos da Prefeitura, e os resultados devem ser apresentados em julho do ano que vem.
O Laboratório Cearense de Psicometria (Lacep) da Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com a Prefeitura de Fortaleza, vai coordenar a iniciativa com o início das atividades marcado para agosto deste ano. Essa é a primeira pesquisa do nível no País, com possibilidade de ouvir mais de mil pessoas de todos os territórios da cidade e profissionais que atuam em unidades de saúde e educação, por exemplo, da cidade.
Para isso, foi assinado um termo de cooperação técnica durante o Seminário Troca de Saberes e Boas Práticas, nesta quarta-feira (26). As informações foram divulgadas na XII Semana Municipal Sobre Drogas, em alusão ao Junho Branco, para prevenção do uso de drogas.
A ideia da iniciativa é produzir evidências relacionadas à extensão, causas e decorrências do uso de drogas na cidade e avaliar as potencialidades e limites da rede de atendimento aos usuários e dependentes de drogas.
Isso deve acontecer em 3 eixos coordenados por professores da área, com apoio de pesquisadores dos cursos de mestrado e doutorado da Universidade. O grupo terá 26 integrante, entre professores e estudantes da graduação, mestrado e doutorado. A iniciativa tem duração de 12 meses, com previsão de início para julho.
O primeiro grupo será responsável pela “Epidemiologia do consumo de drogas em Fortaleza” com o objetivo de fornecer um perfil dos usuários de drogas por meio do levantamento de dados empíricos.
Os estudiosos também devem apresentar as taxas de prevalência e incidência, fatores de risco e de proteção associados ao tipo de droga e o padrão de consumo. Além disso, serão apontadas particularidades como idade, gênero, nível de escolaridade, estado civil, classe social, dentre outros.
Já o eixo seguinte deve fazer a correlação das informações coletadas com o “Levantamento, organização e análise de dados secundários”. Os pesquisadores devem realizar um diagnóstico da rede de serviços públicos para responder a demandas relacionadas ao consumo de drogas.
O terceiro eixo foi nomeado de “Rede de atenção aos usuários de drogas - percepções de profissionais que atuam na cidade de Fortaleza”. Por meio de grupos focais, a pesquisa busca compreender as dificuldades encontradas pelos profissionais no cotidiano.
Também será avaliada a percepção de gestores sobre a disponibilidade de recursos financeiros e humanos, assim como as necessidades específicas de treinamento e capacitação. Por fim, o terceiro grupo deve identificar os desafios particulares dos profissionais que atuam no trabalho voltado aos usuários de drogas em Fortaleza.
Walberto Santos, coordenador do Lacep, ressalta a relevância da iniciativa como uma forma de embasar a tomada de decisões dos gestores públicos. "Temos como principal objetivo trabalhar um diagnóstico populacional que nos dê informações necessárias para que o Município possa desenvolver políticas de drogas, compreendendo o fenômeno a partir da realidade local", frisa.
Sabemos por meio de pesquisas que esse problema gera consequências na saúde, na educação e na segurança. Por ser multifacetado, talvez seja bem difícil de compreendê-lo e trabalhar as diferentes estratégias, associando diversas frentes
Entregas que serão feitas pelo projeto
- Construção e validação de instrumentos de pesquisa, avaliação e acompanhamento;
- Elaboração de relatórios e divulgação dos resultados;
- Seminários com a comunidade, gestores e profissionais;
- Artigos científicos;
- Mapeamento;
- Ferramentas e dados para acompanhamento dos indicadores analisados;
- Curso de extensão voltado para os profissionais;
- Estruturação e disponibilização de bases de dados com as variáveis da pesquisa.
Diana de Azevedo, vice-reitora da UFC, acrescenta que a pesquisa também contribui para a formação dos estudantes mobilizados para o trabalho.
"Muitas vezes soluções que funcionam em outros lugares não funcionam aqui. Então, estamos fazendo aquilo que o nosso reitor-fundador disse: 'como Universidade cultivamos o saber e servimos ao meio. Então, essa parceria, antes de tudo, vai ajudar na formação dos futuros profissionais que lidarão com as consequências das ações desse levantamento de dados e de políticas baseadas em evidências".
Linha de cuidado
O evento também foi marcado por outra assinatura de termo de cooperação para a criação da Linha de Cuidado Psicossocial Integrada em Álcool e outras drogas de Fortaleza.
Neste caso, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) fica responsável por acompanhar a gestão das secretarias da capital cearense durante 18 meses.
"O objetivo é traçar um perfil epidemiológico para que a gente possa ter um abordagem baseada em dados científicos, orientada por uma pesquisa de qualidade", ressaltou o prefeito José Sarto. Secretarias como a da Saúde, Educação e Assistência Social estão envolvidas em ambas as iniciativas tratadas durante o evento.