Camilo Santana no MEC: o que dizem especialistas da Educação sobre indicação do ex-governador do CE

Recomposição de aprendizagem, reorganização orçamentária e articulação com Estados e Municípios devem ser os principais desafios do gestor

O senador eleito pelo Ceará, Camilo Santana, aceitou o convite e vai encabeçar o Ministério da Educação (MEC) do Governo Lula. Para a Pasta nacional, ele deve levar a experiência adquirida como governador do Estado por dois mandatos, quando conseguiu ampliar indicadores da Educação Básica.

Mesmo com a pandemia da Covid-19, o Ceará atingiu a meta de aprendizagem no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2021, nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Segundo o levantamento, as 10 melhores escolas públicas do Brasil ficam no Estado. A etapa Ensino Médio, porém, ficou abaixo do ideal.

Outra marca de seu Governo foi o apoio ao ensino integral. No início deste ano, ele anunciou um plano de universalização do ensino de tempo integral, prevendo o modelo em 100% das escolas estaduais até 2026. Recentemente, a governadora Izolda Cela, que o sucedeu, autorizou suporte aos municípios para iniciarem essa migração a partir do 9º ano.

Sobre a indicação do gestor ao MEC, o Diário do Nordeste conversou com Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), e Claudia Costin, fundadora e diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (Ceipe/FGV).

As duas especialistas elencam o nome de Camilo como positivo para a Pasta, principalmente pelas experiências educacionais desenvolvidas no ensino público cearense, cujo maior exemplo é o bom desempenho da cidade de Sobral.

“A alfabetização foi um projeto que deu muito certo e trouxe resultados bem a curto prazo até, para o estado do Ceará, e também teve impacto no Brasil”, considera Maria Helena.

Costin endossa ainda que o grupo político de Camilo tem expertise em “formular e implementar políticas educacionais”.

“É um alívio ver alguém que foi comprometido com a formulação e implementação de política educacional como política do estado, porque isso pode ser estendido aos demais municípios por meio do pacto pela alfabetização na idade certa”.
Claudia Costin
Fundadora e diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (Ceipe/FGV)
Tanto Maria Helena como Claudia são entusiastas da composição da atual governadora do Ceará, Izolda Cela, na Secretaria de Educação Básica do MEC. 

Carreira política

Camilo Santana é engenheiro agrônomo e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Iniciou a carreira como servidor público federal concursado do Ibama. 

No currículo, ele adicionou o cargo de secretário do Desenvolvimento Agrário do Ceará de 2007 a 2010, e depois titular da secretaria das Cidades. Iniciou o primeiro mandato como governador em 2015, sendo reeleito em 2018. Em 2022, foi eleito senador pelo Estado.

Questionadas pela reportagem, as especialistas em Políticas Educacionais não veem problema em o novo ministro não ser necessariamente da área técnica da educação.

“Acredito que a experiência política do ex-governador Camilo é importante no estado do Ceará. Ele certamente deverá trazer uma equipe de pessoas da área de educação para apoiá-lo e tem muita experiência política de negociação. Agora, terá um desafio de articulação com Estados e Municípios”. 
Maria Helena Guimarães de Castro
presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE)

Claudia Costin também não percebe “desconforto” com a formação do ministro. Pelo contrário: para ela, a educação precisa discutir e implementar ações de desenvolvimento sustentável projetadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

“É quase uma ética intergeracional, que é ensinar às crianças que nós humanos somos responsáveis não só por não causar dano para os nossos contemporâneos, mas para as futuras gerações também. É uma visão de educação integral”, sustenta.

Prioridades para o ministro

Como principal demanda a ser analisada por Camilo Santana, Maria Helena de Castro, do CNE, e Claudia Costin, do Ceipe, são enfáticas: a retomada da aprendizagem e da alfabetização para as crianças. 

“Todas as avaliações educacionais do país mostram que as crianças não aprenderam nos dois anos de pandemia, e que as atividades remotas não foram eficientes. É um quadro muito preocupante”, alerta Helena.

A presidente do CNE também aponta:

  • recomposição do orçamento, que foi “muito prejudicado” nesse ano de 2022; 
  • reorganização das equipes do MEC, “bastante afetadas” por mudanças frequentes  e descontinuidades;
  • articulação com novos governadores e representações dos municípios para coordenar uma grande política nacional pela recomposição das aprendizagens e da alfabetização.

Claudia Costin também sugere um olhar mais atencioso para a ampliação do tempo integral, o respeito à autonomia das universidades públicas e a valorização dos pesquisadores de pós-graduação, cujas bolsas estão há anos sem reajuste.