Alunos nota 1.000 dão dicas de como fazer boa redação no Enem
Ex-candidatos destacam a importância da rotina de estudos, do domínio da norma culta e do repertório bem aplicado.
Conquistar a nota 1.000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é um feito para poucos — mas não impossível. Nos últimos dois anos, três cearenses chegaram lá: Francisco Roney Sousa Coelho, de Fortaleza, e Karoline Soares Teixeira, de Ji-Paraná (RO), que vive no Ceará, obtiveram a pontuação máxima em 2023, enquanto Elivando Rodrigues, de Jaguaribe, repetiu o feito em 2024.
Às vésperas do Enem 2025, que será aplicado nos dias 9 e 16 de novembro, eles compartilham as estratégias que os levaram ao topo — da rotina de estudos ao uso consciente dos repertórios socioculturais e dão conselhos a quem vai enfrentar a prova este ano.
Para Roney Coelho, que fez apenas sete meses de cursinho, a palavra-chave foi organização. “Comecei em abril, quando as aulas já tinham iniciado em janeiro. Então a rotina foi puxada. Eu tinha aula pela manhã, fazia uma pausa para o almoço e estudava sozinho de 14h às 20h”, conta.
O estudante dedicava os sábados a planejar a semana seguinte. “Dispunha o que ia estudar e seguia rigorosamente. Isso me mantinha equilibrado”, explica.
A prática constante de resolver questões também foi essencial: “Fazia muitas para avaliar o que tinha aprendido bem e o que precisava reforçar.”
Já Elivando, professor de redação e graduado em Letras, aproveitava o próprio trabalho para se aprimorar. “Todo ano eu faço a prova. Escrevo, analiso, e depois repasso aos meus alunos o que percebi, o que funcionou e o que poderia ter sido melhor. É uma forma de estar sempre em contato com o exame.”
Boas práticas para incorporar à sua rotina:
- Intercale momentos de teoria (aulas, estudo dirigido) com prática (fazer redações, simulados). Isso ajuda a fixar o que você aprendeu e a identificar onde ainda erra;
- Use o sábado ou outro dia da semana para planejamento: defina quais temas ou competências serão trabalhados nos dias seguintes, quais pontos gramaticais ou conteúdos de ciências/humanas precisam reforço;
- Crie um ambiente de estudo que minimize distrações; horários fixos ajudam o corpo e a mente a se adaptarem a uma rotina produtiva.
- Reserve um tempo para revisões: ao fim de cada semana, releia suas redações, corrija-as, e observe padrões de erros que se repetem para atacar esses pontos especificamente.
Domínio da língua portuguesa (Competência 1)
Entre as cinco competências avaliadas na redação do Enem, a primeira, que mede o domínio da norma padrão, costuma ser um desafio. Roney admite que essa era a área em que mais perdia pontos.
Ortografia, erros gramaticais, concordância… minha principal estratégia foi estudar especificamente para os erros. Eu corrigia, reescrevia e tentava entender o porquê de cada deslize. Com a ajuda do professor, aprendi a não repeti-los.”
Karoline reforça que o domínio da escrita é um processo cumulativo. “Algo que ajudou muito foi a leitura: livros, notícias, reportagens. Isso ampliou meu vocabulário e minha percepção de como organizar os períodos e orações”, afirma.
Ela recomenda atenção especial à pontuação nos dias próximos à prova: “Vale revisar vírgula, crase e pontuação, para ir com o senso mais apurado. Evite orações e períodos muito longos. Três por parágrafo é o ideal.”
Para Elivando, entender o padrão dos próprios erros é o que faz diferença na reta final. “Se eu percebo que sempre erro um tipo específico de vírgula, é mais produtivo focar nesse padrão do que tentar decorar todas as regras. Ler redações de outras pessoas também ajuda, porque às vezes enxergamos erros que não percebemos nos nossos textos.”
Dicas práticas para melhorar a Competência 1:
- Faça uma lista pessoal dos erros gramaticais que você comete com mais frequência — ortografia, crase, vírgula, concordância — e revise-os sistematicamente. Aprender “por módulo” (ex: só crase, só concordância) pode ajudar;
- Use exercícios de gramática: além de teoria, resolva questões que envolvam regência verbal/nominal, concordância, uso correto de acentuação, hífen etc. Isso ajuda a internalizar regras mais sutis;
- Leia bastante — não apenas redações completas, mas também textos de opinião, reportagens, artigos acadêmicos e de jornais. Observe como pontuam, como estruturam as frases, como dividem orações.
Repertório sociocultural: o cuidado com os “repertórios de bolso”
A nova Cartilha do Participante do Enem 2025, divulgada pelo Inep, reforça um alerta que já vinha aparecendo nas últimas edições: o risco dos chamados “repertórios de bolso” — referências decoradas e usadas de forma genérica, sem real conexão com o tema.
“Elas tornam o texto mecânico e vago”, observa Elivando. “O Inep agora está mais atento a isso. O ideal é estudar repertórios por eixos temáticos — meio ambiente, saúde, educação — e dominar o conceito, não só decorar uma frase. Quando o repertório é entendido, ele fortalece também a argumentação.”
Karoline compartilha a mesma visão. “Sempre tentei aplicar o repertório de forma produtiva, sem ‘encher linguiça’. Costumava usar leis e documentos oficiais, como a Constituição Federal, o ECA, a Declaração dos Direitos Humanos e a Cartilha do Idoso. Também incluía referências culturais, como filmes, e articulava o repertório com um argumento logo em seguida, usando conectivos coesivos.”
Atenção antes da prova!
Mais do que conhecimento, o Enem exige resistência e estratégia. Karoline lembra que a prova é longa e cansativa. “É importante treinar o ritmo. Fazer simulados e provas antigas ajuda a descobrir qual estratégia funciona melhor para você. Se é começar pela redação, pelas questões de humanas ou intercalar as áreas.”
Ela desenvolveu um método próprio: “Costumava começar pelo esqueleto da redação. Destacava as palavras principais do tema, organizava o que iria abordar em cada parágrafo e só depois escrevia o texto completo. Fazia as questões de humanas e voltava para revisar a redação.”
Na reta final, Elivando recomenda cautela com as fontes de informação e leitura de boas redações. “Isso ajuda a se acalmar e a observar com mais clareza o próprio texto. Ler outras produções é uma forma de ganhar controle e confiança.”
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Como será a redação do Enem 2025
Os candidatos terão de elaborar um texto dissertativo-argumentativo de até 30 linhas, a partir de uma situação-problema apresentada na prova. A correção será feita por, no mínimo, dois avaliadores independentes, e cada um atribuirá nota de 0 a 200 em cinco competências — somando até 1.000 pontos.
O Enem 2025 será aplicado nos domingos 9 e 16 de novembro. No primeiro dia, além da redação, os participantes responderão questões de Linguagens e Ciências Humanas. No segundo, farão provas de Matemática e Ciências da Natureza.
As notas podem ser usadas para concorrer a vagas em universidades públicas (pelo Sisu), bolsas em instituições privadas (ProUni), financiamentos pelo Fies e até vagas em instituições estrangeiras conveniadas ao Inep.
*Estagiária supervisionada pela jornalista Dahiana Araújo