'A Parada pela Diversidade é uma celebração de amores e também é um ato político', reforça ativista

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB), Dary Bezerra, ativista LGBTQIA+, reforça a relevância do evento que ocorre desde 1999

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
Trio elétrico da Parada pela Diversidade Sexual
Legenda: A Parada pela Diversidade Sexual ocorre há mais de 20 anos em Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

Um evento que ocorre desde 1999 em Fortaleza, mobiliza uma parcela da população e une celebrações pelas vidas que resistem, apesar dos obstáculos, e reivindicações por efetivação de direitos. A Parada pela Diversidade Sexual, na Capital, chega à 22ª edição e, neste domingo (25), ocupará novamente a Av. Beira-Mar. Após mais de 20 anos, defendem os organizadores, o evento, dada as vulnerabilidades não superadas, continua necessário e, por isso, assegura a presença de centenas de participantes.

Tradicionalmente, a Parada ocorre a partir das 15h na Av. Beira-Mar e a estrutura conta com um conjunto de trios elétricos, em uma programação que mistura cores, músicas, apresentações, performances e ativismo político. O evento é gratuito. Em 2023, o tema da Parada é “Vraaahh!!! Todes nas lutas por políticas públicas: por quem se foi, por quem está e por quem virá!”. 

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Em entrevista ao Diário do Nordeste, a presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB), a pedagoga Dary Bezerra, ativista LGBTQIA+ e mestranda em Atropologia, reforça porque a realização da Parada é relevante, destaca políticas e ações que precisam ser implementadas no Estado para essa população e aponta a necessidade de reconhecimento das diversas identidades que se encontram também nesse grupo populacional, muitas vezes, tido como homogêneo.  O GRAB é o grupo idealizador da Parada desde a primeira edição. 

Dary Bezerra, presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB), organizadora do evento
Legenda: Dary Bezerra, presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB), organizadora do evento
Foto: Arquivo pessoal

1. A Parada pela Diversidade Sexual chega a 22º edição, há uma expectativa de contar com centenas de participantes, é um momento que já está no calendário de parcela da sociedade e de organizações sociais, mas há quem ainda questione o significado do evento. Em um contexto de tantas mudanças sociais e de cobrança por efetivação de direitos, como você explica a necessidade da existência da Parada? E ela ajuda a evidenciar determinadas demandas?

A Parada tem essa responsabilidade de levar pra sociedade discussões acerca das populações LGBTI+ que historicamente encontram-se ainda à margem da sociedade e, nesse sentido, a gente pauta a garantia de direitos. Direitos para populações LGBT para que possam viver uma vida digna. Uma vida com cidadania na sociedade brasileira. 

Então, por exemplo, o Brasil ainda é o país que mais assassina as populações LGBTI+ no mundo. O Ceará também encontra-se ainda como um dos estados brasileiros que ainda matam populações LGBTs e, nesse sentido, as políticas públicas vêm para minimizar as vulnerabilidades. Além da questão dos homicídios, as populações LGBTs estão expostas. 

Como a educação, o acesso à educação, o acesso à saúde que ainda não é de qualidade, não é humanizado em sua totalidade, questões sobre moradia é empregabilidade também que é uma pauta muito importante, principalmente, para travestis e transexuais. 

E a Parada é o momento onde toda a comunidade, toda a sociedade, não só as pessoas LGBTs, mas também pessoas não LGBTs que apoiam essa causa e estão conosco, vão às ruas para celebrar vidas, amores e visibilizar essa escassez de políticas públicas e exigir essas políticas. 

E aí, nessa perspectiva, temos uma forma bem diferente de reivindicação que é a celebração também das vidas, dos amores, das livres orientações sexuais, identidades de gênero. A Parada é celebração de amores e também é um ato político. Então, a Parada tem um caráter de celebração, mas ao mesmo tempo ela é um ato político. 

Por conta dessa questão da vulnerabilidade, ainda precisamos fazer paradas para reivindicar. Que bom seria se a parada fosse apenas a celebração da vida, da cultura da paz, da livre convivência entre as pessoas, mas por enquanto ainda não é. Por isso, a gente, todos os anos, sai às ruas com essa marcha. 

2. Também nesse sentido, que você já começou a falar, é preciso entender o que é esse orgulho, quando falamos de várias identidades marginalizadas e compõem a Parada pela Diversidade.  Algumas vezes, o entendimento sobre esse termo é distorcido. O que ele significa nesse contexto?

Quando falamos do orgulho de ser quem se é, é porque vivemos em uma sociedade que não nos aceita. Que não nos quer e que nos coloca nessa margem social. Mesmo assim, temos orgulho de ser e existir no mundo da forma como somos, como queremos ser e, dessa forma, esse orgulho é potencializador de muitas coisas, da autoestima, da convivência comunitária, do encontro entre pares. 

O orgulho é para além dessa palavra. Vem como empoderamento de sujeitos que vivem em uma sociedade onde não são quistos, mas ao mesmo tempo constroem uma proposta de vida. Uma proposta de vida coletiva para continuar existindo. Pelas que foram, por nós que estamos aqui vivas e também pensando nas populações futuras que precisam encontrar na sociedade uma sociedade melhor de se viver com dignidade e cidadania. 

3. Em relação à Parada pela Diversidade é que quando se trata da população LGBTQIA+ há uma percepção equivocada sobre uma certa homogeneidade. Claro que há pautas e características comuns, até pelas vivências, mas são grupos diversos. Hoje, a Parada pela Diversidade tem diversidade? 

A Parada é fruto dos movimentos sociais LGBTs e então a gente percebe que, nos últimos, anos houve uma eclosão de identidades, de novas identidades. E, no início, em 1999, na primeira edição, a parada foi puxada pelas travestis, por homens gays e mulheres lésbicas. 

Hoje a gente vê que Parada há uma inúmeras outras identidades de gênero que foram surgindo e as pessoas, essas populações, estão juntas na sigla que a gente chama de LGBTI+ ou LGBTQIAPN+, mas que vão se juntando por uma afinidade, para além da luta identitária, mas pela garantia de direitos. 

A Parada se organiza para agregar todas essas populações e outras populações que não são LGBTs, mas que atravessam esse universo das identidades, como as mulheres, a população negra, indígenas, cristãs, não-cristãs, pessoas com deficiência. Os marcadores são muitos. Uma pessoa LGBTI+ não é só isso. Ela é atravessada por outros marcadores. A Parada tem essa compreensão da totalidade. 

4. Outro ponto é a necessidade de efetivar políticas públicas para a população LGBTQIA+ que possam ir além do combate à violência - necessária, mas que precisa avançar. Quais são os pontos importantes para progredir na garantia de direitos e em que áreas?

O acesso à educação, por exemplo. O combate à evasão escolar, já que as pessoas LGBTs muitas vezes não conseguem sequer concluir o ensino fundamental ou médio por conta do preconceito e discriminação, sobretudo, as travestis e transexuais. Políticas no campo da saúde que venham tratar humanamente a população LGBT em suas questões específicas. Por exemplo, uma coisa coisa é a saúde da mulher lésbica, ou é a saúde da mulher trans, outra é a saúde do homem gay. Precisamos pensar sobre isso. 

Outra coisa é a questão da empregabilidade que hoje também o público de travestis e transexuais é o mais vulnerável, nesse aspecto, onde muitas ainda são expulsas de casa e tem na prostituição apenas esse recurso como fonte de renda. 

A moradia e diversas outras políticas que atravessam a vida dessa população. Quando a gente fala disso, estamos falando de todas essas questões que são inerentes à pessoa humana. A população LGBTs ainda encontra-se em um patamar bastante difícil no acesso a esses direitos. E é por isso que a gente luta. 

5. Falando especificamente do dia da Parada pela Diversidade, como vai ser a organização? Qual será a programação?

A partir das 15 horas vamos iniciar a programação, com as falas dos movimentos sociais, com a entrega da faixa à madrinha da Parada, que esse ano é a professora Luma Andrade, da Unilab. Em seguida, a gente sai em cortejo. A concentração vai ser em frente ao Hotel Beira-Mar e a Barraca do Joca, no Náutico, e segue em direção à Praia de Iracema, com as celebrações, festividades, ao som de DJs e cantores cearenses, como forma de valorização das artistas da terra. 

Teremos cortejos de trios e cada organização é responsável pela programação do seu carro na avenida. Como o Grab, a Prefeitura, o Governo do Estado, e diversos outros que vão estar lá. Estamos com a expectativa que vai ser muito bonito, muito celebrativo. 






 

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