3 a cada 10 mulheres no Ceará só fazem mamografia pela primeira vez após os 55 anos

Realizar o exame em rotina anual a partir dos 50 anos de idade é recomendado por autoridades de saúde

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Mamografia no Ceará
Legenda: Exame de mamografia deve ser buscado aos 40 anos de idade e se tornar rotina anual para mulheres a partir dos 55 anos
Foto: Shutterstock

O exame pode ser incômodo, mas é indispensável: é por meio da mamografia que casos de câncer de mama são detectados de forma precoce, aumentando as chances de cura. No Ceará, porém, 3 a cada 10 mulheres só fazem o procedimento pela 1ª vez após 55 anos de idade, bem além do recomendado pelas autoridades de saúde.

O Estado registra uma média de 41 mil mamografias por ano entre mulheres de 55 anos ou mais. Do total, cerca de 12 mil relatam ser a primeira vez. Os dados são do Sistema de Informação do Câncer (Siscan) e representam uma média entre os anos de 2019 a 2021, calculada pelo Diário do Nordeste.

50 a 69 anos
é a faixa etária que, segundo o Instituto Nacional do Câncer, deve realizar mamografia regularmente. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o início aos 40 anos de idade.

Em 2022, até setembro, 32,5 mil mulheres acima de 55 anos fizeram mamografia no Ceará, 8 mil delas pela 1ª vez. Entre aquelas acima de 45 anos, foram mais de 58 mil exames – 16.705 das mulheres nunca tinham feito antes (28%), como aponta o Siscan.

O sistema nacional alerta que pode haver subnotificação, porque nem todos os municípios enviam os dados.

Acesso difícil ao exame

A procura tardia pela mamografia entre as cearenses ocorre por uma junção de fatores, como aponta Daniele Castelo Branco, gestora da Associação Nossa Casa de Apoio a Pessoas com Câncer e coordenadora da Rede Mama:

  1. Desconhecimento sobre a importância de fazer mamografia anualmente;
  2. Medo: as mulheres sabem que precisam fazer o exame, mas acham que “dói”;
  3. Dificuldade de acesso.

“As mulheres vão ao posto de saúde e o médico pede o exame, mas elas ficam dois, três meses, até 1 ano aguardando pra fazer a mamografia. O fato de não conseguirem esse acesso dificulta a realização”, lamenta Daniele.

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Para a artesã Maria Deusa Silva, 63, a espera já dura cerca de 3 anos. Desde 2019, ela tenta conseguir um encaminhamento no posto de saúde, “mas aí veio a pandemia, já passou, e nunca mais” conseguiu.

Como já tive casos de câncer na família, estou sempre fazendo. Mas aí veio a pandemia. Quando boto no sistema, passa muito tempo e não consigo marcar. Já procurei saber no particular, mas é um exame caro, é difícil de fazer.
Maria Deusa Silva
63 anos

Daniele reforça que muitas mulheres em vulnerabilidade social que chegam à Associação Nossa Casa em busca de mamografias gratuitas “trazem isso forte no discurso: que estão há até 3 anos sem conseguir marcar”.

“A pandemia também atrapalhou muito, mas essa dificuldade já existia, é anterior. Em outubro, há um aumento das vagas, mas elas deveriam perdurar nos demais meses”, acrescenta a gestora.

A reportagem questionou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sobre que fatores causam essa demora no atendimento. Em nota a Pasta respondeu apenas as perguntas relacionadas à paciente citada nesta matéria, Deusa.

Segundo a SMS, Deusa está agendada desde a última terça-feira (04/10) para realização de exame no dia 19 de outubro. "A SMS reforça que a paciente compareça ao Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC) do seu posto de saúde para buscar o documento de agendamento", acrescentou a nota.

Onde fazer mamografia

De acordo com Léa Dias, assessora técnica da área da Saúde da Mulher da SMS, Fortaleza tem rede de atendimento própria e contratualizada, além de contar com a retaguarda do Estado para realização das mamografias.

“A mulher se consulta com médico ou enfermeiro na unidade de saúde, e se está na faixa etária de rastreamento, que é 50 a 69 anos, tem indicativo de solicitação de mamografia, mesmo que não sinta nada. Se tiver sintomatologia, em qualquer idade ela procura a unidade, é examinada e pode ter a indicação do exame”, explica.

A gestora lista os locais para onde as mulheres são encaminhadas na capital:

  • Hospital da Mulher;
  • Policlínicas;
  • Santa Casa de Misericórdia;
  • GEEON - Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (organização não-governamental);
  • Instituto do Câncer do Ceará (ICC);
  • Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCA)
  • Hospital Geral de Fortaleza (HGF);
  • Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar.

Léa afirma que, durante o mês de outubro, as policlínicas também disponibilizarão 60 mamografias aos sábados, “para melhorar o acesso neste mês”. Diariamente, nos demais períodos do ano, são cerca de 50 exames por dia.

A mamografia é o padrão ouro para a detecção precoce do câncer de mama, porque consegue detectar nódulos muito pequenos. Quando você toca um nódulo no autoexame, ele já tem cerca de 8 anos de evolução. Fazemos esse alerta.
Léa Dias
Assessora téc. Saúde da Mulher / SMS

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) frisou que “a porta de entrada (para mamografia) é sempre via postos de saúde”, ou seja, de competência municipal. “Caso seja necessário, as pacientes são encaminhadas às policlínicas”, acrescenta.

“As 22 policlínicas regionais estão equipadas com mamógrafos e aptas à realização do exame em pacientes encaminhadas e agendadas. O IPC, o HGF e o Hospital Geral César Cals também atuam via Central de Regulação para acolher a demanda estadual”, diz a Pasta. 

A Sesa destaca, ainda, que um dos focos da campanha do Outubro Rosa é a “sensibilização junto às secretarias de saúde dos municípios cearenses para aprimorar os fluxos de encaminhamentos para a realização de mamografias na unidade”.

Informação é a chave

A coordenadora da Rede Mama destaca que “a exemplo do que acontece em outubro, quando difundimos entre a população a importância da mamografia, essa informação precisa ser difundida por todo o ano”. É uma das principais estratégias a serem adotadas, segundo Daniele.

“Além disso, é promover o acesso. Uma coisa é a mulher que não sabe, não tem consciência da importância; outra coisa é quem busca e não consegue”, opina. Para a gestora, “é preciso fazer uma busca ativa dessas mulheres”. 

Se cada posto de saúde fizesse uma força-tarefa, olhasse pra sua comunidade e rastreasse esse público alvo de 50 a 69 anos, aos poucos a gente conseguiria atender a essa demanda.
Daniele Castelo Branco
Assoc. Nossa Casa de Apoio a Pessoas com Câncer

Léa Dias, assessora da SMS, garante que “uma grande estratégia do Município são os processos de educação em saúde, falar com as pessoas sobre mudança no estilo de vida, o que é um grande desafio para a atenção primária”.

“É importante que as mulheres se conscientizem de que a forma de proteção contra o câncer de mama, pra que consigam diminuir em até 30% a chance de ter, é esse trio constituído por atividade física, manutenção do peso ideal e alimentação saudável”, finaliza.

Sinais e sintomas de câncer de mama

São considerados sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama e de referência urgente para a confirmação diagnóstica, segundo o Ministério da Saúde:

  • Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos;
  • Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual;
  • Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade;
  • Descarga papilar (secreção nos mamilos) sanguinolenta unilateral;
  • Lesão eczematosa da pele (manchas úmidas com crosta) que não responde a tratamentos tópicos;
  • Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral;
  • Presença de linfadenopatia (inchaço) axilar;
  • Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja;
  • Retração na pele da mama;
  • Mudança no formato do mamilo.

Como prevenir o câncer de mama

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) lista algumas medidas que devem ser adotadas para prevenir a doença:

  • Evitar a obesidade, através de dieta equilibrada; 
  • Prática regular de exercícios físicos; 
  • A ingestão de álcool, mesmo em quantidade moderada, é contra-indicada, pois é fator de risco para esse tipo de tumor; 
  • Exposição a radiações ionizantes em idade inferior aos 35 anos também deve ser evitada.

A entidade pondera, contudo, que “a prevenção primária desse câncer ainda não é totalmente possível, devido à variação dos fatores de risco e às características genéticas que estão envolvidas”.

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