Roteiristas de escola cearense são indicados em festival de Porto Alegre e ganham prêmios

Participantes do Laboratório de Cinema do Porto Iracema das Artes foram indicados a Rodada de Negócios do FRAPA – Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre, um dos mais importantes eventos de roteiro do Brasil

Escrito por Redação ,
Esta é uma imagem do filme O barco e o rio
Legenda: O roteiro "O Barco e o Rio" conta a história de uma mulher que sai em missão evangelizadora em um barco no Rio Amazonas
Foto: Divulgação

Quando se imagina o processo de escrita de um roteiro para o cinema, logo se vem à mente um momento criativo solitário, como na literatura. A ideia do Laboratório de Cinema do Porto Iracema das Artes é justamente quebrar esse estereótipo e incentivar a construção coletiva dos roteiros, a partir da troca de ideias entre os alunos e os profissionais do setor.

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Por essa razão, a Escola promoveu um evento de “pitching” com cineastas e atrizes já consagradas no ramo, a fim de que os participantes do laboratório apresentassem seus trabalhos e amadurecessem suas ideias.  O resultado desse processo rendeu a indicação de dois projetos da Escola para a Rodada de Negócios do FRAPA – Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre, um dos mais importantes eventos de roteiro do Brasil, além do Prêmio Incubadora Paradiso para dois roteiristas cearenses. 

Os premiados da 8ª edição do Pitching do Laboratório de Cinema da Escola Porto Iracema das Artes foram os roteiros “Yellowcake”, escrito por Celina Ximenes e Larissa Estevam (CE), “O Barco e o Rio”, de Bernardo Ale Abinader (AM) - indicados ao FRAPA - e “O Homem no Teto”, de Davi Siqueira e Vinícius Cabral (CE), vencedores do Prêmio Incubadora Paradiso.

“O laboratório funciona como uma experiência de compartilhamento das histórias. Eles passam sete meses escrevendo, refazendo, definindo perfil de personagens, mudando a história. Isso tudo em uma conversa com os companheiros da turma e com os tutores. Eles passam meses se dedicando a isso e depois vão ao encontro dos profissionais do mercado, que vão trazer outra perspectiva para o roteiro”, sintetiza a diretora de formação do Instituto Dragão do Mar, Bete Jaguaribe.

Esta é uma imagem do filme Yellowcake
Legenda: Yellowcake conta a história de uma geóloga que vai ao extremo para proteger seus conterrâneos de uma contaminação ambiental
Foto: Divulgação

A diretora do IBM explica que diferente do que acontece no mercado de audiovisual, no qual os roteiristas apresentam um pitching de forma rápida e objetiva, “na escola, ganha outra dimensão porque é o momento de orientação de um projeto. Você passou o ano desenvolvendo aquele roteiro, agora apresenta, faz um pitching. A gente definiu que também seria um ambiente para além do espaço de negócio, seria um momento de ajustes do projeto”, acrescenta. 

O pitching normalmente é muito curto em tempo. Você apresenta as principais ideias ao investidor, o conceito do seu projeto, o dinheiro que você precisa e justifica porque você quer fazer esse projeto.
Bete Jaguaribe
diretora de formação do Instituto Dragão do Mar
 

Ela acredita que o evento promovido pelo Porto Iracema das Artes se torna ainda mais importante para o desenvolvimento profissional desses roteiristas porque é, para a maioria deles, a primeira oportunidade de realizar um pitching para profissionais da indústria do cinema e do audiovisual fora do ambiente acadêmico

“É um momento de muita qualidade, em que eles se mostram pela primeira vez para um público que tem rigor, então também é um momento de aprendizado para eles. Normalmente são pessoas mais jovens, estão iniciando nas práticas dos mercado”, pontua Bete Jaguaribe.

Emoção 

A 8ª edição do Pitching do Laboratório de Cinema da Escola Porto Iracema das Artes foi o primeiro pitching da roteirista Celina Ximenes, responsável pelo projeto “Yellowcake”, também escrito por Larissa Estevam. O roteiro, indicado ao FRAPA, conta a história de uma jovem geóloga, negra e lésbica que vai ao extremo para proteger seus conterrâneos de uma contaminação ambiental

“Passamos a semana bolando e ensaiando essas apresentações. E mesmo assim, na hora que é pra valer, vem aquele nervosismo e adrenalina. (...)  Foi muito recompensador ter os feedback das juradas ver que elas gostaram da história mesmo com os apontamentos”, afirma Celina Ximenes. 

Esta é uma imagem de Larissa Estevam
Legenda: Larissa Estevam é uma das roteiristas de Yellowcake
Foto: Arquivo pessoal

O roteirista Bernardo Ale Abinader, também indicado ao FRAPA com o roteiro “O Barco e o Rio”, acredita que a experiência na Escola possibilitou que seu projeto ficasse mais estruturado e aprofundado, pontos que vão contribuir de forma significativa para sua participação no festival, onde ele vai ter contatos com produtores que possam concretizar a produção do filme. 

“Tô bem feliz de poder participar de um evento tão importante que vai possibilitar o meu projeto ser visto por muitos produtores importantes do Brasil e do mundo”.
Bernardo Abinader

Esta é uma imagem de Bernardo Ale Abinader
Legenda: Bernardo Ale Abinader, autor de "O Barco e o Rio", foi indicado para participar do FRAPA
Foto: Arquivo Pessoal

Já o vencedor do Prêmio Incubadora Paradiso, que concede uma bolsa de R$ 30 mil, Vinicius Cabral, autor do terror pandêmico “O Homem no Teto” junto com Davi Siqueira, conta que a mostra também foi seu primeiro pitching fora do universo acadêmico.

Estudante do curso de cinema da Universidade de Fortaleza (Unifor), ele afirma que a dupla procurou tornar a apresentação mais interativa para quem estava assistindo, brincando com o jogo de luzes e tonalidade das vozes para repassar a emoção do projeto.   

Esta é uma imagem do filme O Homem no Teto
Legenda: 'O homem no Teto' ganhou o prêmio Prêmio Incubadora Paradiso
Foto: Divulgação

“É meu primeiro grande projeto, é a primeira vez que eu tô tendo contato com esses profissionais da indústria e eu ainda não terminei a faculdade. É um novo mundo que tá se abrindo pra mim. É muito animador estar passando por tudo isso. É uma coisa que eu e o Davi estamos muito felizes e animados para cair de cabeça nisso”, diz Vinicius. 

Desapego

Vender seu projeto no pitching também é um processo de desapego. No cinema, o roteiro é uma obra mediada, que na maioria dos casos vai servir de base para o trabalho de outros profissionais do ramo, como o diretor, o qual pode levar o conceito do projeto para uma concepção diferente daquela pensada inicialmente pelo roteirista. 

“Tem uma certa preocupação de ‘será que aquilo vai ser bem tratado?’; ‘a minha visão vai estar ali no final?’. Por vezes, sim, acontece. Por vezes, não. Mas isso faz parte, são os ossos do ofício”, explica Vinicius Cabral. 

Esta é uma imagem dos roteiristas Vinicius e Davi
Legenda: Vinicius Cabral e Davi Siqueira são os roteiristas do filme "O Homem no Teto"
Foto: Divulgação

O roteirista de “O Homem no Teto” esclarece que no cinema um filme é escrito três vezes. A primeira acontece quando o roteiro está sendo propriamente escrito. A segunda vez ocorre durante a direção do filme, enquanto a terceira acontece durante a montagem do produto. 

Já Davi Siqueira, também roteirista de “O Homem de Teto”, pontua que o cinema é uma arte coletiva. Por isso, “o trabalho de todos pode ser afetado por um departamento que não esteja em sintonia, e muito da função de diretor gira em torno disso: fazer a equipe inteira tocar a mesma música. Então acredito que o crucial para que meu trabalho seja preservado é um bom diálogo com o diretor”, diz. 

Esta é uma imagem de Celina Ximenes
Legenda: Celina Ximenes é uma das autoras do roteiro Yellowcake
Foto: Arquivo pessoal

A roteirista de Yellowcake, Celina Ximenes, também compartilha a visão de Davi quanto a necessidade de um diálogo aberto com os demais profissionais envolvidos na produção do filme. Ela acredita que transmitir a ideia exata de um filme para outra pessoa é uma tarefa impossível, já que cada individualidade traz concepções diferentes para a mesma história. 

“Isso pode ser fantástico ou desastroso. Cabe trabalhar para ter um diálogo aberto com os outros profissionais. Mas quando isso não é possível, é trabalhar no desapego e focar que nos tempos atuais, ter um roteiro que vai ser produzido já é uma vitória”, completa.

 

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