Cachoeiras do Maciço de Baturité são mapeadas em livro e comprovam encanto da beleza natural do CE
Publicada pela Fundação Waldemar Alcântara, obra é resultado de expedição realizada em 2022 com ênfase na biodiversidade e nos diferentes fascínios da região
Deslumbrantes ou singelas, com lajedos ou cavernas, lendárias ou simplesmente bonitas. Cachoeiras são parte da paisagem cearense e nunca deixam de encantar. A boa notícia é que estão pertinho e vão além do banho refrescante ou da beleza descomunal. Apontam para algo maior, relacionado à riqueza natural do Estado e à necessidade de preservação.
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São detalhes encontrados em “Cachoeiras do Maciço de Baturité”, livro publicado e realizado pela Fundação Waldemar Alcântara com recorte específico sobre o lugar em questão. Registros de 13 quedas d’água dão conta de expressar a magnitude do território – apesar de simbolizar apenas parte das cachoeiras do entorno.
“Isso sugere até a possibilidade de ampliação da obra futuramente”, prevê o professor e historiador Levi Jucá. Segundo ele, uma equipe composta de guias locais e fotógrafos contratados pela Fundação mapeou as treze, sob o critério de serem consideradas as mais representativas, conhecidas e acessíveis.
Municípios como Aratuba, Mulungu e Redenção não foram incluídos na edição, mas também possuem importantes exemplares de cachoeiras. Entre as que entraram na conta agora, estão a Cachoeira do Amor, no Sítio Cipó, em Baturité; a Cachoeira Redonda, no Sítio Limeira, em Mulungu; e a Cachoeira do Cruz, no Sítio Cruz, em Guaramiranga.
“Cachoeiras alertam sobretudo para a necessidade da preservação do patrimônio natural aquífero – nosso maior bem, posto que sua existência é garantia de vida”, avalia Levi. No livro, ele assina o texto “Águas passadas movem moinhos: Por Uma História Ambiental da Serra de Baturité”, em que reflete sobre o valor dessas joias.
“Expressei o quanto elas representam para a história e a relevância da Serra de Baturité, primeira e maior Área de Proteção Ambiental - APA do Ceará. Os rios Pacoti e Aracoiaba, além de seus afluentes, ajudam a abastecer Fortaleza e Zona Metropolitana. Portanto, reverenciar as cachoeiras, para além de suas belezas, é lembrar da necessidade de preservação para garantir a rica biodiversidade local e a segurança hídrica de muitos cearenses”.
Mostrar mais o Ceará
Uma das organizadoras do livro, Sílvia Furtado corrobora a ideia de Levi. A publicação, pensada e produzida em 2022, faz parte de um propósito alimentado ao longo dos 40 anos de existência da Fundação Waldemar Alcântara: mostrar mais o Ceará. “Um território já conhecido por suas praias e sertões, e que abrange ainda serras, matas, rios e veios d’água”.
De acordo com ela, entre as 13 fotografias da obra, 12 foram feitas por Janderson da Silva Lima e uma por Marcos Campos Sales. Há ainda dois textos de apresentação, com foco na história da região e na importância de cuidar do meio ambiente. Em resumo, um panorama completo para exaltar nossa fartura.
“Com esse livro em tamanho de fácil manuseio queremos que o leitor sinta-se motivado a conhecer o Maciço e a admirar as belezas naturais que ainda sobrevivem, apesar da especulação imobiliária”, tensiona. Esse também é o principal desejo de Levi Jucá para o título: que não seja apenas lido, mas experimentado.
“Isso porque o próprio livro sugere a presença da localização geográfica de cada cachoeira através de QR Code, sugerindo ao leitor que possa visitá-las. A versão digital do livro pode ser acessada e baixada gratuitamente através do site da Fundação Waldemar Alcântara”.
Por que tão importantes
Por fim, para além do já apresentado, por que as cachoeiras são tão importantes? De que forma elas desenham a estrutura natural do Ceará? E qual a mais representativa? Para Levi, a mais emblemática é a Bica do Ipu, ao sul do Planalto da Ibiapaba, na qual Alencar fez Iracema se banhar.
“Pela elevada altitude, e a formação da cuesta/Chapada, é a nossa ‘véu de noiva’ cearense”, sublinha. Por sinal, mesmo predominando no Estado as planícies sertanejas, alguns rios correm pelo sertão, encontrando desníveis no terreno e formando o que alguns sertanejos também chamam de pequenas cachoeiras.
É o caso de um distrito da zona rural de Maranguape, de nome Cachoeira. Ele tinha essa formação no riacho que atravessa a localidade, mas infelizmente o lajedo foi praticamente descaracterizado sob uma ponte moderna construída ali, apagando a identidade do topônimo local, no curso da rodovia que leva à Palmácia.
“Pela história e memória pesquisada, sabemos o quão mais pujantes e límpidos já foram esses cursos d'água. O que nos leva a alertar sobre os graves problemas do presente, como a poluição via lançamentos de efluentes (esgotos), o desmatamento e a perfuração indiscriminada de poços profundos que matam nascentes, além da especulação imobiliária”.