Casal do Mato Grosso viralizou nas redes sociais após ato falho; agora, além de lidar com o alcance da declaração, querem viver a dois com a ventura de quem se gosta
Todo mundo atento. A tarde já virava noite. Crianças faziam silêncio e adultos disfarçavam lágrima. O lugar, idílico, completava o panorama forjado para marcar. E marcou. Assim como o instante em que Amanda Ribeiro Leite tropeçou nas próprias palavras e deu novo contorno à própria cerimônia de casamento. Cometeu gafe homérica.
No instante dos votos, trocou “Até que a morte nos separe” por “Até que a sorte nos separe”. Desandou a rir, claro. O celebrante não ficou por baixo. Engatou um “Tá amarrado” em meio ao gracejo. Estava pronto o viral: apesar de o evento ter acontecido em outubro de 2023, apenas nas últimas semanas ganhou as redes sociais. E tem gerado o mesmo efeito.
Nos comentários, as pessoas gargalham, se veem na mesma situação. “Tadinha, ela tava nervosa”, diz uma. “Profetizou com bom humor”, arrisca outro. A primeira está mais alinhada ao que realmente houve. Amanda confessa: “Acredito que isso tem um motivo pra ter ocorrido. Não é certeza, mas tenho uma suspeita”.
Retorna à infância e à adolescência, quando assistia aos filmes da franquia “Até que a sorte nos separe”, protagonizada por Leandro Hassum. Gostava tanto que chegou a ver todos várias vezes, cravando na memória o título dos benditos. Levá-los para o altar foi atitude quase natural, embora impensável. Quem diria que aquilo ia ter tanto alcance?
Mais: quem diria que pudesse oportunizar reflexões sobre o amor? Sim, porque cada romance tem uma dose de ventura. É sempre aposta, risco, lance. Sorte mesmo, segundo a fotógrafa mato-grossense, tem aquele que um dia encontra a própria pareia. “Por mais que passem muitas pessoas na vida, uma é sua”.
Foi assim com ela e com Pedro – o rapaz que igualmente soltou risada no instante da gafe no altar. Tornava-se esposo. Conheceram-se em 2018, ambos com 14 anos de idade, e logo se tornaram melhores amigos. Pudera: descobriram ter praticamente os mesmos sobrenomes, embora sem nenhum parentesco em comum.
Estavam lá, grafados na placa com os nomes de todos os estudantes no início do ano letivo: Amanda Ribeiro Leite e Pedro Bonfá Ribeiro Leite. A partir daí, tudo é história. Foram anos de amizade até perceberem a profunda e inesperada conexão ganhar outra face. Uma desejosa de ficar mais perto, galgar os mesmos sonhos, dividir o mesmo lar. Coisa de sorte?
“Não acredito em destino, não. A gente o traça, a gente o conquista. Já o amor pra mim é companheirismo e, principalmente, respeito. Pedro me respeita muito. Tanto é que um ponto importante foi a gente ter relação sexual só depois do casamento – uma prova de amor que hoje em dia é muito difícil de encontrar”.
Por outro lado, não deixa de ser curioso o ato falho no dia do casamento. Tem explicação científica. Jacques Lacan, psicanalista francês, dizia que a troca de uma palavra por outra é um lapso, uma interpretação. O próprio fundamento da interpretação supõe que há desejo.
Trocamos uma palavra por outra e nós mesmos procuramos o sentido do que foi aquilo, relacionando com um determinado fato – e continuamos associando e dando novos sentidos. Esse fato de estrutura mostra que um evento psíquico pode ter várias interpretações.
Independentemente da ciência e do deslize vocabular, Amanda escolhe acreditar no amanhã construído pouco a pouco no hoje. Observa a casa dela e de Pedro em Cáceres, município do interior de Mato Grosso, e imagina evoluções. Pretendem ter filhos, avançar na profissão, quem sabe mudar de cidade para uma em que tenha mar.
Almejam continuar dividindo carinho, escuta atenta, os mesmos anseios e necessidades. A fala voraz de um e o comportamento pacato do outro querem equilibrar também. Manter a sintonia. E prospectar que tudo isso pode acontecer logo ali, no alvorecer das próximas primaveras. São novos, têm apenas 20 anos de idade. São esfomeados pela vida.
Isso também é sorte.
Esta é a história de amor de Amanda Ribeiro Leite e Pedro Bonfá Ribeiro Leite. Envie a sua também para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor.
*O texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor