Mais de R$ 11,2 bi em receita e R$ 2 bi em lucros: o impacto da Economia Criativa no Ceará

Dados foram divulgados pelo Observatório Itaú Cultural nesta segunda-feira (10) e servem como indicadores para fortalecer o setor no Estado e no País

Escrito por Diego Barbosa* , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Em 2021, o total de negócios da economia criativa no Ceará foi de 4.403; setor engloba segmentos como cinema, rádio, TV e música
Foto: Thiago Gadelha

Empresas criativas cearenses geraram, no ano de 2020, mais de R$11,2 bilhões em receita e cerca de R$2 bilhões em lucros. É o que apontam dados divulgados pelo Observatório Itaú Cultural nesta segunda-feira (10). Na ocasião, foi lançada a plataforma de mensuração do PIB (Produto Interno Bruto) da Cultura e Indústrias Criativas (Ecic) no Brasil. 

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Inédita, a ferramenta consolida a necessidade de encarar o PIB da economia da cultura e das indústrias criativas como espectro importante da Economia do País. No caso do Ceará, para se ter uma ideia, em 2021 o total de negócios da economia criativa foi de 4.403

Os indicadores fortalecem o setor no Estado e no País, ao mesmo tempo que apontam novas prerrogativas e soluções para maior desenvolvimento na área.

Há outros dados pertinentes envolvendo o panorama cearense. Considerando o quarto trimestre de 2022, quem trabalhou com a economia da cultura e indústrias criativas (8% do total de trabalhadores do Estado, o que representa mais de 314 mil pessoas) teve remuneração média de R$1.885; a média estadual, por sua vez, ficou em R$1.776 – realidade semelhante se compararmos dados nacionais.

Legenda: Considerando o quarto trimestre de 2022, mais de 314 mil pessoas trabalharam com Cultura no Ceará
Foto: Thiago Gadelha

Tomando como recorte o mesmo período, o total de pessoas ocupadas na economia brasileira era de 99,3 milhões. Destes, 7% eram trabalhadores da economia criativa. Já a remuneração média dos integrantes do setor ficou por volta de R$4.180 – 49% maior que a remuneração média da economia nacional (R$2.808).

Mais informações sobre o recente estudo do Itaú Cultural podem ser vistos no Painel de Dados do Observatório da instituição.

Moda em destaque

Tanto no Ceará quanto no Brasil, a Moda detém a maior quantidade de empresas do setor de economia criativa. Em 2021, dos 130.052 negócios envolvidos com Cultura no País, 50.084 pertencem a projetos envolvendo esse recorte de produção.

Em solo cearense, mesmo movimento: as categorias setoriais que compõem mais de 75% da quantidade de empresas criativas são Moda (57% do total), Publicidade e Serviços Empresariais (14%) e Demais Serviços de Tecnologia da Informação (6%).

Legenda: No Ceará, a categoria setorial que se destaca na quantidade de empresas criativas é a Moda (57% do total)
Foto: Thiago Gadelha

No geral, a riqueza produzida no Ceará por meio de atividades ligadas ao setor criativo representou 0,45% do PIB do Estado em 2020. O número chega próximo ao do Nordeste diante do panorama brasileiro. 

A região fechou o cálculo em 0,5% do PIB nacional, sendo a segunda menor contribuição do País – à frente apenas da Região Norte, com 0,3%. O PIB (Produto Interno Bruto) representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região durante um período determinado. É um dos indicadores mais utilizados com o objetivo de quantificar a atividade econômica de um território. 

Em coletiva de imprensa realizada na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, pesquisadores apresentaram e debateram o tema. Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, e Leandro Valiati, professor pesquisador da University of Manchester e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esmiuçaram o contexto do estudo pioneiro.

Legenda: Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú
Foto: Bruno Poletti

“Acredito que esse trabalho de construção de uma lógica de mensuração organizada sobre um elemento específico, que é a Economia da Cultura e Indústrias Criativas, é uma atividade de real transferência de conhecimento. E acho que, fundamentalmente, as políticas públicas para as indústrias criativas e a Economia da Cultura, dependem de um ecossistema”, sublinhou Leandro Valiati.

Já Eduardo Saron afirmou que o PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas do Observatório Itaú Cultural foi elaborado principalmente a partir do critério de renda, englobando massa salarial, massa de lucros e outros rendimentos auferidos por empresas e indivíduos no país.  Além disso, ele destacou o porquê de os dados serem relativos a 2020.

“Vai até esse ano porque consideramos os microdados que o IBGE libera. Como o órgão tem um tempo para liberar esse conteúdo, queríamos lançar o PIB da Cultura no final do ano passado, mas esperamos alguns meses a mais para incluir 2020. Agora, estamos atentos: certamente, no final de 2023, o IBGE libera os dados de 2021 e, naturalmente, vamos trabalhar nisso”.

Para a formulação do modelo foram considerados como indústrias criativas os segmentos de moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.  

Crescimento acelerado

O primeiro levantamento do Observatório Itaú Cultural com a metodologia mostra que o PIB da Economia da Cultura e Indústrias Criativas (ECIC) vem crescendo de forma mais acelerada que o total da geração de riquezas no país nos últimos anos. 

De 2012 a 2020, o PIB dos segmentos criativos, em números absolutos, experimentou crescimento de 78%, enquanto a economia total do país avançou 55%. A participação do PIB da ECIC era de 2,72%, em 2012, e saltou para 3,11%, em 2020.  

Questionados sobre o porquê desses dados – uma vez que, sobretudo na última gestão, o Brasil sofreu uma tentativa de desmantelamento da Cultura por parte do Governo Federal – os estudiosos foram enfáticos.

Legenda: Leandro Valiati, professor pesquisador da University of Manchester e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Foto: Bruno Poletti

“O número de 2020 apontando crescimento ainda não engloba muitas empresas que fecharam devido à falta de suporte público, ou seja, não engloba muito da diminuição do incentivo federal à cultura. Talvez  isso vá aparecer, de forma mais forte, junto ao efeito da pandemia, o que é mais grave ainda”, explicou Leandro Valiati.

Para 2022, argumenta-se que a recuperação pós-pandemia do setor cultural fará com que a representação deste aumente, o que pode ser interpretado como uma contribuição sólida para o crescimento da economia brasileira. 

Porém, e apesar dos avanços em matéria de reconhecimento da importância da Ecic nos últimos anos, o estudo realizado pelo Itaú mostra que esses avanços não necessariamente se traduziram em melhores estatísticas para o setor, demandando novos desafios pela frente.


*O repórter viajou a convite do Itaú Cultural

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