Você sabe como orientar as crianças sobre a prevenção do abuso infantil?

Mas o que devo dizer? Como orientar? Por onde começar? São algumas das principais questões entre pais e cuidadores

Legenda: Construir uma relação de confiança é fundamental para prevenir abusos
Foto: Shutterstock

Estamos no maio laranja, campanha que tem o objetivo de conscientizar sobre o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Os dados infelizmente só crescem e são alarmantes. Pesquisas revelam que a cada hora, 3 ou 4 crianças são vítimas de violência sexual no Brasil. E o que é mais revoltante, é que 50% das vítimas são crianças de até 5 anos.

Sabemos que é um assunto delicado e muitas famílias apresentam dúvidas, dificuldades e bloqueios sobre como orientar as crianças. Qual o momento e idade adequada para iniciar esse o assunto com os pequenos?

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Para o combate, é necessário orientar as crianças sobre ferramentas de proteção do abuso sexual infantil, desde cedo. Claro que devemos adaptar as orientações para o entendimento e maturidade de cada criança, pois é um assunto que deve ser abordado com sensibilidade e cuidado. Todavia, já a partir dos 2 anos, podemos iniciar alguns ensinamentos para que a criança aprenda a nomear as partes do corpinho, falar de si sem constrangimento, podemos explicar sobre limites, o toque permitido e o inadequado, e falar sobre contar e confiar nos adultos de sua rede de proteção.

Explicar para as crianças sobre as partes do corpo

Devemos iniciar as orientações ensinando aos pequenos sobre as partes íntimas. Pontuar que nosso corpo é muito importante e especial, que temos partes que são tão importantes que devem ser protegidas, com peças de roupas íntimas. Afirme que ninguém pode mexer no corpinho deles e nem as crianças devem mexer nas partes íntimas do outro.

Explique que só quem pode mexer nessas partes importantes, são a mamãe e o papai, e somente para limpar ou passar remédios, assegure que são toques rápidos e que não precisa ficar nada em SEGREDO. Sobre outros profissionais, como pediatras ou outros médicos, se for necessário avaliar seu corpinho, deve ser na presença da família. Para explicar na linguagem das crianças, se utilizem de imagens, historinhas, bonequinhos, elas são concretas e visuais, aprendem muito através do lúdico.

 Pontuar a importância de dizer “Não” 

Devemos ensinar nossas crianças a reagir e falar em situações de risco. Orientem que se alguém quiser mexer, colocar a mão, brincar, acariciar ou fazer cócegas nessas partes do corpo, a criança deve dizer NÃO, ou até mesmo gritar. Os abusadores não esperam que as crianças reajam ou gritem, portanto, devemos ensiná-los a se afastar, correr e alarmar a todos. Outro ponto importante, é explicar para os pequenos que mesmo que alguém que conheçam os peça para beijar, fazer carinho ou tocar nas partes íntimas, isso está errado. Pontue que se alguém faz isso e pede segredo, ela não é uma pessoa boa e não quer o bem dos pequenos.

Contar para algum adulto de confiança

Oriente a criança a contar qualquer coisa que as deixe desconfortável. Fale que não são culpados por nada de errado que possa acontecer com elas e que podem compartilhar suas preocupações e experiências. O mais importante aqui não é apenas falar, mas realmente construir uma relação de confiança com as crianças. Se vivem em um ambiente familiar no qual levam broncas ou castigos por qualquer coisa que façam, certamente terão medo de contar alguma experiência de abuso. Portanto, desenvolvam o hábito de conversar sobre os sentimentos, e de acolher as crianças. Crie um ambiente onde os pequenos sintam que são ouvidos, respeitados e protegidos.

Importância da psicoeducação e sexualidade 

Sabemos que infelizmente as consequências do abuso são devastadoras e os efeitos negativos podem se manter por toda a vida. Podendo afetar a autoestima, a confiança da criança nas pessoas, os relacionamentos futuros e estimular comportamentos autodestrutivos. Por isso, essa psicoeducação sobre questões sexuais, é um papel importante da família, da escola e sociedade.

Precisamos entender que para além de utilizar recursos e materiais de orientações, devemos conversar na prática do dia a dia com nossas crianças, sem tabus, respeitando a linguagem adequada de cada uma. Uma vez que estão em desenvolvimento e tem um entendimento limitado sobre esses assuntos. E lembrem-se se for necessário, não deixem de buscar um profissional infantil com experiência no assunto para avaliar a criança e dar o suporte necessário para a família.

Quando uma criança é ferida, uma parte importante do futuro da humanidade é perdida
Alice Miller
Psicóloga

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.