Traços infantis: O que esta por trás dos desenhos das crianças?

O desenho é uma ferramenta terapêutica de investigação riquíssima

Legenda: Os pais devem estimular o desenho das crianças como uma forma de expressão do que sentem e vivenciam
Foto: Shutterstock

Quando pensamos em atividade lúdica, é inevitável pensarmos em papel, lápis de cor e tintas. Mas você sabia que o desenho infantil não é apenas uma atividade lúdica? Os traços infantis são uma forma de comunicação, que nos diz muito sobre o psiquismo das crianças. Através deles, os pequenos projetam sua percepção de mundo, seu universo interno. Por meio do que muitos acham que são apenas rabiscos, conseguimos entender e observar o desenvolvimento cognitivo, psicomotor, e emocional das crianças.

Vários teóricos como Piaget, Vygotsky e psicanalistas desenvolveram pesquisas e teorias que interpretam e explicam as fases do desenvolvimento infantil através dos desenhos. Alguns afirmam que o desenho é um preparo para o próprio desenvolvimento da escrita, outros como Piaget, dividem o desenvolvimento do desenho infantil em fases, conforme o desenvolvimento do psiquismo infantil.

Entretanto, além de identificarmos o desenvolvimento infantil, o desenho é uma ferramenta terapêutica de investigação riquíssima, na qual conseguimos acessar o que a criança não consegue expressar através das palavras.

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Existem vários testes psicológicos projetivos, nos quais, por meio dos desenhos conseguimos perceber questões emocionais não elaboradas, traumas, relacionamentos familiares conflituosos, medos, possíveis transtornos como ansiedade e depressão, tendências obsessivas, possíveis abusos que a criança sofreu ou esteja sofrendo.

E como perceber essas questões emocionais? Quando devo me preocupar com os desenhos do meu filho?

Antes de tudo, é importante entender que uma avaliação nunca pode ser feita somente a partir de um desenho. Para chegar a algum diagnóstico, são necessários outros testes, bem como, saber sobre a história de vida e contexto em que a criança está inserida. Ademais, essa análise é feita por profissionais especializados em psicologia infantil.

Porém, os pais, professores e adultos que convivem com a criança, podem ficar atentos a alguns aspectos dos desenhos e encaminhá-los para investigação.

Para interpretarmos, devemos levar em consideração, vários elementos do desenho, como: as formas, os traçados, o significado das cores, o tamanho, a posição na folha, o simbolismo que está por trás das imagens.

Alguns aspectos que devemos observar:

  • A disposição das pessoas no desenho da família - vamos imaginar que uma criança desenha uma família, e a mesma tem conflitos com a mãe. Pode ocorrer de na produção dessa criança, a imagem da mãe, vir um pouco mais distante que a da filha, ou percebemos traços incompletos, como ausência das mãos (considerando que a criança já sabe desenhar), ou braços mais curtos, podendo indicar falta de afetividade. Outro exemplo: Uma criança que tem ciúmes dos irmãos, normalmente desenha somente a si própria com os pais. E quando perguntamos sobre o irmão, ela pode dizer que está dormindo ou passeando.

Ou, ainda, vamos imaginar uma criança que passou por algum abuso, pode ser que desenhe a figura abusadora deitada com ela na cama, ou com suas mãos em seu corpo.

  • As cores - se a criança tem possibilidade de escolher várias cores e só escolhe cores mais escuras, como vermelho ou preto, isso pode representar alguma ansiedade ou agressividade que a criança está vivenciando externamente ou internamente. Cores fortes também representam medos.
     
  • Conteúdos inadequados para a idade - se criança representa violência extrema, pode também ser motivo de preocupação. Pode indicar que está sendo exposta a esse tipo de conteúdo, ou que está lidando com emoções difíceis que não consegue elaborar.

Os elementos dos desenhos são inúmeros, as variações são diversas e claro que tudo deve analisado considerando a subjetividade de cada criança. Mas o que eu gostaria de ressaltar para os pais é que valorizem esse universo das crianças.

Estimulem a criatividade e a expressão através dos desenhos. Se seu filho não consegue verbalizar sobre um pesadelo que teve, sobre seu dia ruim na escola ou sobre sua relação com os amigos, peça-o para desenhar e converse sobre o desenho, peça-o para contar uma história sobre o desenho, explore-o com ele.

Vocês verão o quanto de conteúdo sobre as emoções e o quanto de conexão vocês conseguirão com seus pequenos. Afinal, desenhar é comunicar algo. Como disse Le Corbusier “Prefiro desenhar do que falar. Desenhar é mais rápido e deixa menos espaço para mentiras ”.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.

 



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