Disputa de Sílvio Santos com Zé Celso por terreno inspirou personagem do Castelo Rá-Tim-Bum

Dr. Abobrinha foi inspirado em briga vivida pelo apresentador e o dramaturgo Zé Celso; área disputada deve virar parque

Escrito por Redação ,
Dr Abobrinha, interpretado por Pascoal da Conceição, foi inspirado na disputa por terreno em São Paulo. Silvio Santos desejava construir um superprédio em área de teatro
Legenda: Dr Abobrinha, interpretado por Pascoal da Conceição, foi inspirado na disputa por terreno em São Paulo. Silvio Santos desejava construir um superprédio em área de teatro
Foto: TV Cultura/ Divulgação

Uma disputa judicial que perdurou por mais de 40 anos, protagonizada pelo apresentador e empresário Sílvio Santos com o dramaturgo Zé Celso Martinez, por um terreno no bairro da Bela Vista, na região central de São Paulo, inspirou um personagem que permeia a memória afetiva de uma geração, o Doutor Abobrinha, do Castelo Rá-Tim-Bum, exibido pela TV Cultura nos anos 1990.

Na trama, Abobrinha, um corretor imobiliário, tenta, a todo custo, adquirir o castelo que dá nome ao seriado de televisão, para que possa construir um prédio de 100 andares no lugar. Na vida real, Sílvio, que morreu neste sábado (17), queria colocar de pé, num terreno ao lado do Teatro Oficina Uzyna Uzona, gerido por Zé Celso e sua trupe, três prédios de 100 metros de altura.

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A inspiração foi admitida pelo ator Pascoal da Conceição, em entrevista concedida à GloboNews, em julho do ano passado, quando da morte de Zé Celso. O artista interpretou o personagem e era amigo do dramaturgo. Segundo ele, a história vivida pelo corretor fictício era “totalmente inspirada” na briga pela área.

O terreno em questão pertencia ao Grupo Sílvio Santos desde a década de 1980. Já a atual sede do Oficina foi projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi. Entre os argumentos apresentados pelo encenador era de que a construção das edificações que Sílvio queria prejudicaria as atividades do espaço cultural e desconfiguraria o que foi idealizado pela arquiteta.

O prédio onde funciona o Teatro Oficina é tombado pelo patrimônio histórico nas esferas federal, estadual e municipal desde 2010, quando o Grupo Sílvio Santos tentou executar o projeto das três torres residenciais no terreno vizinho.

Parque do Bixiga e fim da briga

Silvio e Zé Celso
Legenda: Sílvio Santos e Zé Celso durante encontro, em 2017
Foto: Teatro Oficina / Reprodução

Em 2017, Sílvio e Zé Celso tiveram novos encontros para resolver o impasse sobre a utilização da área. Na época, foi proposta a construção do Parque do Bixiga, recuperando o rio que existia na região antes da ocupação urbana.

Já em dezembro de 2023, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) anunciou que iria destinar um montante de R$ 51 milhões para a construção do equipamento público, após a assinatura de um termo com uma universidade privada que seria processada pela suspeita de pagamento de propina.

Em maio deste ano, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a criação do Parque do Bixiga, pondo fim ao imbróglio. Quando da aprovação da proposição, vereadores opinaram que o local deveria homenagear Zé Celso, outros defendiam uma homenagem a Sílvio Santos.

E, na última segunda-feira (12), conforme publicou o g1, a instituição de ensino que formalizou acordo com o MP-SP entregou um cheque no valor de R$ 65 milhões à Prefeitura de São Paulo, para o Poder Público adquirir o terreno disputado por Sílvio e Martinez.

Neste sábado, o Teatro Oficina publicou um registro em vídeo de um dos encontros entre Zé Celso e Sílvio. A publicação veio acompanhada de uma longa legenda, que lembra a briga pelo terreno e as potencialidades colocadas em jogo por ambos os lados.

“Ao longo de mais de 4 décadas, a luta por um espaço público no centro da cidade de São Paulo incorporou características e forças de dois grandes jogadores dessa história: Zé Celso e o Teatro Oficina ofereceram a teatralidade, a concepção trágica dos acontecimentos, a sabedoria da atuação em coros-coletiva, a busca pela ação e a incansável alegria guerreira como ferramenta política. Silvio Santos e seu conglomerado de mídia trouxeram a dimensão da comunicação em larga escala desse processo”, diz um trecho do texto.

A postagem também evidencia, por meio de paralelos com a mitologia grega, o antagonismo entre as duas figuras. E finaliza celebrando Sílvio: “Celebramos as forças não messiânicas da contracenação em todas as lutas e a tecnologia que o teatro nos dá para olhar desassombradamente para os antagonistas. Celebramos esse antagonista e o jogo que jogamos. É do teatro”.

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