'Bora pra Cima': a imagem calculada de Virgínia Fonseca para a CPI das Bets

Figura central da discussão, seu look, maquiagem e comportamento mostram bem como uma imagem estratégica pode comunicar além do que se diz

Escrito por
Elaine Quinderé verso@svm.com.br
(Atualizado às 11:45)
Legenda: Imagem de Virgínia construída no depoimento teve pouco ou nenhum compromisso com o ambiente sério que a CPI deveria evoca
Foto: Reprodução

A influencer está no banco dos réus: é o espetáculo de Virgínia Fonseca na CPI das Bets.

A presença da influenciadora Virgínia Fonseca na CPI das Bets significou menos que uma contribuição para o esclarecimento de possíveis esquemas envolvendo casas de apostas, e mais uma aula sobre como transformar uma investigação parlamentar em mais um capítulo do show business digital. O que se viu no Senado foi um desfile cuidadosamente roteirizado de imagem pessoal, com direito a moletom temático, bordões de autoajuda e selfies no plenário.

Muito diferente de como costuma aparecer nas redes sociais, Virgínia pareceu mais preocupada em manter sua persona de "mãe influente e empresária bem-humorada" do que em esclarecer qualquer responsabilidade. Seu look foi uma escolha simbólica e nada ingênua: um moletom preto estampado com o rosto da filha. Além disso, uma maquiagem simples que deixava à mostra suas espinhas, acessórios delicados, postura curvada… uma verdadeira adolescente.

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Infantilização estratégica? Sem dúvida. A tentativa foi límpida como água: deslocar a narrativa da influenciadora como agente de influência num mercado bilionário e problemático para a figura da “mãe amorosa” e, também, “injustiçada”.

A imagem construída no depoimento, com direito a sorrisos largos e frases como “Bora pra cima”, teve pouco ou nenhum compromisso com o ambiente sério que a CPI deveria evocar. Não se enganem: há uma lógica por trás de todo esse teatro.

Na imagem, Virginia Fonseca nas redes sociais
Legenda: Virgínia apareceu na CPI muito diferente de como costuma aparecer nas próprias redes sociais
Foto: Reprodução/Redes sociais

Ao adotar esse tom leve e despretensioso, Virgínia tenta blindar sua imagem diante de um público que, em boa parte, nem sabe o que é uma CPI. Seu comportamento só reforça a ideia de que na era da superexposição, a crise de imagem é apenas mais uma oportunidade de engajamento.

Isso tudo fortalece a importância de uma imagem estratégica. A pergunta a se fazer é: que estratégia e desejo de imagem você quer para si? A que te alavanca e te coloca como protagonista ou a que te faz ser mal vista? E não, elas não são excludentes entre si.

Na imagem, a influenciadora Virginia Fonseca nas redes sociais
Legenda: NA CPI, Virginia deslocou a narrativa de influenciadora num mercado bilionário e problemático para a figura da “mãe amorosa” e “injustiçada”
Foto: Reprodução/Redes sociais

A estratégia de Virgínia, embora muito eficaz, revela um cinismo gritante. Enquanto o país discute o impacto social das apostas online, especialmente entre jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade, uma das principais divulgadoras desse mercado usa a tribuna do Senado como palco para autopromoção.

O que deveria ser um momento de responsabilidade pública se transformou em mais um ato performático — com um figurino muito bem pensado — de quem aprendeu a monetizar até o constrangimento.

 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora