Dia dos Avós: conheça a história intergeracional de dona Clélia, cearense de 104 anos

Celebrado neste domingo (26), Dia dos Avós é data oportuna para revitalizar saberes e afetos compartilhados em família. Diante dos vários frutos que gerou, a história de Clélia Prata, de 104 anos, é exemplo concreto de carinho ininterrupto dedicado aos filhos, netos e bisnetos

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Imagem: Mário Fábio
Legenda: Da esquerda para a direita, Celma Prata, dona Clélia, Lis e Camila Bitar: laços de união e amor reforçados por um companheirismo que desconhece limites para acontecer
Foto: Mário Fábio

Não faz tanto tempo, mas essa já é uma querida lembrança guardada pela jornalista Camila Bitar. Há cerca de seis anos, quando estava grávida do primeiro filho, Theo, aconteceu um encontro especial de vários que se seguiriam na intenção de celebrar a vida e a companhia de Clélia Prata, sua avó.

“Minha mãe teve a ideia de criar o ‘Sarau da Pratinha’, que seria uma reunião na casa da vovó, às terças-feiras, com o intuito de fazer o que ela mais gosta: cantar, declamar poesias e se deliciar com lanches maravilhosos – tendo tapioca, café fresquinho e queijo coalho assado. É uma alegria só!”, detalha a neta.

Por conta da pandemia do novo coronavírus, há meses o sarau não acontece – fazendo com que a saudade seja amenizada a partir de videochamadas e envio, pela internet, das peripécias dos pequenos Theo, de cinco anos, e Lis, de dois, filhos de Camila.

De certa forma, apesar da distância física, esse é um compromisso com dona Clélia que se renova. Aos 104 anos, ela ama todo esse movimento.

“Para mim, é um privilégio sem tamanho poder conviver com uma pessoa dessa idade, alegre e lúcida”, festeja a jornalista cearense.

Neste domingo (26), Dia dos Avós, todos esses aprendizados e carinhos, recebidos e compartilhados de geração em geração, ganham maior fôlego na história da família de Camila e de tantas outras Brasis afora. É quando há um colorido a mais pairando sobre pessoas consideradas símbolos de vigor, afeto e cuidado.

Imagem: Mário Fábio
Legenda: Dona Clélia Prata segura a bisneta, Lis. O vestido do batizado, objeto querido, atravessa gerações
Foto: Mário Fábio

No caso de dona Clélia, merece destaque, além da longevidade, o fato de sempre ter estado à frente de seu tempo. Desde jovem, foi uma incentivadora da literatura, formando-se aos 26 anos como professora e alfabetizando centenas de pessoas. Até hoje, a extrema dedicação ao ofício das letras faz com que ela não esqueça as poesias preferidas, recitadas de cor, vislumbre da força que carrega em si.

Segundo Camila, é uma felicidade experimentar essa sabedoria e constatar que muito desse encantamento vem da união da família, do compromisso de passar à frente ricos e diferentes saberes. “Não precisamos de motivos especiais para nos encontrarmos. E credito isso tudo aos meus pais, que são super agregadores e incentivaram essa característica em casa. Com isso, acabo transmitindo aos meus filhos, até inconscientemente, que família é sempre prioridade”.

Perpetuação

A mãe de Camila, Celma Prata – escritora, autora do romance “O segredo da boneca russa" (Editora Sete) e também jornalista – reitera o sentimento. Com dona Clélia, além do amor pela leitura, tendo em vista ser também poeta e contista, ela aprendeu valores humanos de respeito ao outro, transmitindo-os aos dois filhos. “A convivência com a família, além de prazerosa, também é um hábito a ser incentivado”, acredita.

Dentre os inúmeros momentos e experiências divididos, há igualmente vários objetos que se traduzem como perpetuação do amor geracional, além-barreiras. Um de grande valor afetivo para os membros da família é a roupa de batizado que foi usada pela irmã de Celma, Thereza; em seguida, por ela mesma; trinta anos depois, pela filha, Camila; e, mais recentemente, pela neta, Lis.

Imagem: Arquivo Pessoal
Legenda: O amor pela leitura e os valores humanos de respeito para com o outro são saberes passados por dona Clélia Prata à família
Foto: Arquivo pessoal

E como é assumir esse outro posto, estando de um lado diferente, experimentando também a sensação de ser avó? Nesse ponto, Celma Prata é enfática:

“É como todo mundo fala mesmo: Maravilhoso! Há cinco anos, minha vida ampliou o significado de felicidade. Sou uma vovó brincalhona e contadora de histórias. Crio narrativas dentro do universo deles, uma forma de passar valores que considero importantes. Meu neto me pede para repetir a mesma historinha mil vezes. Eu sempre acrescento algo”.

Apego

O pequeno Theo, com a meia década de idade que exibe, já é mestre em garantir bons momentos, automaticamente transformados, pelos parentes, em alegres memórias. Num dos encontros familiares na casa de dona Clélia, o menino, à época com 4 anos, perguntou à Celma, emocionado: ‘Vovó, quando a bisa virar uma estrelinha, a gente ainda vai vir pra cá?’. Segundo a escritora, a reflexão infantil comoveu pelo entendimento sobre o valor do convívio entre os pares. 

“Esse afastamento social que estamos atravessando por conta da pandemia pode ser um grande aprendizado. Procuramos transmitir a eles a importância de cuidar de si e dos outros. E a gente vai driblando a saudade com chamadas de vídeo”.

Camila Bitar percebe que, apesar dos mais de 100 anos que separam bisavó e bisnetos, há uma troca muito grande entre eles capaz de fazer com que, da rica interação, surjam novas perspectivas acerca da existência para todas as partes envolvidas. “Minha avó se diverte com a ‘bagunça boa’ que eles fazem às terças, no ‘Sarau’. E é de tudo, desde pintar até jogar bola com ela. É lindo de ver. Acredito que uma grande lição, com certeza, é o carinho e o respeito com os idosos”.

Em casa, unidos – mesmo que, por enquanto, somente à distância – tudo isso se converte em ainda maior magia e beleza. É maneira possível de seguir comemorando o Dia dos Avós com a convicção de que, independentemente do contexto, há amor e abraço nas histórias que desafiam o tempo. Elas seguem, inspiradoras, no coração e nas trilhas da vida, sempre adiante. Neste domingo, qual narrativa com seus avós você quer contar?

> SAIBA MAIS: Homenagem

A tradicional missa transmitida ao vivo pela TV Diário aos domingos, às 18h, terá um gosto especial neste dia 26. A celebração será em ação de graças pelo Dia dos Avós. Padre Eugênio Pacelli, presidente da Santa Missa, explica que a data faz referência à festa de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus. “Desde o início do pontificado, o Papa Francisco valoriza a presença dos avós na vida da família. Ele chega a dizer que a oração dos idosos é um dom para a Igreja”, afirma o sacerdote. “O momento será, então, de agradecer pelo dom de todos os nossos avós”. A transmissão acontece pelos canais: Oi TV (129), Vivo HD (322.1), Sky HD (323.1), Multiplay (522), Net (22), em Fortaleza, e 183 nos outros Estados.

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