De cupins a problemas mecânicos: pianos do Theatro José de Alencar estão danificados e indisponíveis

Sindicato de Músicos do Ceará demanda manutenção dos instrumentos; gestão reconhece "desafios" e afirma buscar recursos para tal finalidade

Escrito por João Gabriel Tréz , joao.gabriel@svm.com.br
Situação dos pianos do Theatro José de Alencar foi denunciada pelo Sindicato dos Músicos do Ceará
Legenda: Situação dos pianos do Theatro José de Alencar foi denunciada pelo Sindicato dos Músicos do Ceará
Foto: Felipe Abud / Divulgação

Cupins, problemas mecânicos e falta de manutenção. Estes são alguns dos problemas que afetam os pianos do centenário Theatro José de Alencar, conforme denúncia pública feita pelo Sindicato dos Músicos do Ceará (Sindimuce). 

Ao Verso, Natália Escóssia, gestora executiva do TJA, reconhece que os instrumentos não estão atualmente disponíveis e que o teatro tem “desafios que exigem um processo mais abrangente e minucioso de manutenção”.

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A situação dos pianos foi tornada pública a partir de postagens do Sindimuce nas redes sociais ocorridas na última segunda-feira (10), mas não é nova ou desconhecida, conforme Heriberto Porto, membro da diretoria do sindicato e professor do curso de Música da UECE.

“Um piano da fábrica Steinway & Sons teve uma de suas pernas comida pelos cupins. Já faz quatro anos que está sem ser usado. Era o piano da sala principal. O outro, Yamaha, que serve ao Foyer Izaíra Silvino, também está com mecânica comprometida, não afina mais, sem condições de ser tocado”, descreve.

Segundo Heriberto, a ausência de instrumentos impacta em concertos, recitais e apresentações diversas promovidas no equipamento, também fazendo falta além da música. “Prejudica produções musicais como também de dança e teatro”, exemplifica.

A principal demanda do sindicato, ele ressalta, é que os pianos tenham um “plano de manutenção”, o que inclui contratação de especialistas para trabalhos periódicos como de afinação. “São muitos anos sem cuidados devidos”, reforça.

“Avaliamos que os instrumentos devem ser recuperados, mas sabemos dos limites dessa recuperação. O Theatro precisa de novos pianos, mas eles têm que ser pensados com uma política, com orçamento para a manutenção, para poderem durar”, destaca.

“Calamidade” há anos

Multi-instrumentista de destaque do Estado e pianista do grupo Marimbanda, Thiago Almeida compartilha que, desde que começou a se dedicar ao piano, tem proximidade com os instrumentos do Theatro. Desde o início, há 10 anos, a situação já era “de calamidade”, reconhece.

O pianista Thiago Almeida de Sousa em registro do show 'Temporada de improvisos ao Piano Solo', no Theatro José de Alencar
Legenda: O pianista Thiago Almeida de Sousa em registro do show 'Temporada de improvisos ao Piano Solo', no Theatro José de Alencar
Foto: Germano de Sousa / Divulgação

“Minha música se desenvolveu no ambiente da seresta, da música popular, do teclado, e em determinado momento quis me dedicar ao piano. Nesse momento, saí ao encontro de todos os pianos da cidade e os que mais tive acesso foram do TJA. Posso dizer que minha formação se deve aos pianos do TJA”, atesta.

“Desde a primeira vez, eu acho que isso já faz uns 10 anos, os pianos já estavam em situação de calamidade. Nunca houve um tempo na minha carreira de pianista em que eu tenha lidado com os pianos em bom estado, que eu tenha conhecido o cuidador do piano, que eu tenha aprendido sobre os cuidados do piano”, segue o artista.

Não há piano acústico em equipamentos públicos, aponta Sindicato

“É uma vergonha, profundamente lamentável, que não haja piano acústico nos equipamentos públicos do Ceará, seja do Estado, seja da Prefeitura de Fortaleza, ou de outros municípios”, ressalta Heriberto.

Segundo o músico e professor, espaços que mantêm “com cuidado” instrumentos do tipo estão em iniciativas como o Teatro Celina Queiroz — “um dos únicos pianos em condições em nossos teatros” — e a ONG Casa de Vovó Dedé.

Sobre o Theatro José de Alencar, o músico e professor pontua: “Percebemos que ele necessita de manutenção urgente, na sua estrutura física e nos seus equipamentos. É visível também a disparidade entre o TJA e outros equipamentos culturais do próprio Governo do Estado, que recebem muito mais atenção”.

“Desejamos que a nova diretora, Natália Escóssia, tenha muito êxito. O Theatro segue sendo um grande centro cultural, com muitas atividades, mas principalmente pela garra e pela capacidade de resistência dos servidores, artistas, produtores, técnicos, espectadores, em seguir atuando mesmo com as dificuldades visíveis no dia a dia”, avalia.

Palavra da gestão

Questionada sobre a situação atual dos instrumentos do equipamento, Natália Escóssia explica que eles não estão disponíveis. Segundo ela, o próprio Theatro, juntamente da Secretaria da Cultura do Ceará, do Instituto Dragão do Mar e da Fundação Amigos do TJA, “têm articulado formas de obter verba" para modernizar o espaço e garantir a efetiva preservação.

Theatro José de Alencar possui dois pianos, um para o palco principal e outro para o foyer Izaíra Silvino (na foto)
Legenda: Theatro José de Alencar possui dois pianos, um para o palco principal e outro para o foyer Izaíra Silvino (na foto)
Foto: Ismael Soares

Ainda conforme a diretora-executiva, os problemas relatados não tiveram impactos nas programações do equipamento. “Os artistas que solicitam o uso dos pianos são informados imediatamente que os mesmos não estão em uso. Geralmente, estes proponentes realizam suas atividades adaptando seus espetáculos”, argumenta.

A previsão atual do Theatro é buscar a manutenção dos pianos que já possui. 

“A gestão do TJA trabalha junto à Secult e ao IDM, por meio do contrato de gestão e de sua receita própria, para fazer com que a preservação, manutenção e modernização dos equipamentos aconteçam de forma sistemática e regular”, afirma Escóssia.

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