Arquitetas cearenses criam antiquário virtual com objetos decorativos vintage

Sob o olhar aguçado de Roberta Dultra e Luciana Hinkelmann, a Mira Objetos lança coleções às quartas-feiras no Instagram

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Legenda: Peças vintage, ou seja, com mais de 20 anos, são vendidos e garimpados pela Mira Objetos
Foto: Luciana Hinkelmann/Igor Ribeiro

Garimpar é quase uma arte, requer um olhar aguçado, um cuidado especial e muita paciência ao longo do processo. É um convite para se atentar ao que um dia já foi de alguém. A arquiteta Roberta Dultra cresceu vendo a família decorar a casa com objetos comprados em brechós e feiras. Já a arquiteta Luciana Hinkelmann vem de uma família desapegada.  

O encontro das duas, contudo, fez surgir a Mira Objetos, um garimpo online de objetos vintage que resgatam memórias e dão um tom do tradicional mesclado ao moderno para as decorações de interiores.  

O garimpo das peças acontece à distância, já que Luciana mora no Rio de Janeiro e Roberta em Fortaleza. “A maior parte dos garimpos vem do Rio e mando pra Fortaleza. A Roberta me ajuda virtualmente com a curadoria, mas estamos ensaiando esse momento juntas pessoalmente ainda”, conta Luciana.  

“A gente tem estilos muito diferentes, mas a gente se identifica com o senso estético uma da outra, compreendemos isso muito bem e falamos: isso é a tua cara, acho que tu vai amar. A gente até fez uma coleção mais minimalista inspirada mais no meu gosto e vamos mesclando isso”, acrescenta. 

A partir da seleção das peças, as arquitetas organizam a coleção da semana que é lançada às quartas-feiras, às 19h, no Instagram. Fica com o produto quem comentar “quero” primeiro na publicação, elas então entram em contato com o cliente que tem o prazo de até duas horas para efetuar o pagamento. Caso não haja retorno, segue para a próxima pessoa da fila.  

Além dos objetos encontrados por elas, o acervo da Mira está aberto a receber desapegos de outras pessoas. “Somos arquitetas, temos o olhar afiado pra isso, existe todo um cuidado de limpar, lustrar, fazemos pequenos restauros quando necessário, pensamos e montamos cenários pra fotografar”, detalha Roberta. 

Legenda: Peças como taças, vidrarias compõem o acervo do garimpo
Foto: Igor Ribeiro/Luciana Hinkelmann

Encontro inusitado  

Embora ambas morassem em Fortaleza e tivessem amigos em comum, Roberta e Luciana não se conheciam diretamente, foi apenas quando Luciana se mudou para o Rio de Janeiro. “Quando eu vim pro Rio, tinha muito mais essa cultura de comprar de segunda mão, em Fortaleza ainda é algo distante”. 

Por lá, a arquiteta fez uma transição de carreira, no começo de 2020, e abriu uma loja de móveis modernistas e mais sofisticados da década de 1950 e 1970.  

“A Roberta falou comigo, porque viu meu trabalho no Rio e disse que amava esse garimpo e tinha vontade de trabalhar com isso. Ela me convidou pra tomar um vinho na casa dela, eu topei e foi uma ideia muito embrionária quando conversamos. Como trabalho com isso aqui, já tinha muito acesso a antiquários, brechó, e acabou sendo uma coisa muito despretensiosa”.  
Luciana Hinkelmann
arquiteta

Roberta acrescenta que, nessa mesma época, estava num momento de descoberta do que queria fazer na Arquitetura. “Eu tava meio perdida na profissão e a gente se encontrou por acaso com amigos em comuns e começamos a conversar”. 

Legenda: Roberta Dultra e Luciana Hinkelmann comandam a Mira com um olhar aguçado e estético do belo e vintage
Foto: Igor Ribeiro

A partir daí, começaram a formatar esse modelo de negócio para definir exatamente como seria esse trabalho. No início, sem caixa para investir no novo empreendimento, reuniram peças que já tinham em acervo. “Em novembro do ano passado, fizemos nosso primeiro lançamento e teve uma aceitação muito maior que imaginávamos", revela Luciana. 

Resgate de memórias  

Para as duas, esse processo é um resgate de memórias afetivas. “Minha mãe é do Rio e veio morar em Fortaleza, minha avó também veio. Minha mãe ama garimpar, cresci numa casa cheia de coisas antigas/usadas, das décadas de 1960 e 1970. Minha família dá muito valor a essas peças, muito por conta da qualidade”.  

Foi por isso também que Roberta cresceu no meio das várias coleções dos pais e avós, além dos objetos herdados por ela, o gosto e a vontade de fazer arquitetura casando o moderno com o vintage.  

“Eu trabalho com interiores na arquitetura e eu vejo muito isso de as coisas serem iguais, padronizadas, busco trazer essas diferenças com meus projetos. A Luciana trabalhou com direção de arte e isso agrega um universo mais real pro que a gente busca enquanto estética, ter objetos com histórias junto com objetos novos”.  
Roberta Dultra
arquiteta

Legenda: A ideia é proporcionar uma arquitetura que casa objetos antigos com modernos
Foto: Igor Ribeiro/Luciana Hinkelmann

Do contrário, Luciana diz se sentir um pouco frustrada por não ter objetos que fizeram parte da sua história, já que a família dela era mais desapegada. “Quando descobri esse universo, foi quase um resgate mesmo de ver elementos que fizeram parte da casa dos meus avós e não tínhamos mais”.  

“Um ponto muito importante da nossa parceria é que ela adora isso e ela é muito ousada pra usar esses elementos, é muito criativa em usar esses elementos, mas ao mesmo tempo não tem como comprar essas coisas em Fortaleza”, pontua ela. 

Serviço

Mira Objetos 

@mira.objetos

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