Arlete Salles divide espetáculo com filho e neto em Fortaleza sobre amor na velhice
“Ninguém Dirá Que É Tarde Demais” está em cartaz no Theatro Via Sul de 13 a 15 de novembro; no palco, um misto de comédia e drama para falar sobre as coisas importantes da vida
Belchior cantou, Arlete Salles reforça: o amor é uma coisa boa. E não importa em que idade. Sentir é bonito, relevante, direito constitucional. Talvez por isso mesmo “Ninguém Dirá Que É Tarde Demais” tem feito tanto sucesso por onde passa. O espetáculo é sobre esses detalhes da vida que, de tão cruciais, tomam um palco inteiro.
Será a impressão de quem for assisti-lo no Theatro Via Sul, em temporada que segue até 15 de novembro. A chegada por aqui acontece após anos de apresentação em várias cidades. Nesta retomada da turnê, serão outras 10, inéditas, incluindo a capital do Ceará. “Adoro Fortaleza, é uma cidade cativante”, declara Arlete, apaixonada por nosso chão.
Veja também
E paixão é o que não falta no número teatral, a começar pela própria formação dele. Além da atriz veterana – famosa por personagens icônicos, sobretudo na TV – estão o próprio filho e neto dela. Alexandre Barbalho e Pedro Medina, respectivamente, dividem laços sanguíneos e dramatúrgicos de forma a refletir sobre um tema importante: amor na velhice.
O pano de fundo é o isolamento provocado pela pandemia de Covid-19, quando tivemos que nos reinventar e encarar nossos maiores medos. Mas também nos abrir ao novo, a exemplo de conexões mais profundas. “Embora neste momento me encontre bem distante do chamado ‘amor romântico’, aceito e entendo que uma pessoa da minha idade ou mais, ou seja, em qualquer tempo da vida, se apaixone, ame, seja feliz”, diz a artista.
Segundo ela, a personagem que interpreta está impaciente, totalmente afetada pela pandemia – principalmente por precisar hospedar o neto na própria casa e, assim, alterar toda a rotina. O percurso é curto, porém. Aos poucos, vai se curando da intolerância a partir de um jeito mais amoroso de encarar o cotidiano. O sentimento a mobiliza.
Muito da emoção provocada nas plateias de todo o Brasil é creditada ao texto, assinado pelo já citado Pedro Medina. Arlete diz que a montagem é forma de apresentar o neto como dramaturgo, fazer o público encarar a capacidade e o talento dele. “Ele escreveu um texto lindo, com enorme sensibilidade e inteligência. Estamos felizes com a excursão”.
O panorama de atuação é reforçado com o celebrado Edwin Luisi, par romântico da protagonista. A direção, por sua vez, é de Amir Haddad, com quem Salles trabalhou há 35 anos na peça “Felisberto e o Café”.
Entre a comédia e o drama
Riso e choro dividem espaço nas poltronas. Apesar de abordar o tenebroso período pandêmico – utilizado somente como moldura – a ideia sempre foi que o número fosse leve, engraçado, mas também causador de lágrimas. A reação vem da beleza de nos encararmos como capazes de superar dores, obstáculos e empecilhos.
“A pandemia foi um enorme desafio, momento de muita tristeza. Perdemos parentes, amigos, famílias inteiras. Houve o negacionismo, a dificuldade para que a vacina fosse possível para todos... Enfim, não foi fácil. Mas sobrevivemos, estamos aqui, e esse capítulo já faz parte de uma história a ser contada. Assim é a vida. Conseguimos até rir”.
O próprio título do espetáculo evoca esse turbilhão de sentimentos. “Ninguém Dirá Que É Tarde Demais” foi inspirado na canção “O Último Romance”, da banda Los Hermanos, e desenha bem a forma como o roteiro se apresenta. A trama é esta: devido à pandemia, Luiza (Arlete Salles) recebe em casa o neto Márcio (Pedro Medina).
Paralelo a esta trama, Felipe (Edwin Luisi), por problemas financeiros, vai morar com o filho Mauro (Alexandre Barbalho). Luiza e Felipe são vizinhos de prédios diferentes, com paredes grudadas, e estão muito sensíveis às questões da Covid-19, aos problemas domésticos e, por isso, começam a implicar um com o outro sem saber a identidade de cada um.
Até que um dia os dois, com máscara e álcool gel, vão rapidamente à rua, e se encontram sem saber que são vizinhos. Depois daí, só indo ao teatro para conferir. “É uma peça que tem esse poder de comunicação, de chegar nesses lugares, nas pessoas. O resultado é sempre muito bom, nunca tivemos uma plateia fria. Espero encontrar o mesmo em Fortaleza”.
Carreira revigorada
Tendo vivenciado a pandemia com vastidão de trabalhos – dividiu projeto com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, gravou especial de Natal e assinou novos papéis para a Rede Globo, entre outras atividades – Arlete Salles celebra estar no palco aos 86 anos. Décadas e décadas de carreira a fazem afirmar com propriedade que o teatro enova.
“Muitas pessoas me perguntam por que ainda estou no palco. É porque ele me revigora, me rejuvenesce. É um lugar feliz, onde a gente é feliz”. Para ela, o movimento de ocupar o tablado conduz os problemas para longe. Bastam cinco minutos para a alma ficar livre e desimpedida. Como não permanecer em um lugar assim?
A conversa com a veterana termina sobre “Família É Tudo”, mais recente empreitada na TV, onde interpretou as gêmeas Frida e Catarina. Foi um desafio. “Dois personagens não é fácil, principalmente quando eles se encontram, quando contracenam. Mas foi maravilhoso também porque resultou bem. Chegamos, e o horário estava baixo. E nós fomos trabalhando – eu disse que éramos um náufrago para chegar na praia (risos). Chegamos na praia”.
Agora, para a frente, o melhor – sem nunca descolar do que provoca, do que alimenta. Ninguém dirá que é tarde demais. “Gosto de desafios. Existem para que a gente os supere”.
Serviço
Espetáculo “Ninguém Dirá Que É Tarde Demais”
Dias 14, às 20h, e 15 de novembro, às 21h, no Theatro Via Sul (Avenida Washington Soares, 4335, Seis Bocas). Ingressos: A partir de R$ 19,50 (meia) até R$ 120 (inteira). Vendas por meio do site e na bilheteria do Theatro. Classificação: 12 anos. Duração: 100 minutos