Quem é Júnior Mano, deputado cearense alvo da PF em investigação sobre desvio de dinheiro público
Ele é um dos deputados federais mais votados do Ceará em 2022 e é casado com prefeita de Nova Russas
Deputado federal pelo Ceará, Júnior Mano (PSB) se tornou alvo da operação Underhand, da Polícia Federal (PF), deflagrada na manhã desta terça-feira (8). O político, um dos pretensos candidatos ao Senado Federal pelo grupo aliado ao Governo do Ceará, é suspeito de envolvimento em um esquema de desvio de recursos públicos por meio de fraudes em licitações.
Aos 40 anos, Antônio Luiz Rodrigues Mano Júnior, tem uma trajetória política com cargos no Executivo e no Legislativo. A trajetória dele começou em 2017, após ter sido escolhido para ser vice-prefeito de Nova Russas, sua cidade natal, que fica a cerca de 300 km da Capital.
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A escolha para a gestão municipal, ainda como filiado ao antigo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), foi na eleição de 2016. Naquele pleito, ele participou de uma chapa encabeçada por Rafael Pedrosa, do então Partido da Mobilização Nacional (PMN).
A chegada de Júnior Mano à Câmara dos Deputados aconteceu em 2019, filiado ao Patriota. Na disputa em que foi eleito pela primeira vez para o Parlamento federal, o saldo de votos foi de 67.917.
A reeleição do parlamentar para a Câmara dos Deputados aconteceu em 2022, já pelo Partido Liberal (PL), ainda sob o comando do ex-prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves. Dessa vez, Júnior Mano foi o segundo deputado federal mais votado no Ceará, com 216.531 votos.
Atualmente, a esposa do deputado, Giordanna Mano (PRD), é prefeita de Nova Russas. Ela ocupa a administração municipal desde 2021.
Eleições de 2024 e crise com o PL Ceará
Em 2024, no contexto da eleição municipal de Fortaleza, Júnior Mano apoiou Evandro Leitão, do Partido dos Trabalhadores (PT), que disputava o cargo com o deputado federal André Fernandes (PL).
O apoio do então liberal ao petista fez com que o parlamentar agora investigado fosse objeto de um processo de expulsão, anunciado pelo presidente do PL Ceará, o deputado estadual Carmelo Neto. Após o fato, num evento de campanha em prol do petista, Mano chegou a reunir 40 prefeitos cearenses.
Posteriormente, Mano anunciou acordo com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, para que fosse liberado do PL e migrou para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), com a chancela do senador Cid Gomes e de João Campos, prefeito de Recife — ambos líderes do partido.
Suspeita de envolvimento e ação da PF
Mano estava na mira da PF desde setembro do ano passado, em razão do suposto envolvimento em um esquema de manipulação eleitoral que teria atuado em 51 municípios do Ceará.
Em janeiro, quando a informação se tornou pública, com os desdobramentos da prisão de Bebeto Queiroz, prefeito eleito de Choró que atualmente está foragido, Mano foi apontado como tendo um “papel central” na destinação de emendas parlamentares para uso ilegal dos recursos.
No último mês de abril, Bebeto e seu vice, Bruno Jucá (PRD), tiveram os mandatos cassados, por decisão da 6ª Zona Eleitoral do Estado. Na ocasião, a Justiça Eleitoral também declarou a inelegibilidade de ambos os políticos. Desde janeiro, Paulo George (PSB), presidente da Câmara de Vereadores, é que ocupa o posto.
Por conta da suspeita de envolvimento do político, que tem foro privilegiado, o caso de Júnior Mano foi alçado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e distribuído para o gabinete do ministro Gilmar Mendes.
No contexto da divulgação das investigações, Júnior Mano estava de licença da cadeira de deputado federal e se dedicou à campanha eleitoral no estado. Ele retornou para o Legislativo em 20 de janeiro.
No início de fevereiro, ao PontoPoder, Júnior Mano comentou sobre a investigação em que era suspeito de participação no esquema de emendas. Questionado sobre como estava acompanhando a situação, o parlamentar disse que cabia “à Justiça julgar”, acrescentando que seria alvo de denúncias “infundadas”.
“Eu não sou ninguém para julgar, mas acredito na minha inocência, acredito que logo, logo, essa denúncia infundada (feita) pela prefeita de Canindé virá com a resposta definitiva sobre esse caso”, afirmou. Ele se referia à ex-prefeita Rozário Ximenes (Republicanos), autora da denúncia que culminou nas investigações.
O que se sabe sobre a operação
Nesta terça-feira (8), a PF cumpriu 15 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF. A ação investiga uma organização criminosa suspeita de desviar recursos públicos por meio de fraudes em processos licitatórios e contratuais.
Foram cumpridos mandados em endereços nas cidades de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé, Baixio e Brasília. Um dos endereços foi o gabinete de Júnior Mano, na capital federal.
A PF detalhou que o núcleo criminoso é suspeito de articular o direcionamento de verbas públicas a determinados municípios cearenses mediante contrapartidas financeiras ilícitas, além de influenciar procedimentos licitatórios por meio de empresas vinculadas ao grupo.
Além dos mandados de busca, foi determinado o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas investigadas. Conforme a corporação, a medida visa interromper a movimentação de valores de origem ilícita e preservar ativos para eventual reparação ao erário.
O que disse o deputado?
Em nota, a assessoria do político afirmou que ele não tem participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
“Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos”, continuou.
O comunicado ainda disse que Júnior confia nas instituições, em especial no Judiciário e na PF, e reitera “o compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública”.
Por fim, afirmou que o parlamentar tem plena convicção de que “a verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta”.
Veja a nota de Júnior Mano na íntegra:
O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
O parlamentar reafirma sua confiança nas instituições, em especial no Poder Judiciário e na Polícia Judiciária Federal, e reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública.
Tem plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta.
Assessoria de imprensa
Deputado Federal Júnior Mano