Vereadores de Fortaleza eleitos em 2020, ainda nem na metade do mandato, já se preparam e articulam suas bases de apoio na Capital e no Interior para disputar eleições novamente, dessa vez mirando vaga na Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa (AL-CE) ou Senado Federal em 2022.
A investida na pré-campanha movimenta os bastidores da Casa, abrindo discussão sobre a presença dos vereadores na Casa durante período eleitoral, além de sugerir um "teste de popularidade" nas urnas.
Um levantamento do Diário do Nordeste mostra que, a cinco meses das eleições, ao menos 18 dos 43 parlamentares articulam candidatura, parte deles tendo se candidatado pela primeira vez em 2020.
41,8%É o número que representa o percentual de parlamentares da Câmara que já se coloca como pré-candidato em 2022
Entre os 10 mais votados nas últimas eleições, ao menos seis parlamentares entrarão em campanha para tentar vaga em outubro. A Mesa Diretora, por exemplo, composta por sete ocupantes, tem seis vereadores pré-candidatos, incluindo o presidente, Antônio Henrique, e o vice-presidente da Casa, vereador Adail Júnior, ambos do PDT.
Presença nas sessões
O movimento abre uma discussão recorrente - segundo os próprios vereadores -, sobre possível ausência dos parlamentares durante as sessões plenárias.
No último dia 4 de maio, o presidente Antônio Henrique reuniu o colégio de líderes e tratou sobre o assunto. A recomendação foi para que “todos os vereadores tenham em mente que continuam no mandato” apesar do período eleitoral.
A investida serve, de acordo com a assessoria da presidência, para que não haja esvaziamento do Plenário e as pautas continuem a ser debatidas.
Para Adail Júnior, não há prejuízo nos trabalhos da Casa mesmo que os vereadores estejam em campanha.
"Estou vereador há 13 anos e vejo sempre esse debate em período eleitoral; o Plenário fica mais aceso, mais pujante. Eu tenho certeza que os debates continuam iguais ou aumentam as proposições”Adail JúniorVice-presidente da Câmara
"Teste de popularidade"
Sair em campanha no meio de um mandato parlamentar indica o interesse dos políticos em avaliar a popularidade dos próprios nomes em suas bases. A avaliação é feita por alguns dos vereadores pré-candidatos, de modo reservado.
A estratégia é uma espécie de teste de força. Entre os 18 nomes que devem disputar em 2022, seis são vereadores estreantes no Parlamento Municipal e, de acordo com o raciocínio deles, têm interesse em avaliar a popularidade.
Uma vez em campanha, eles fortalecem a própria imagem junto ao eleitorado e, caso não sejam eleitos, a Lei Eleitoral permite que continuem com o mandato no Parlamento da Capital.
“Eu não tenho nada a perder, me elegi pela primeira vez na vida em 2020 e vou testar os votos fazendo campanha apenas em Fortaleza. Se não der certo, eu volto para a Câmara”, confidenciou um dos vereadores que não quis se identificar.
Os parlamentares pré-candidatos se dividem em grupos específicos com estratégias próprias no Parlamento. Entre eles está o dos vereadores de oposição à direita na Casa, filiados ao PL e União Brasil.
Bolsonaristas do PL
Exercendo o primeiro mandato e ligado ao grupo bolsonarista no Ceará, Carmelo Neto mira vaga na AL-CE e mantém agenda no interior do Estado para atrair aliados e reforçar a base. Questionado sobre como pretende conciliar as atividades de pré-campanha com a presença em Plenário, o parlamentar afirma que não há interferência.
"O nosso trabalho de fiscalização continua e o nosso gabinete segue atuando normalmente em novas proposições", pontua.
No último domingo (15), o vereador participou de uma motociata em Quixadá e teve agenda também em Senador Pompeu e Quixeramobim.
Do mesmo partido, Priscila Costa quer assento na Câmara Federal e deve assumir a suplência na bancada em Brasília, como fruto de um acordo partidário.
Único que pretende se candidatar a senador, Inspetor Alberto, também estreante, aguarda ser o indicado após definição do Diretório Estadual do PL.
União Brasil mira AL-CE
Fruto da fusão entre DEM e PSL, o União Brasil – partido liderado pelo pré-candidato ao governo Capitão Wagner -, tem os vereadores Julierme Sena pleiteando vaga em Brasília, além de Marcelo Lemos e Sargento Reginauro aspirando o Parlamento Estadual.
PDT e PT preparam cinco nomes
Com a maior bancada da Câmara, o PDT prepara apenas três dos 10 vereadores titulares para a pré-campanha. Estão pré-candidatos o presidente Antônio Henrique, o vice Adail Júnior e a Enfermeira Ana Paula.
Apenas Adail almeja a Câmara Federal. Ele condiciona sua candidatura, no entanto, à escolha do partido para a disputa ao Executivo. “Só serei candidato se lançarem o ex-prefeito Roberto Cláudio ao cargo de governador”, pontuou.
Já a estratégia do PT é ampliar a bancada da AL-CE, hoje com sete parlamentares. Nesse sentido, estão pré-candidatos para a mesma Casa Legislativa Larissa Gaspar e Guilherme Sampaio.
Nova bancada do PSDB
Saindo de um para três parlamentares após o fim da janela partidária, o PSDB terá dois representantes na disputa por uma vaga no fim do ano.
A vereadora Cláudia Gomes, eleita pelo DEM, é pré-candidata a deputada federal, enquanto Jorge Pinheiro disputará um assento na AL-CE.
Em recente passagem por municípios da Região do Cariri, o parlamentar também minimizou a possibilidade de ausências nas sessões presenciais e reforçou que faz atividades de pré-campanha fora dos horários da sessões.
"Eu tenho sempre conciliado tudo, eu não falto reunião de comissão. Tenho procurando em fazer a pré-campanha nos finais de semana; tudo que eu tenho feito fica em final de semana ou pela noite", frisou.
Outros parlamentares preparam as articulações, sendo os únicos representantes de seus partidos a entrar na disputa.
Eleito pela primeira vez em 2020, Danilo Lopes (Avante) é pré-candidato a deputado estadual. Miram assento na Câmara dos Deputados, por sua vez, os vereadores Eudes Bringel (PSB), Michel Lins (Cidadania), Gabriel Aguiar (Psol) e o ex-deputado federal Ronaldo Martins (Republicanos), o vereador mais votado nas eleições municipais.