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Oposição na Câmara mira PL e União Brasil em busca de vaga de deputado nas eleições de outubro

Ao menos cinco dos seis vereadores de oposição à direita admitem pré-candidatura; indefinição no diretório e janela partidária são desafios

Escrito por Felipe Azevedo , felipe.azevedo@svm.com.br
Vereadores de pé no plenário da Câmara de Fortaleza
Legenda: Vereadores no plenário da Câmara de Fortaleza.
Foto: Érika Fonseca/CMFOR

Mirando as eleições de outubro, vereadores de oposição à direita na Câmara Municipal de Fortaleza se movimentam nos bastidores em busca de um novo partido. Na estratégia, eles precisam levar em conta possíveis sanções das atuais siglas e esperam uma definição no comando do União Brasil (UB) no Ceará, atraídos por ter tempo de televisão e verba do fundo eleitoral. Além do UB, parlamentares também tentam migrar para o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

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Esse movimento, no entanto, precisa ser bem calculado, uma vez que não há janela partidária aberta para vereadores. Trocar de partido agora, portanto, pode ocasionar punição por parte de dirigentes partidários, como a perda do mandato.

Ao mesmo tempo, permanecer nas atuais siglas, diminui a chance de sucesso eleitoral por falta de estrutura partidária e pelo fim das coligações para disputa proporcional.

Carmelo, Márcio Martins e Sargento Reginauro respeitando 1 minuto de silêncio na Câmara Municipal
Legenda: Os vereadores Carmelo Neto (Republicanos), Márcio Martins (Pros) e Sargento Reginauro (Pros)
Foto: Érika Fonseca

Movimento cauculado

Uma das opções para que vereadores saiam dos atuais partidos para tentar eleição em outra sigla sem que haja sanção, é a carta de anuência. Com esse dispositivo, é selado uma espécie de acordo entre os dirigentes partidários e os vereadores.

Cinco dos seis parlamentares de oposição à direita admitem a pré-candidatura. Em modo reservado, alguns deles dizem que entrarão na campanha eleitoral muito mais para "testarem" o próprio desempenho nas urnas, sem pretenções reais de êxito. 

De acordo com as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), representantes no parlamento municipal podem concorrer ao cargo de deputado sem que percam os mandatos atuais.

Via de regra, não é de interesse das siglas perder membros com mandato. Os vereadores que tentarão vaga na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) e na Câmara dos Deputados, no entanto, buscam agremiações maiores e com mais estrutura, uma vez que não há mais coligações para eleições proporcionais, e os partidos deverão disputar de forma individual.

O Pros, por exemplo, é um dos partidos que mais comporta membros da oposição no Estado. A avaliação de vereadores filiados é de que, se o União Brasil passar para o comando do deputado federal Capitão Wagner, o Pros se tornaria um aliado e portanto migrar para a nova sigla não seria um problema.

Posição de cada vereador

A vereadora Priscila Costa (PSC) admite que disputará o cargo de deputada federal. Ela é uma das parlamentares de oposição que aguarda uma definição no comando do União Brasil. Há também possibilidade de adentrar no PL, partido que se torna atraente para o grupo após filiação do presidente Jair Bolsonaro. 

Sargento Reginauro, por sua vez, garante que só deixará o Pros para adentrar o UB. Ele não manifesta interesse em entrar no PL. A disputa será por uma vaga na Assembleia Legislativa.

Quem faz o mesmo movimento é Julierme Sena, também do Pros. Ele mantém conversa com o Podemos e é outro parlamentar que aguarda para saber quem comandará o União Brasil. Ele também tentará vaga na Câmara Federal.

Vereadores que buscam se filiar ao União Brasil garantem que a intenção do partido é de eleger até quatro deputados estaduais e três federais.

69
É o total de vagas a serem disputadas no Poder Legislativo, no Ceará, em 2022: 22 na Câmara dos Deputados, 46 na Assembleia Legislativa e 1 no Senado

Quem também deve trocar o Pros pelo PL é o vereador Inspetor Alberto. Nos bastidores, correligionáros articulam para que ele emplaque uma pré-candidatura ao Senado. 

Líder da oposição, Márcio Martins (Pros) é o único que não admite pré-candidatura. "A preço de hoje, não sou pré-candidato nem a estadual nem a federal", diz. Há, no entanto, a expectativa de migrar para o União Brasil. 

O vereador Carmelo Neto (Republicanos) traça uma estratégia para tentar se eleger deputado estadual. Atualmente, o parlamentar conversa com dirigentes do atual partido para efetuar sua ida ao PL.

Indefinição no União Brasil

No Ceará, União Brasil ainda é palco de disputa entre o deputado federal Capitão Wagner (Pros) e o suplente de senador Chiquinho Feitosa, ex-presidente do extinto DEM, da base do governo. A sigla tornou-se, ao menos por enquanto, a maior do Congresso Nacional. 

Ao fundir DEM e PSL, União Brasil se tornou o maior do País, com 81 deputados federais e 7 senadores.

O presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar — que é rompido politicamente com Bolsonaro — esteve no Ceará em dezembro do ano passado, e reuniu parte das lideranças que poderiam engrossar as fileiras do partido. 

Nesse mesmo encontro, o Capitão Wagner teria recebido a confirmação de que ficaria no comando da agremiação após a liberação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ocorreu em fevereiro.

Desde então, o deputado federal passou a convidar lideranças oposicionistas do Ceará para se filiar à nova legenda. O movimento atraiu também os vereadores da Capital identificados com o grupo.

Esses vereadores permanecem, portanto, na expcetativa de que o partido fique sob comando de Wagner, cenário que atrairia também outros quadros de oposição de olho em maior fundo eleitoral e tempo de televisão.

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PL dividido

Já o prefeito de Eusébio e presidente do PL no Ceará, Acilon Gonçalves, confirmou na última segunda-feira (7), que vai se engajar na campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro no Estado. Histórico aliado da base governista, Acilon ainda evita definições sobre a sucessão estadual.

A recondução à presidência do PL e a presença em evento de Bolsonaro no Ceará, no início de fevereiro, dão indícios de que a base do governador pode não contar com o apoio de Acilon.

Acilon, Sarto, Antônio Henrique e Roberto Cláudio
Legenda: O presidente do PL, Acilon Gonçalves, confirmou campanha pró-bolsonaro
Foto: Felipe Azevedo

A condição do PL se torna um atrativo também para parlamentares na Câmara Municipal de Fortaleza. Apesar de fazer parte da base do governador Camilo Santana (PT), a sigla atrai oposicionistas. 

As vereadoras que atualmente compõem a bancada do PL na Câmara Municipal de Fortaleza, Ana do Aracapé e Tia Francisca, aliadas do prefeito José Sarto (PDT), chegaram a indicar que sairiam do partido com a filiação de Bolsonaro.