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Qual o papel dos vereadores de Fortaleza na disputa pelo Governo do Estado em 2022?

Com 25% do eleitorado do Ceará, a Capital é um campo estratégico disputado por pré-candidatos de base e oposição

Escrito por Felipe Azevedo , felipe.azevedo@svm.com.br
Sarto, Élcio, Gardel e Antônio Henrique
Legenda: O prefeito Sarto, junto ao vice-prefeito Élcio Batista (PSB) e os vereadores Gardel Rolim (PDT) e Antônio Henrique (PDT)
Foto: Reprodução / Instagram Antônio Henrique

Os 43 vereadores de Fortaleza se preparam para atuar como agentes indispensáveis na disputa pelo Governo do Estado em 2022. Com cerca de 1,6 milhões de eleitores, a Capital concentra 25% do eleitorado do Ceará, uma fatia estratégica do território e que já se encontra em disputa entre membros da base e da oposição. De olho no Executivo, os pré-candidatos apostam as fichas na proximidade do parlamento municipal com as comunidades.

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Com 121 bairros, Fortaleza é definida por especialistas, e por parte dos vereadores, como um “distritão” dividido em distritos menores, que contam com um ou mais representantes com assento na Câmara Municipal.  

É nesse sentido que atuam esses parlamentares. Uma vez mais próximos das demandas de cada bairro, os vereadores tendem a traduzir uma potencial credibilidade junto ao eleitorado.  

Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste avaliam que, confiando nessa relação, os pretensos candidatos ao governo devem transformar os vereadores da Capital em cabos eleitorais.

Na Câmara, os parlamentares são divididos, majoritariamente, entre os que apoiam o governo de Camilo Santana (PT) e os que são mais ligados ao deputado federal Capitão Wagner (Pros). Esses, por sua vez, são políticos que se enquadram no espectro político da direita. 

25,4% do eleitorado
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 6.263.279 eleitores cearenses, 1.596.896 são moradores de Fortaleza. O número representa 25,4% do eleitorado. 

Influência do Parlamento

Ao contrário do que se pode definir através de estereótipos, ouvir reclamações sobre falta de médicos no posto de saúde de um bairro ou sobre ruas esburacadas, por exemplo, não é comum apenas para “políticos do interior”.

Quem explica é o professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o cientista político Raulino Pessoa. Para ele, a “representação por território”, também é comum em Fortaleza.  

São parlamentares que atuam em defesa de determinada área territorial, que vão intermediando recursos do Governo. Os deputados e vereadores, nesse aspecto, funcionam como elos entre o Poder Executivo e a população  
Raulino Pessoa (Uece)
Cientista Político

Prefeito Sarto e Antônio Henrique
Legenda: Prefeito José Sarto e o presidente da Câmara Antônio Henrique (PDT)
Foto: Reprodução/Instagram Antônio Henrique

Com ampla base na Câmara, o prefeito José Sarto (PDT) ressalta a importância dessa relação entre Parlamento e Executivo principalmnente no período eleitoral. Questionado sobre a importância de capilarizar a atuação dos vereadores nos bairros, o chefe do Executivo pontuou a nova realidade das campanhas, com pouco tempo de propaganda eleitoral.  

“O agente político é que tem um acesso e interlocução fluida com as comunidades, vai ser fundamental para qualquer candidatura”, alerta o prefeito.

Sarto destaca ainda que, com as restrições de distanciamento por conta da pandemia de Covid-19, a campanha eleitoral, assim como ocorreu com a de 2020, também deve ter a sua rotina alterada.  

“Estamos vivendo em um momento de pandemia e isso dificulta o modo antigo de fazer campanha, que é visitar casa a casa, fazes caminhada e inserções na rua. Será fundamental a participação do agente político, do vereador, para qualquer candidatura este ano”, completa.  

Reiterando a importância de manter a base unida na Câmara, o chefe de gabinete do prefeito Sarto, Elpídio Moreira, foi designado, ainda em setembro de 2021, como Coordenador Especial de Articulação Política da Prefeitura, atuando na Câmara.

Para Elpídio, os projetos de indicação apresentados para construção de Areninhas e creches comunitárias, por exemplo, servem, além de melhorar as condições de um bairro, aproximar os vereadores das comunidades. 

Diminuição de custo 

A pesquisadora do Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídias da Universidade Federal do Ceará (UFC), Paula Vieira, atenta que, além dos candidatos ao Executivo estadual, os políticos que disputarão vaga de deputados estaduais e federais também precisam dos vereadores de Fortaleza.  

“Os deputados se elegem muito com o peso da Capital junto com sua base no interior. Eles precisam se articular junto a essas lideranças mais localizadas. Essa articulação inicia ainda na eleição municipal quando eles buscam as lideranças mais conhecidas”, explica a especialista. 

58 parlamentares
No Ceará, 22 deputados federais representam o Estado na Câmara dos Deputados. Outros 46 ocupam assento na Assembleia Legislativa.

Na disputa para o Governo, Paula Vieira analisa que os vereadores da Capital servem também para minimizar os custos de uma campanha eleitoral. Isso ocorre porque, com 121 bairros, é mais fácil que os candidatos contem com líderes políticos espalhados nas comunidades.  

“Os custos são altos, as estratégias são traçadas se vinculando os políticos já eleitos aos que vão propor a candidatura. Para conseguir chegar a essa base eleitoral tão diversa precisa contar com essas pequenas lideranças”, salienta a pesquisadora.

Vereadores Márcio Martins e Adail Jr lado a lado
Legenda: Os vereadores Márcio Martins (Pros) e Adail Jr (PDT)
Foto: CMFor

 

O que dizem os vereadores 

Na presidência da Câmara Municipal, o vereador Antônio Henrique (PDT), que tem maior representatividade nos bairros do Mondubim e Conjunto Esperança, destaca que o fato de Fortaleza ser o maior colégio eleitoral do estado “é a principal avaliação que a gente precisa colocar nesse páreo, nessa disputa”. 

O parlamentar é tido como um dos pré-candidatos do PDT a compor a chapa como deputado estadual nas Eleições 2022.  

Há 12 anos exercendo mandato de vereador, Adail Júnior (PDT), que faz parte da base do governo, define a Capital cearense como uma “distritão”, que seria dividido em outros 43 distritos, que seriam bairros e regiões representadas por cada um dos parlamentares.  

Experiente na Casa Legislativa, o vice-presidente da Câmara tem representatividade expressiva nos bairros Antônio Bezerra, Genibaú e adjacências.  

Nesse aspecto, Raulino Pessoa avalia ainda que, no Poder Legislativo, a forma de votação é fragmentada e dividida em todo território. O vereador, no entanto, “pode receber votos em toda a cidade, mas sempre esses votos são concentrados em determinados lugares”. 

Com representatividade no bairro Aracapé, a vereadora Ana do Aracapé, líder da bancada do PL na Câmara, argumenta que "o sucesso de aliados nas urnas tem impacto direto no futuro", e com diálogo e harmonia política, torna os "vereadores muito importantes para a sociedade". 

É possível observar essa concentração de votos também com os números de Márcio Martins (Pros), líder da oposição na Câmara Municipal de Fortaleza. A maioria dos votos recebidos em 2020 foram nos bairros Benfica, Jardim América, Montese, Bom futuro, Damas e Parreão.  

“Essa aproximação da população faz com que a população nos credite sempre, não só questão eleitoral, mas para falar sobre a Previdência ou Saúde[...], isso não seria diferente em eleição. Se o morador acredita que eu quero o melhor para o bairro, ele também confia que posso dizer em quem votar para o prefeito ou governador”, explica Márcio Martins.

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