Vulcabras entrega nova expansão de fábrica de Horizonte até janeiro e estuda aquisição de marcas
Empresa condiciona novas ampliações no Ceará a compra de negócios
A fábrica da Vulcabras em Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza, passa atualmente pelo segundo processo de expansão que deve ser concluído até janeiro de 2025. Apesar disso, não são descartados novas ampliações no espaço, principalmente pelo posicionamento agressivo na empresa no mercado.
Quem garantiu o cenário foi Pedro Bartelle, presidente da Vulcabras, em entrevista exclusiva para o Diário do Nordeste realizada durante a BFShow, principal feira de calçados do Brasil realizada em São Paulo. A empresa é especializada na fabricação de pares esportivos, e produz em Horizonte artigos das marcas Olympikus (própria) e Mizuno e Under Armour (licenciadas).
Essa é a segunda expansão pela qual a unidade de Horizonte da Vulcabras passa em 2024. Em junho, foi entregue a primeira ampliação do ano na fábrica, que expandiu em 8 mil metros quadrados (m²) o espaço. O investimento total girou em torno de R$ 30 milhões e levou a um aumento de cerca de 10% da produção, passando para 110 mil pares de calçados diários.
A nova ampliação em curso é menor do que a primeira (aumento de 5 mil m²), mas manteve o mesmo valor de investimento: R$ 30 milhões. Com as duas expansões, a planta da Vulcabras em Horizonte sai de 91 mil m² para 104 mil m².
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"A gente foi fazendo algumas ampliações. Terminamos uma no meio do ano e estamos em outra atualmente. Acho que a gente vai inaugurar perto de dezembro ou janeiro. É para aumento de capacidade de produção, mas também serve para aumentar ainda mais a nossa verticalização, que domina todas as etapas do processo. A gente está trazendo para o Ceará também um pouco mais do processo de toda a produção do calçado", explica.
O assunto foi tratado pelo próprio Pedro Bartelle durante a BFShow de maio. Na segunda edição do ano da feira de calçados, o presidente da Vulcabras olha para 2025 com a perspectiva de ampliar novamente a fábrica de Horizonte, desde que a empresa amplie a gama de marcas.
Essas ampliações nos parecem ser suficientes se a Vulcabras continuar com os mesmos negócios e marcas. Se a Vulcabras tiver a felicidade de adquirir um novo negócio — e sempre estamos próprios para isso — aí a gente vai ter que ampliar um pouco mais. Tudo isso depende de como vai ser a Reforma Tributária e a concorrência com a Ásia.
"Fábrica-modelo" no Ceará
A unidade de Horizonte ajuda a ilustrar o cenário da produção calçadista no Ceará, que em 2023, foi o maior fabricante de pares do Brasil, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Somente no ano passado, o Estado foi responsável por produzir quase 225 milhões de pares de calçados, superando o Rio Grande do Sul e a Paraíba, segundo e terceiro colocados. A indústria calçadista, até setembro de 2024, empregava 69 mil trabalhadores no Ceará.
No território cearense, a Vulcabras atua há quase 30 anos. Ao lado da Grendene, fundada por Pedro e pelo irmão, Alexandre Grendene Bartelle, as duas empresas são as maiores empregadoras.
A Vulcabras empregava, até o fim do primeiro semestre de 2024, mais de 11 trabalhadores no Ceará e é especializada na produção de calçados esportivos. A Olympikus, atualmente, tem 20% do faturamento associado a pares de alta performance, mercado que destaca a indústria brasileira, como aponta Pedro Bartelle.
"Daqui a pouco vamos fazer 30 anos de Ceará. Fomos pioneiros em desenvolver indústria calçadista. No início não foi fácil, porque precisava criar cultura, mas hoje temos fábricas no Nordeste que são iguais e, em alguns momentos, melhores do que as asiáticas. A Abicalçados prova que a indústria brasileira é melhor do que as asiáticas, só não somos competitivos porque os custos asiáticos são menores do que os nossos, principalmente em mão de obra", defende.
Além da unidade em Horizonte, a Vulcabras tem uma planta industrial em Itapetinga, no interior da Bahia. O diferencial da fábrica no Ceará, segundo Bartelle, é o processo de produção de calçados, que mantém a 'safra' de pares igual durante todo o ano.
"É uma fábrica-modelo porque, além de ter tudo isso para produzir, inventamos um sistema de produção único no mundo, entregamos todos os produtos todos os meses. É bem mais complexo fazer essa produção para poder entregar mensalmente produção para os nossos clientes. A dor ensina a gemer. Tivemos que fazer um sistema bem mais complexo para competir com os asiáticos. Não é o ideal, mas nos ajuda", expõe o presidente da companhia.
"Melhor ano da história"
Assim como no primeiro semestre, Pedro Bartelle celebra os bons resultados financeiros da Vulcabras. Empresa de capital aberto na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, a companhia registrou, no terceiro trimestre de 2024, lucro líquido de R$ 172,2 milhões, alta de 35% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O presidente da empresa reforça que a Vulcabras está "há 17 trimestres consecutivos crescendo", ou seja, vem tendo melhoria nos resultados positivos desde a segunda metade de 2020.
"Esse é o melhor ano da Vulcabras da sua história, os anuários já deram que somos a melhor empresa de moda e vestuário têxtil do Brasil. A gente vem em uma crescente muito boa, estamos com a perspectiva de continuar crescendo nos próximos trimestres e em 2025, mas não dependendo somente do mercado", comemora.
O crescimento da Vulcabras ocorre em um ano em que, na análise de Bartelle, "o mercado foi muito estacionado". Segundo o presidente da companhia calçadista, percalços na economia brasileira e internacional fizeram o crescimento ser menor do que o esperado, mas a tendência é de melhorias para 2025.
"A gente acredita que o mercado vai melhorar. Muitas incertezas econômicas fizeram com que o empresariado e os nossos clientes ficassem muito cautelosos para fazer investimentos de longo prazo. Isso deixou o Brasil um pouco parado na nossa visão. Para 2025, além de melhorar os nossos produtos, estamos investindo em novas frentes", projeta.
*O repórter viajou a São Paulo a convite da BFShow.